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LIÇÃO Nº 10 – O PERIGO DA BUSCA PELA AUTORREALIZAÇÃO HUMANA

lição 10

A vida cristã exige a renúncia de nós mesmos.    

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INTRODUÇÃO  

– Na sequência do estudo da epístola de Tiago, estudaremos a passagem de Tg.4:1-10.

– A vida cristã exige a renúncia de nós mesmos.

I – A INDEVIDA PREVALÊNCIA DO EGO HUMANO 

– Na sequência do estudo da epístola universal do Tiago, estudaremos a passagem de Tg.4:1-10, onde o irmão do Senhor nos apresenta mais um perigo que pode fulminar a nossa vida espiritual enquanto estamos na face da Terra: a prevalência do ego humano, da natureza pecaminosa do homem.

– Depois de ter falado sobre dois perigos que ameaçam a vida cristã sobre a face da Terra, quais sejam, a língua e a sabedoria animal, terrena e diabólica, Tiago fala-nos a respeito da indevida prevalência do ego humano, ou da natureza pecaminosa do homem, aquilo que o apóstolo Paulo chama de carne, que tantos transtornos causam, também, à vida cristã.

– Tiago começa a apresentação deste novo perigo para a nossa vida espiritual com uma pergunta: donde vêm as guerras e pelejas entre vós? (Tg.4:1a).

– Com esta indagação, Tiago mostra, claramente, que há, no ser humano, uma belicosidade, ou seja, um ambiente de guerra, uma luta que leva o homem não só a um conflito interior, mas, também, a um conflito com os demais seres humanos. Tiago é bem claro ao nos mostrar que o homem, em sua própria natureza, não é um ser pacífico, mas, sim, um ser belicoso, um ser que se inclina para a guerra, para a luta, para o conflito.

– Este pensamento de Tiago é extremamente coerente com o que havia acabado de afirmar a respeito da sabedoria animal, terrena e diabólica. Com efeito, quando dissertara acerca daquele outro perigo a ser evitado pelo salvo em Cristo Jesus, o pastor da igreja de Jerusalém havia dito, com todas as letras, que a paz vem do alto, pois somente a sabedoria que do alto vinha era pacífica (Tg.3:17).

– Ora, este pensamento de Tiago está em perfeita consonância com o que nos disse o Senhor Jesus, o Príncipe da Paz (Is.9:6), que, nas Suas últimas instruções aos Seus discípulos, fez questão de prometer que lhes daria a paz, paz que era diferente da do mundo, porque a paz de Cristo é verdadeira, enquanto a do mundo é pura ilusão (Jo.14:27).

– Esta promessa, aliás, foi rigorosamente cumprida pelo Senhor já na tarde do domingo da ressurreição, quando, ao Se apresentar aos Seus discípulos, que se encontravam trancados no cenáculo com medo dos judeus, por duas vezes, disse que lhes estava dando a paz (Jo.20:19,21), paz esta que jamais abandonaria a Igreja dali para a frente, pois, como diz o apóstolo Paulo, é a “paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp.4:5), a “paz de Deus, para a qual também fomos chamados em um corpo, que domina os nossos corações” (Cl.3:15).

– Somente a paz vinda de Deus, a paz concedida por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo pode fazer com que vivamos em paz não somente com Deus, o que se alcança mediante a justificação pela fé (Rm.5:1), fé esta que se comprova pelas boas obras que passamos a realizar (Tg.2:24), mas também que possamos viver em paz conosco mesmos e com o próximo, pois é algo que não vem de nós, não nasce em nós, mas é um dom que vem do alto, diretamente do céu, que nos permite viver em paz com todos enquanto isto depende de nós (Rm,.12:18).

– Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom”( )שלם , que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo. A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se disseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos. “…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais. A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim, lâmed e mem.

 A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom. Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que forem – financeiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, morais – conseguimos estar em paz; shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+paz, +Talmude&hl=pt-BR Acesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (DOUGLAS, J.D.. Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).

– Entende-se, portanto, porque somente teremos a verdadeira paz depois da salvação em Cristo Jesus, pois é o Senhor que nos torna a ter comunhão com Deus, completando-nos novamente, já que o homem foi criado para formar uma unidade com o seu Criador. Cristo Jesus pagou o preço dos nossos pecados, desta dívida que temos para com Deus e, portanto, só Ele pode nos dar a paz verdadeira, pois, depois de termos crido em Jesus, não temos mais dívida alguma diante de Deus.

– O homem, em sua natureza, porém, ou seja, na imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), não está em paz com Deus, encontra-se irremediavelmente inoculado com o vírus do pecado e, ao adquirir a consciência, escolhe fazer o mal e não o bem, motivo por que estará em inimizade contra Deus, em conflito com o seu Criador, não havendo, pois, qualquer paz, visto que está separado de Deus por causa do pecado (Is.59:2), ou, na feliz expressão do apóstolo Paulo, morto em seus delitos e pecados (Ef.2:1).

– Assim, já no interior do homem, vemos que não há paz, porque está ele separado de Deus, mas, sim, guerras e pelejas, um conflito interno em que o espírito, que é a parte do homem que faz ligação com Deus, é sufocado pela carne, esta natureza pecaminosa que herdamos dos nossos primeiros pais, carne esta que prevalece, já que o homem não consegue, por si só, salvar-se, chegar à amizade com Deus.

 OBS: “…A fonte de todas essas guerras está dentro do nosso próprio coração (4.1; 3.14,16). A essência do pecado é o <<egoísmo.» Eva caiu porque quis ser igual a Deus. Abraão mentiu porque queria se proteger (Gn 12.10-20). Acã causou derrota a Israel porque egoisticamente tomou o que era proibido. Somos como Tiago e João, queremos lugar especial no trono.…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo, p.82).

– Tiago, ao dizer que havia guerras e pelejas entre os homens, está a reproduzir aqui um conceito da sabedoria judaica, construído notadamente após o exílio da Babilônia, com um pouco de influência da religião persa, a respeito da “inclinação para o bem” e da “inclinação para o mal”, o que, em hebraico, é chamado de “Ietzer Tov” e “Ietzer Ha-Ra”.

– Para os judeus pós-exílicos, havia dentro do homem dois “…rivais implacáveis engajados numa batalha sem fim um frente ao outro(…) inclinações naturais dentro dos seres humanos, lutando sem cessar pela supremacia da mente e da alma, dentro do ‘reino do coração’ (…) antagonistas que habitavam dentro do homem, [que] não eram poderes absolutos e sim condicionais, sujeitos a controles morais da mente e às decisões de vontade.…” (AUSUBEL, Nathan. Ietzer Tov e Ietzer Ha-Ra. In: A JUDAICA, v.5, p.364).

– Esta realidade interna do ser humano foi, também, descrita pelo apóstolo Paulo, tanto na carta aos romanos (Rm.7,8) quanto na carta aos gálatas (Gl.5:16-26), quando se fala do conflito que existe entre a carne e o espírito, ou seja, entre a natureza pecaminosa natural do homem e a nova natureza, criada com a salvação em Cristo Jesus, quando o espírito, que se encontrava morto, separado de Deus, é reunido ao Senhor, pela salvação, passando, então, a gerar uma situação de conflito interno e real naquele que conhece a Jesus e alcança a salvação.

– É importante aqui observar que, quando Tiago fala das guerras e pelejas que há entre os cristãos, está a nos mostrar, com clareza, que este conflito é uma realidade na vida cristã. O homem, no pecado, está sob o domínio da carne, está completamente separado de Deus, de sorte que este conflito é bem menos intenso, porquanto, como o espírito está morto, há apenas a consciência a indicar que estamos a fazer coisas erradas, que estamos a pecar, mas não há a mínima condição de resistirmos à carne, pois, invariavelmente, pecamos, visto que o homem carnal não tem condição alguma de fazer o bem.

– Entretanto, quando somos salvos, nosso espírito é vivificado, tornamos a ter comunhão com Deus e, deste modo, o conflito se torna muito mais intenso, pois, agora, temos condição de resistir à carne, carne esta que tem de ser mantida crucificada com Cristo, já que, no instante da salvação, esta natureza não é retirada de nós, continua a conviver conosco, pois somente será debelada no momento da glorificação, último estágio da salvação.

– Por isso, há uma constante luta interna em cada salvo, pois, como afirma o apóstolo Paulo, “…a carne cobiça contra o espírito e o espírito contra a carne e estes opõem-se um outro para que não façais o que quereis” (Gl.5:17).

– Eis a razão pela qual o homem, no pecado, mesmo tendo consciência de que o está a fazer é pecado, peca sem muita dificuldade, não oferece qualquer resistência ao cometimento do pecado, enquanto o salvo, quando tentado para pecar, titubeia, resiste e sempre luta contra a prática pecaminosa, mesmo que, ao final do processo, venha a ceder e acabe por pecar.

– Quantas vezes, não resistimos a contar uma mentira, enquanto aquele que está ao nosso lado e que não é convertido peca com imensa facilidade? Quantas vezes não resistimos a cometer algum ato de impureza, enquanto o incrédulo o pratica com facilidade? Por que isto ocorre? Porque, entre os crentes, os salvos, há um conflito muito mais intenso entre a carne e o espírito, com o propósito de não virmos a pecar.

– Por isso, Tiago fala a respeito da existência de “guerras e pelejas entre nós”, querendo, com isso, em primeiro lugar, mostrar a luta interna que todo cristão sofre, da luta entre a nova criatura e o velho homem, razão por que Paulo diz que o que importa é que sejamos novas criaturas, ou seja, que venhamos sempre a dar vazão ao nosso espírito, que está em comunhão com o Espírito Santo, Espírito este que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm.8:16).

– Esta paz que vem de Deus, portanto, permite-nos superar o conflito interno sobremaneira intensificado com a nossa salvação, fazendo-nos com que desfrutemos desta comunhão que passamos a ter com o Senhor, comunhão esta que nos faz vencer o pecado e nos manter em santidade, aguardando a glorificação.

– No entanto, este conflito pode fazer-nos perder esta paz com Deus. Tiago, respondendo à pergunta que fizera, mostra-nos que este conflito pode ter um outro fim, se dermos vazão aos deleites que em nossos membros guerreiam (Tg.4:1b).

– Se não mantivermos a nossa carne crucificada com Cristo, com suas paixões e concupiscências (Gl.5:24), se deixarmos que o velho homem desça da cruz, traremos enorme prejuízo à nossa vida espiritual, pondo em risco a nossa própria salvação.

– Quando deixamos a carne se manifestar e prevalecer, passamos a nos guiar pela sua concupiscência, ou seja, pelos seus desejos desenfreados, que não conseguimos conter por nós mesmos e, neste desequilíbrio, cometemos pecado, porquanto, como diz Tiago, quando atraídos e engodados pela nossa própria concupiscência, concebemos o pecado, que é, então, gerado, trazendo, então, a morte (Tg.1:15), pois o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).

– Se damos vazão à carne, aos deleites que em nossos membros guerreiam, acabamos por cometer pecado e deixamos prevalecer o nosso “eu”, o velho homem, que devia estar crucificado com Cristo.

– Nesta prevalência do ego, da carne, acabamos por entrar em conflito com o próximo também. Com efeito, na medida em que nos deixamos guiar pelos nossos instintos, a querer prevalecer a carne, tornamo-nos individualistas, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus (II Tm.3:1-4) e, por conseguinte, o outro passa a ser um obstáculo para a satisfação de nossos desejos, vez que o egoísmo é a marca daquele que é guiado pela carne.

– Não é por outro motivo que o irmão do Senhor afirma que, quem é assim guiado, cobiça embora nada tenha. Uma característica primeira daquele que se deixa vencer pela carne é, precisamente, a cobiça, a concupiscência, como já dissemos, e, neste passo, Tiago faz-nos lembrar um adágio popular que diz que “quem tudo quer, nada tem”.

– Quando a pessoa é dominada pela carne, pela concupiscência, é alguém que se apresenta eternamente insatisfeito. Nada lhe satisfaz, está sempre a procurar mais e mais deleites, mais e mais prazer, mais e mais dinheiro, mais e mais perversão.

São pessoas que se encontram sempre frustradas, porque não têm controle sobre as suas paixões e concupiscências, buscando nas coisas desta vida algo que lhes possa preencher o vazio que têm dentro de si, vazio este que é do tamanho de Deus e que, portanto, jamais poderá ser suprido por alguém senão o próprio Deus.

– Esta busca incessante pela satisfação das paixões e concupiscências leva o homem a um distanciamento cada vez maior do Senhor, porque, nesta busca, o que se pratica é tão somente o pecado, e, como diz o salmista, um abismo chama outro abismo (Sl.42:7), numa degradação cada vez mais intensa, como registra o apóstolo Paulo no primeiro capítulo da sua carta aos romanos, levando à completa corrupção do gênero humano, a ponto de o próprio Deus acabar por abandoná-los em suas paixões infames (Rm.1:26).

– A cobiça desenfreada gera a privação de tudo, pois, quem se deixa guiar pela concupiscência, perde a comunhão com Deus e, sem Deus, somos menos que nada (Is.40:17; 41:24), uma coisa vã, visto que estaremos sempre a correr atrás das coisas desta vida, que, em sua totalidade, sem o Criador, são vaidade, como nos dá conta Salomão no livro de Eclesiastes (Ec.1:2; 12:8).

– Quando deixamos que a carne nos vença, que volte a prevalecer em nossas vidas, tornamo-nos homens vãos, visto que deixamos de confiar em Deus, passamos a desconsiderá-lo, pois damos vazão ao nosso “eu”, que, enganado pela mentira satânica da autossuficiência, quer viver como se Deus não existisse, quer viver sem levar Deus em conta. Tornamo-nos homens vãos, homens vazios, que, por isso mesmo, não têm fé e, consequentemente, não produz boas obras, tendo uma fé morta em si mesma (Tg.2:20).

– O homem, nesta condição, somente produz as obras da carne, que foram mencionadas por Paulo em Gl.5:19- 21, que não é uma lista exaustiva, mas exemplificativa, entre as quais se encontram as inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas e dissensões, ou seja, conflitos com o próximo, fazendo com que se tenha o que o filósofo político inglês Thomas Hobbes (1588-1679) denominou de “guerra de todos contra todos” e descreveu o homem como sendo “o lobo do homem”.

– Assim, Tiago mostra como é danoso haver conflitos entre os irmãos e, sendo, como era, um pastor, o irmão do Senhor bem sabia da realidade de conflitos entre cristãos no seio da comunidade local, e, com toda autoridade, demonstra que a existência de “guerras e pelejas entre nós” é um sinal de prevalência da carne, de falta de santidade entre os cristãos, de brechas que se abriam, mesmo nas igrejas locais, para que o velho homem se manifestasse e deixasse de se manter crucificado com Cristo.

– Nos dias de apostasia espiritual em que vivemos, é bem nítida esta situação de intensa conflituosidade que existe entre os que cristãos se dizem ser, notadamente nas igrejas locais. Há um individualismo muito grande, uma falta de consenso, um dissenso que leva, inclusive, ao surgimento de cada vez mais igrejas e denominações, porque não há qualquer capacidade de reconciliação, perdão ou tolerância.

 A que se deve isto? À prevalência da carne em muitas vidas, ao sucumbir do homem às suas paixões e concupiscências. Temos resistido à carne, temos mantido o velho homem crucificado com Cristo? Pensemos nisto!

– Por isso, entendemos ter razão alguns comentaristas bíblicos que entendem que Tiago contemplava, entre as “doze tribos dispersas”, conflitos e lutas entre cristãos, que muito o desapontavam e que são aqui recriminadas pelo irmão do Senhor. Tal entendimento, aliás, reforça que a carta deve ter sido escrita precisamente durante os conflitos evidenciados entre os judaizantes e os que seguiam as resoluções do concílio de Jerusalém, ou seja, no final da década de 50 e início dos anos 60 da Era Cristã.

– A prevalência da carne produz muito mal ao relacionamento com o próximo, a ponto, inclusive, de eles não serem mais considerados irmãos, mesmo se forem salvos. É que Tiago, uma vez mais, aponta como uma característica desta inclinação carnal a inveja. “Sois invejosos, e cobiçosos, e não podeis alcançar” (Tg.4:2 “in medio”).

– A inveja, que Tiago já apontara, como vimos na lição anterior, como uma característica da sabedoria animal, terrena e diabólica, é mais uma vez mencionada aqui como sendo um sinal indicador da falta de uma genuína e autêntica comunhão com Deus por parte daqueles que diziam ter fé, mas que tinham a sua aparência de piedade negada pelas suas atitudes, pelo seu comportamento.

– Quando somos guiados pela carne, tornamo-nos individualistas e, consequentemente, surge em nós a inveja, pois não podemos suportar o sucesso do outro, não podemos imaginar a bênção para o outro, a própria existência do outro, a menos que seja um mero instrumento para a satisfação do nosso ego.

– A insatisfação permanente, resultado do descontrole de nossas paixões e concupiscência, faz com que jamais alcancemos a felicidade ou o bem-estar, visto que isto é impossível de ser alcançado quando nos voltamos apenas para nós mesmos e buscamos única e exclusivamente as coisas desta vida. Esta frustração redunda num ressentimento, num recalque que nos leva ao ódio do outro, ao inconformismo com o sucesso do outro, sucesso este, aliás, que, muitas vezes, é fruto exclusivo de nossa imaginação, da nossa insatisfação perene.

– Como não se obtém a satisfação nem a felicidade em coisa alguma que se busca desenfreadamente neste mundo, o homem passa a desejar a frustração do outro, o mal do próximo, para que ele também não alcance aquilo que tanto se almeja ou perca o que tenha conquistado.

Perde-se, então, toda e qualquer noção de fraternidade, que é sublimamente demonstrada nas Escrituras na irônica e cínica declaração que Caim dá ao Senhor, quando indagado sobre Abel: “Sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9 “in fine”). Por isso, Caim é dito como sendo do maligno (I Jo.3:12), precisamente porque, tendo obras más, matou seu irmão, que tinha obras justas, porquanto, em seu caráter maligno, não podia alcançar o bem.

– Os mestres judeus já ensinavam que “…Todos em Israel  são companheiros. Assim dizem os credos da solidariedade judaica de grupo que foram enunciados com convicção profunda pelo povo judeu durante mil anos. Daí advém a obrigação fundamental de cada irmão proteger e cuidar do bem-estar do outro. Insistia Maimônides [grande comentarista da Torah e filósofo judeu, que viveu entre 1138 e 1204, observação nossa]: ‘Um homem deve falar elogiando seu vizinho, e cuidar das posses dele como cuida das suas próprias, e almeja a sua própria honra’. Contrariamente, acrescentava ele: ‘Quem quer que se deleite com a vergonha de seu semelhante não terá sua parte no Mundo-do-Além’…” (AUSUBEL, Nathan. Valores éticos judaicos. In: A JUDAICA, v.6, p.899).

– Tiago revela este mesmo pensamento, já incrustado entre os sábios judeus, de que devemos ter a consciência de que somos irmãos, de que pertencemos ao mesmo povo, que temos a Deus como Pai (Tg.1:17) e que, portanto, devemos nos alegrar com os que se alegram (Rm.12:15), sabendo que toda boa dádiva vem do Pai e que o bem-estar do nosso irmão é uma razão para glorificarmos a Deus, um sinal de que somos, realmente, filhos de Deus e estamos em comunhão com Ele.

– É por isso que o apóstolo Paulo disse que a paz de Deus nos é dada com o propósito de formarmos um corpo (Cl.3:15), o corpo de Cristo (I Co.12:27), e, tendo consciência de que somos participantes de um corpo e, por conseguinte, membros uns dos outros, dominados por esta paz, sempre sejamos agradecidos a Deus.

– Neste ponto, lembremos que a celebração a ceia do Senhor é uma declaração que fazemos diante de Deus e dos homens que estamos em comunhão com os irmãos e com o próprio Senhor Jesus e, por isso mesmo, trata- se de um momento de ação de graças (“eucaristia” em grego). Somente é agradecido aquele que tem consciência de que faz parte do corpo e que, portanto, quando um membro em particular deste corpo é bem sucedido, abençoado, isto é razão para agradecermos e glorificarmos a Deus, porquanto todo o corpo é beneficiado.

O verdadeiro cristão não tem prevalência do “eu”, mas substituiu este “eu” pelo “nós”, sente-se integrante do corpo de Cristo e, como tal, mera “parte” que se regozija com as demais “partes” e que é totalmente controlado pela “cabeça”, que é Cristo Jesus (Ef.1:22; 5:23).

– Somente serem verdadeiros e genuínos salvos na pessoa de Cristo Jesus se não somente dissermos na ceia do Senhor que temos comunhão uns com os outros e com o Senhor, mas se esta declaração for efetivadas, comprovada por meio de nossas ações, o que implica em dizer que não podemos ser guiados pela carne, não podemos ter qualquer prevalência do ego em nossa conduta e comportamento, pois não mais vivemos, mas Cristo vive em nós.

– Se nossa declaração, porém, for falsa, estaremos deixando de discernir o corpo do Senhor e estaremos, por isso mesmo, participando da mesa do Senhor tão somente para a nossa condenação (I  Co.11:27-30), pois estaremos a confessar a nossa própria morte espiritual. Pensemos nisto!

II – AS CONSEQUÊNCIAS DA PREVALÊNCIA DO EGO NO RELACIONAMENTO COM DEUS

– Já vemos, com clareza, que a circunstância de nos deixarmos vencer pela carne é desastrosa em nossa vida espiritual, pois nos leva ao pecado e, como Tiago já disse, o pecado gera a morte e não há desastre maior para a vida do que a morte.

– Todavia, o irmão do Senhor faz questão de mostrar que, quando passamos a dar vazão aos deleites, à carne, tem-se um imediato prejuízo em nosso relacionamento com Deus, que pode chegar ao ponto da morte espiritual.

– O primeiro ponto trazido pelo pastor da igreja de Jerusalém é que a busca desenfreada pelas coisas desta vida, causada pela concupiscência que passa a imperar na vida que se deixam vencer pela carne, é uma autossuficiência, que nos leva a deixar de pedir as coisas para Deus.

– A autossuficiência é o sentimento que o homem, no pecado, passa a ter de que não precisa de Deus, que pode viver sem Ele. É um verdadeiro “ateísmo prático”, de que já falamos em lições anteriores, que é viver como se Deus não existisse, ainda que se diga crer na existência de Deus.

– Tal sentimento nada mais é que a crença na mentira satânica dita a nossos pais de que eles seriam “iguais a Deus, sabendo o bem e o mal”, de que eles poderiam viver e ser felizes independentemente de Deus.

– O avanço da tecnologia, a multiplicação da ciência têm sido fatores decisivos para que os homens deixem Deus de lado de seu dia-a-dia, num ambiente que se denomina de “secularismo”, um “…sistema ético que rejeita toda forma de fé e devoção religiosas e aceita como diretrizes apenas os fatos e influências derivados da vida presente…”, o estabelecimento de um modo de vida que desconsidera completamente o que é espiritual, o que é transcendente.

– Infelizmente, não são poucos os que cristãos se dizem ser que vivem desta mesma maneira, lembrando-se de Deus única e exclusivamente nos momentos habituais de ida à igreja, onde desenvolvem uma religiosidade meramente formal, que não corresponde à realidade de suas vidas, que estão dominadas pelo pecado e pela prevalência de suas próprias vontades.

– Um dos resultados desta autossuficiência desta vida prática sem Deus é a ausência de oração. Como diz Tiago: “nada tendes porque não pedis” (Tg.4:2 “in fine”).

– Quando vivemos como se Deus não existisse, lamentavelmente nada pedimos a Ele, porque achamos que Deus está muito ocupado com coisas mais importantes ou, ainda, que podemos resolver as coisas sem qualquer necessidade de recorrermos a Deus.

Não pedimos coisa alguma a Deus, ou quase nada a Deus, porque achamos que podemos viver sem Ele, que podemos tornar concretos os nossos sonhos e ambições, a nossa cobiça, sem se importar com a vontade de Deus, com o que Ele queira de nós.

– É muito triste uma tal situação, que se verifica na vida de muitos sedizentes cristãos. Eles somente se lembram de Deus quando surgem situações que, apesar de seus esforços, eles não conseguiram contornar, como uma doença incurável ou outra adversidade onde se tomaram todas as providências e atitudes humanas que se revelaram inúteis.

Assemelham-se, neste passo, aos discípulos que se esgotaram e sentiram a proximidade da morte no mar da Galileia, embora Jesus estivesse no barco desde o início da tempestade (Mt.8:23-27; Mc.4:35-41; Lc.8:22-25).

– Quando não pedimos a Deus, certamente nada receberemos d’Ele. Não pedimos a Deus porque nos achamos autossuficientes e entendemos que podemos viver sem Ele. No entanto, o Senhor Jesus nos ensina exatamente o oposto, quando nos diz que sem Ele nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”).

OBS: “…O coração que se infla é duro, sem piedade, sem contrição e privado de todo orvalho da graça espiritual, pois ‘Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes’ (Tg.4:6)…” (CLARAVAL, Bernardo de. Sermão primeiro: Incerteza e brevidade da vida. Cit.Tg.4:4-10, n.1. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 08 jul, 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– Nos dias em que vivemos, não são poucos que consideram “fanáticos”, “supersticiosos”, “ignorantes”, “primitivos” aqueles que tudo pedem a Deus, que tudo atribuem a Deus e que não movem uma palha sem que antes consultem a Deus, queiram saber qual é a vontade de Deus. No entanto, estes são os verdadeiros servos de Deus, são os que realmente sabem viver sobre a face da Terra, porque compreenderam que não podemos viver sem Deus e que jamais alcançaremos coisa alguma se não estivermos em perfeita consonância com a vontade do Senhor.

 OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui o diz a respeito o Catecismo Romano: “…Em semelhantes condições, quem, pela graça de Deus tenha conseguido dissipar as trevas do mal que ofuscam seu espírito e, debaixo do látego das paixões, geme pela luta estabelecida entre a carne e a sua alma, atormentado pelo espírito do mal que se arrasta, como poderá de deixar de sentir o desejo ardente de uma ajuda e a necessidade de uma força superior que, de algum modo, o salve?

 Como não há de implorar com urgência uma lei saudável a que possa conformar a sua vida de cristão? E é isto precisamente o que pedimos quando oramos: Faça-se a Tua vontade. Por rebelião e desobediência à lei divina, caímos e é de novo a Sua vontade e lei o remédio eficaz que Deus oferece a quem invoca Sua ajuda para que, conformando nossos pensamentos e obras, alcancemos de novo a salvação.

E com este mesmo fervor devem pedir este cumprimento da vontade de Deus quem vive em Deus e, em cujo coração — iluminado com a luz inefável e o gozo do amor — reina já como soberano o querer divino. Porque também neles — ainda que vivam em graça — subsiste a luta e subsistem as más tendências, ínsitas no profundo de nossos ser.

 A vida de todo cristão, por privilegiado que seja, desenvolve sempre em perigos contínuos de volubilidade e sedução, porque nos membros de todos permanecem ativas as concupiscências, que podem desviar-nos, a qualquer momento, do caminho da salvação (cada um é tentado por suas próprias concupiscências, que o atraem e seduzem (Tg.1:14 cf. Tg.4:1).…” (CATECISMO ROMANO. Quarta parte. Capítulo IV – Terceira petição do Pai Nosso. Cit. Tg.4:1-3, n.4300. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 08 jul. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Para uma tal atitude, torna-se imperioso que neguemos a nós mesmos, que é o primeiro passo para quem quer seguir a Cristo (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). Somente quando deixamos o nosso ego de lado, negamos a seguir a sua orientação que nos conduzirá ao pecado, querendo, antes, ouvir a voz do Senhor para saber que rumo devemos tomar, poderemos iniciar um relacionamento com Deus, ser guiados por Ele e, deste modo, fazer a Sua vontade, alcançando a felicidade e o bem-estar que todo homem almeja e que está na comunhão com seu Criador.

– Mas há um outro elemento que perturba o nosso relacionamento com Deus por causa da vazão que se dá à carne e que é o que podemos denominar aqui de petulância da carne, ou seja, o atrevimento, a tendência a insultar Deus que advém da natureza pecaminosa.

– Tiago fala disso ao dizer que, enquanto muitos não pedem, outros pedem mal, ou seja, pedem a Deus que lhes satisfaça a carne, que lhes conceda aquilo que a carne está a desejar, como se Deus estivesse a serviço do ego humano.

 OBS: “…Desejos egoístas são coisas perigosas. Eles levam a ações erradas (4.2).E eles levam a orações erradas (4.3). Tiago agora se move do relacionamento errado com outros irmãos para um relacionamento errado com Deus. Quando as nossas orações são erradas, toda a nossa vida está errada. Nossas orações não são respondidas quando há guerras entre os irmãos e paixões dentro do coração…” (LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo, p.82).

– Esta situação é ainda mais grave que a do ateísmo prático. Aquele que não pede a Deus, porque vive como se Ele não existisse, é uma pessoa que é indiferente em relação ao Senhor, o que se constitui, obviamente, num comportamento inadmissível, de rebeldia, pois é uma desconsideração para com a soberania divina.

– No entanto, o petulante de que agora estamos a falar, reconhece que Deus existe e que está pronto a atuar, mas, numa atitude ainda mais grave, considera que Deus está pronto a servir a seus deleites, a satisfazer os seus caprichos. Em outras palavras: transforma Deus, que é Senhor, em seu servo, em seu serviçal, achando- se, desta maneira, superior Àquele que o criou.

– Se já é grave achar “igual a Deus” e, deste modo, prescindir, dispensar de Deus na sua vida, a ponto de nada pedir a Ele, muito mais grave é achar-se “superior a Deus”, o mesmo sentimento que o inimigo de nossas almas teve quando se achou iniquidade nele (Ez.28:15), ou seja, seu desejo de “subir acima das mais altas nuvens” (Is.14:14).

– Nos dias em que vivemos, tem sido comum encontrar pessoas que se dizem salvas em Cristo Jesus e que se comportam desta maneira, porque entendem que o Senhor “é obrigado” a satisfazer os seus desejos, os seus caprichos, que é possível “determinar” o que Deus deve fazer, como se ele fosse um garçom pronto a satisfazer o freguês.

– Este atrevimento não é atendido pelo Senhor, pois se constitui numa ofensa à Sua soberania e este tipo de ofensa é algo extremamente grave. Saul, o primeiro rei de Israel, atentou contra a soberania de Deus e foi este um dos fatores que levou à sua rejeição da parte do Senhor, enquanto que Davi, embora tenha cometido graves pecados, jamais atentou contra a soberania divina, sendo este um dos fatores que fez com que alcançasse a misericórdia divina.

– Quem pede a Deus para que Este satisfaça os seus caprichos, para que sejam concretizados seus sonhos motivados por sua cobiça, por seu ego, é pessoa que pede mal e que, portanto, nada receberá, correndo, ainda, o risco de, por atentar contra a soberania divina, ser até rejeitado pelo Senhor no limite. Tomemos cuidado, amados irmãos! 

Não nos deixemos levar por estes ensinos satânicos que querem tão somente nos levar mais rapidamente à rejeição divina, à apostasia espiritual!

OBS: “…É isto o que faz todo homem que busca, além do necessário, as coisas da terra, que persegue a glória do mundo e a volúpia; Esta é a oração que os homens do mundo endereçam ordinariamente a Deus, quando Lhe pedem os bens temporais, a morte de seus inimigos e outras coisas semelhantes…” (CLARAVAL, Bernardo de. Sermão 25: sobre as palavras do apóstolo: “Adomoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens”. Cit. Tg.4:1-3, n.25. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm  Acesso em 08 jul. 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– Tiago, então, revela qual o motivo de exsurgir este atrevimento: o adultério espiritual. O irmão do Senhor chama de adúlteros e adúlteras àqueles que vão à presença de Deus para que o Senhor lhes satisfaça os caprichos, os desejos desenfreados da carne.

– Por primeiro, cumpre observar que a expressão utilizada por Tiago, ou seja, “adúlteros e adúlteras”, revela que, na igreja, não há discriminação entre homens e mulheres, que ambos são tratados igualmente por Deus, Deus este que não faz acepção de pessoas. Tem-se aqui, pois, mais uma demonstração de que a Bíblia não é machista, como alguns incautos ou mal-intencionados têm feito questão de frisar na atualidade.

– Ir à presença de Deus para pedir que Este satisfaça a carne é demonstrar infidelidade espiritual, é a maior demonstração de adultério espiritual, pois, como se está a desejar algo proveniente da carne, está-se a declarar que se vive em pecado, que há uma amizade com o mundo, que o pedinte está a amar o que no mundo há e, por conseguinte, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15). OBS: “«Não tendes, porque não pedis.

 Pedis e não recebeis, porque pedis mal, pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões» (Tg.4:2,3. Cf. todo o contexto de Tg 1:5-8; 4:1-10; 5,16,). Se pedirmos com um coração dividido, «adúltero» (Tg.4:4), Deus não pode atender-nos, pois quer o nosso bem, a nossa vida. «Ou pensais que a Escritura diz em vão: “o Espírito que habita em nós ama-nos com ciúme”?» (Tg.4:5). O nosso Deus é «ciumento» de nós e isso é sinal da verdade do seu amor. Entremos no desejo do seu Espírito e seremos atendidos…” (§ 2737 CIC).

– Ao mesmo tempo em que se está a viver no pecado, a procurar as coisas desta vida, a dar vazão à carne, a pessoa, entretanto, vai à presença de Deus, pedindo-Lhe que satisfaça este desejo carnal, que use de Seu poder para que aquele capricho seja alcançado. Ora, a pessoa, que está amando o mundo, vem diante de Deus e, em nome do compromisso que assumiu com o Senhor anteriormente, pede a Ele que intervenha a favor de seu deleite, de sua concupiscência.

– Assim agindo, a pessoa está, a um só tempo, querendo servir a Deus e ao mundo, amar a Deus e ao mundo e isto é próprio de quem é adúltero, pois o adúltero não é fiel ao seu cônjuge, a quem prometeu amar até a morte, estando, na verdade, a se comprometer e a amar outrem.

– Tiago, uma vez mais, não inova, pois os profetas já haviam se utilizado da figura do adultério para ilustrar a infidelidade espiritual de Israel, sendo caso emblemático o de Oseias, que viveu um real adultério em sua vida para que fosse simbolizado o estado espiritual de infidelidade do povo do reino do norte (Os.2,3).

 OBS: “…Em Oseias este tema encontra sua mais aguda expressão. O casamento do profeta com uma prostituta infiel é usado para espelhar a infidelidade de Israel diante do Senhor. Israel “se prostituiu” (2:5), abandonando seu “primeiro marido”, o Senhor, a fim de ir atrás de outros “amantes”, Baal e outros falsos deuses (2:7).

 Mesmo assim, o Senhor promete demonstrar misericórdia a seu povo; este novamente o chamará ‘meu marido’ (2:16), pois o Senhor promete: ‘… desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor’ (2:20). Jesus empregou esta figura, chamando aqueles que o rejeitaram de “geração adúltera” (Mt 12.39; 16.4). Conforme mostram estas referências, semelhante tradição sempre retratou o Senhor como o ‘marido’ e Israel como a ‘esposa’.…(MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Trad. de Robinson Malkomes. Edição digital,  pp.142-3).

– Assim como o casamento simboliza a aliança que Deus estabeleceu com Israel e a Igreja, com Cristo, o adultério também figura a infidelidade subsequente daqueles que se deixam levar pelo mundo e rompem a aliança e o compromisso assumidos com o Senhor.

– Tiago não usa de meias palavras, diz que estes que assim se comportam se tornam em inimigos de Deus, visto que a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tg.4:4), algo que será repetido por João em sua primeira carta (I Jo.2:15-17).

– Jesus veio restabelecer a amizade entre o homem e Deus. Foi isto que o Senhor prometeu aos primeiros pais quando eles ainda estavam a sofrer o juízo pelo seu pecado (Gn.3:15), sendo esta a essência do Evangelho, ou seja, das boas novas de salvação aos homens.

No entanto, quem se deixa vencer pela carne e, de forma atrevida, ainda pede a Deus que seus desejos carnais sejam satisfeitos, torna-se um inimigo de Deus, desfaz, por completo, a obra salvadora de Cristo em sua vida e, certamente, assim fazendo, põe-se em grave risco de sofrer a rejeição divina, já que, como diz o escritor aos hebreus, “…se pecarmos voluntariamente,  depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fofo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas.

De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano  o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb.10:26-29).

– Percebemos, portanto, amados irmãos, como é extremamente grave a adesão a esta falsa “teologia da confissão positiva”, que estimula e incentiva este atrevimento de que estamos a falar e que, juntamente com a sua coirmã, a “teologia da prosperidade”, está a fazer com que as pessoas queiram Cristo Jesus única e exclusivamente para satisfazer desejos carnais, como a prosperidade econômico-financeira, o enriquecimento, a saúde física, a fama e tantos outros prazeres mundanos e profanos.

– Tais “teologias”, urdidas nas profundezas do inferno, querem tão somente levar os servos de Deus ao adultério espiritual, a uma situação de imenso risco de rejeição, não sendo à toa que o apóstolo Paulo tenha dito que quem assim procede se constitui na classe “dos mais miseráveis de todos os homens” (I Co.15:19).

– Acordemos, amados irmãos, enquanto é tempo. Excluamos de nossos púlpitos e de nossas mentes as mensagens destes agentes de Satanás, que tantos males têm trazido ao povo de Deus, porque temos de ser fiéis ao Senhor, porque somos a Sua noiva e não podemos, de modo algum, amar o mundo nem o que no mundo há. Não podemos, de forma alguma, romper nossa aliança e compromisso assumidos com o Senhor, devemos perseverar até o fim e nos manter fiéis até a morte. Não podemos desprezar o amor do Pai, o amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm.5:5).

– O caminho para impedirmos que isto aconteça conosco é o da humilhação, ou seja, o de nos apresentarmos diante de Deus com humildade, reconhecendo que somos menos do que nada e que dependemos de Deus em todas as coisas e que estamos prontos a fazer-Lhe a vontade, pois Ele é o Senhor e nós, pela Sua graça, nossos servos.

OBS: “…Por que a humildade eleva o homem à altura da santidade, enquanto que a presunção precipita no abismo do pecado? Vejam. Aquele que se toma como importante diante de Deus é, a justo título, abandonado por Deus, visto que pensa que não precisa de Seu socorro. O outro que reconhece que nada é e que, em razão disto, volta-se para a misericórdia divina, encontra, por justa razão, a compaixão, a assistência e a graça de Deus.

As Escrituras dizem, com efeito: o Senhor resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (cf. Pv.3:34 grego; Tg.4:6; I Pe.5:5).…” (PALAMAS, Gregório. Homilia 2; PG 151, 17-20,28-29. Cit. Tg.4:4-10, Homiliário patrístico n. 200. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 08 jul, 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– Não temos que ter qualquer receio em nos humilharmos diante de Deus, pois Ele nos ama e Seu Espírito habita em nós e tem ciúmes (Tg.4:5). Esse ciúmes, como diz o comentarista da Bíblia de Jerusalém, quando comenta Dt.4:24, “é o próprio excesso do amor” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, nota c, com. Dt.4:24, p.263). Como afirma Russell Norman Champlin: “…as palavras gregas, ‘pros phthonon’ (πρός φθόνον) significam ‘ao ponto do ciúme’.

O Espírito Santo anela até esse ponto; essa é a medida de Seu anelo por nós. (…). O vocábulo grego ‘epipotheo’(έπιποθεω) tem a ideia de ‘anelo’, isto é, ‘afeto’ pelo ser amado, desejando o seu retorno…” (Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.6, com. Tg.4:5, p.65).

– Quando Tiago nos diz que o Espírito, que habita em nós, tem ciúmes, está, portanto, a nos dizer que Ele nos ama muito, a ponto de desejar sempre estar conosco, de ter prazer em estar junto a nós, em nos querer bem. Por isso, não temos que ter receio algum em nos humilharmos diante d’Ele, em fazer-Lhe a vontade, pois isto sempre será o melhor para nós.

– Se negarmos a nós mesmos, teremos condição de fazermos a vontade de Deus e, assim, receberemos d’Ele maior graça, ou seja, favores imerecidos, dádivas que Ele quer nos dar e que realmente contribuem para o nosso crescimento espiritual e para a nossa felicidade, ainda que nós não os tenhamos desejado ou querido conscientemente.

– Como diz o comentarista da Bíblia de Jerusalém: “…Deus pôs em nós algo do Seu Espírito, o qual nos leva a desejar aquilo que Deus deseja; eis como as nossas petições são atendidas (cf. Mt.18:19-20; Jo.14:13 e s.)…”(nota a, com. Tg.4:5, p.2111).

– Quando renunciamos a nós mesmos, não damos vazão à nossa carne, passamos a desfrutar de uma comunhão cada vez mais intensa com o Senhor e cumprimos o Seu objetivo de formar com Ele uma unidade, assim como o Pai e o Filho, de modo que, do mesmo modo que Pai e Filho são um (Jo.10:30), querendo e realizando as mesmas coisas, também passamos a querer o mesmo que Deus quer.

– Esta unidade de desejos e propósitos entre nós e Deus é que explica que tudo quanto pedirmos em Seu nome será atendido (Jo.14:13,14; 15:7). Tudo que pedirmos, num estado de comunhão com Deus, será exatamente aquilo que Deus quer, pois somente desejaremos aquilo que Deus deseja e, deste modo, nada impedirá que se realize, pois ninguém pode impedir que o desejo de Deus se efetue (Is.43:13; Fp.2:13).

– O salvo em Cristo Jesus tem plena consciência de que é um servo de Deus, que Deus é o seu Senhor e, portanto, sujeita-se a Ele, faz o que Ele quer, faz o que Ele manda, não tem vontade própria, pois sabe que Deus o ama e que tudo o que Deus fizer será sempre o melhor para nós.

– A humilhação significa a sujeição a Deus, a obediência a Ele e à Sua Palavra. Pedro aconselha-nos a nos humilhar debaixo da potente mão de Deus pois, se assim o fizermos, a Seu tempo, Ele nos exaltará (I Pe.5:6), exaltação esta que, como Tiago nos ensina, dar-se-á quando da glorificação, quando se completará o processo da nossa salvação, pois não se trata de exaltação nas coisas humanas, mas, sim, de reconhecimento de que tudo neste mundo é vaidade e o que vale realmente a pena é estarmos prontos para encontrar com o Senhor nos ares (Tg.1:9-12).

– Devemos nos sujeitar a Deus e é isto que significa o que o Senhor Jesus denomina de “tomar a sua cruz e segui-l’O” (Mt.10:38; 16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). A cruz aqui representa a vontade de Deus para as nossas vidas. Foi esta a vontade do Pai para com o Seu Filho, que morresse na cruz em nosso lugar, e, de igual modo, devemos tomar a cruz, morrer para ressuscitarmos com Cristo em novidade de vida (Rm.6:4), vida esta que deve ser vivida na fé do Filho de Deus (Gl.2:20).

– Esta realidade espiritual básica da vida cristã é ilustrada pelo batismo nas águas, quando, de modo público, confessamos a nossa fé em Cristo. No batismo, somos imersos, ou seja, somos sepultados, representando, com isso, que o nosso velho homem morreu, e emergimos para dizer que ressuscitamos com Cristo, não mais para vivermos para nós mesmos, mas, sim, vivermos para Deus, fazendo-Lhe a vontade, que é a cruz. Somente assim, podemos seguir Suas pisadas e chegar aos céus, para onde Ele foi depois de ter ressuscitado e peregrinado, ainda, por quarenta dias nesta Terra.

– Se não nos sujeitarmos a Deus, não há como chegarmos aos céus, não há como alcançarmos a glorificação. É indispensável que aceitemos o senhorio de Cristo em nossas vidas para com Ele compartilharmos da Sua glória. A obediência precede a glória. A honra segue adiante da humildade(Pv.18:12).

– Quando nos sujeitamos a Deus, unimo-nos Àquele que maior do que o está no mundo (I Jo.4:4) e, portanto, temos condição de resistir ao diabo e, diante desta resistência invencível, o inimigo de nossas almas fugirá de nós (Tg.4:7).

– Quando renunciamos a nós mesmos e passamos a fazer a vontade de Deus, unindo-nos a Ele, o Espírito, que habita em nós, faz com que o diabo não tenha qualquer poder sobre a nossa vontade, temos condição de resistir a todas as suas sugestões e propostas. Nossa carne mantém-se crucificada com Cristo e nada pode fazer. Por fim, o mundo não nos atrai, porque, unidos com o Senhor, não o amamos. O resultado é que vencemos todos os causadores da tentação e nos mantemos em santidade, porque não pecamos.

– Para que isto ocorra, entretanto, faz- se necessário que nos santifiquemos, que nos afastemos cada vez mais do pecado e do mundo e nos aproximemos cada vez mais do Senhor. A santificação é este processo de simultâneos distanciamento do pecado e aproximação de Deus.

– Por isso, o irmão do Senhor diz que devemos nos chegar a Deus e Ele Se chegará a nós. Quanto mais nos aproximarmos de Deus, e o salmista Asafe diz que coisa boa é aproximar-se d’Ele (Sl.73:28), mais Ele estará próximo de nós, pois Ele nos ama tanto e quer tanto a nossa companhia que, a cada passo que damos em direção a Ele, Ele dá outro em nossa direção. Que boa coisa é tornarmos realidade o que o poeta sacro diz em conhecido cântico: “A cada passo que eu dou na vida é um degrau a mais que subo ao céu(…) A cada passo vou me aproximando daquele lar que Cristo prometeu  e, passo a passo, sigo caminhando a cada instante mais perto de Deus”.

– Um dos principais meios de santificação é a Palavra de Deus, como o Senhor Jesus deixa bem claro em Sua oração sacerdotal (Jo.17:17). Por isso, um dos principais meios de nos sujeitarmos ao Senhor é meditarmos nas Escrituras de dia e de noite, ter na lei do Senhor prazer (Sl.1:1,2), não sendo ouvintes esquecidos, mas cumpridores da Palavra (Tg.1:22).

– Jesus deixou-nos esta lição quando, tentado pelo diabo por trezes no deserto, nas três oportunidades o afugentou com o uso da Palavra de Deus. Não é à toa que os rabinos judeus ensinavam, já no século II, ou seja, cerca de cem anos depois da carta de Tiago (a revelar que o irmão do Senhor abeberava deste mesmo pensamento, corrente entre os mestres judaicos de seu tempo).

Mais precisamente na academia de rabi Ismael, em Jerusalém que ‘…quando a Inclinação para o Mal vem para seduzi-lo — carregue-a para a Casa de Estudo! Se ela for feita de pedra o seu estudo da Torah a desgastará como o pingar constante da água! Se ela for feita de ferro, o seu estudo da Torah derretê-la-á como uma chama!…” (AUSUBEL, Nathan. Ietzer Tov e Ietzer Ha-Ra. In: A JUDAICA, v.5, p.365).

– Para nos chegarmos a Deus, sem que estejamos praticando adultério espiritual, torna-se necessário que “alimpemos as mãos”, ou seja, que nos santifiquemos, que nos purifiquemos, pedindo perdão dos nossos pecados e procurando cumprir a Palavra de Deus, pois somos limpos pela Palavra que Ele nos fala (Jo.15:3).

– Entendem os amados irmãos porque o inimigo de nossas almas procura sempre nos distrair para que não tenhamos tempo para meditar na Palavra de Deus, tudo faz para que o tempo da Palavra de Deus seja diminuído em nossas reuniões? Porque ele sabe que, se formos devidamente instruídos na Palavra e a pratiquemos, ele não terá outra saída senão fugir de nós. Não permitamos, queridos, que a Palavra de Deus esteja ausente em nossas vidas. Se fizermos isto estaremos dando ao lugar ao diabo e há expressa orientação bíblica para que não o façamos (Ef.4:27).

– Para chegarmos a Deus, faz-se mister que não sejamos de duplo ânimo, ou seja, que não sejamos dúbios, vacilantes, às vezes atendendo aos desejos de nossa carne, às vezes atendendo ao nosso espírito, que quer nos levar à comunhão com Deus. Não podemos ser adúlteros espirituais, não podemos amar o mundo nem o que no mundo há. Não podemos manter nossos corações impuros.

– Tiago recomenda-nos a purificar os nossos corações, a nos santificarmos, a usar dos meios de santificação que o Senhor nos concede para que tenhamos maior graça dele, meios estes que são, fundamentalmente, a Palavra de Deus (Jo.17:17), a oração (I Tm.4:5), o temor do Senhor (II Co.7:1) e a participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:27, “a contrario sensu”). Temos tido este cuidado?

– Precisamos reconhecer a nossa condição pecaminosa e a nossa integral, total e completa dependência de Deus. A humilhação consiste precisamente nisto: em reconhecermos nossa imensa fragilidade, pequenez e insignificância, bem como nosso imerecimento, mas, simultaneamente, confiarmos em Deus, que tanto nos amou e que provou Seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8).

OBS: “…As dificuldades em se viver para Deus dedicadamente num mundo mau são muitas, mas Ele dá maior graça, a qual aqui parece significar “ajuda gratuita”. E essa ajuda gratuita Deus põe à disposição, como diz Pv. 3:34, não para os soberbos, pessoas auto-suficientes, mas para os humildes, homens dependentes.…” (Tiago. Comentário Bíblico Moody, p.20) (destaques originais)..

– Por isso, o pastor da igreja de Jerusalém diz que devemos sentir as nossas misérias, lamentar e chorar. Não se trata de uma manifestação hipócrita de miséria, mas de um sincero sentimento de que nós valemos menos do que nada e que nada em nós faz-nos merecer coisa alguma da parte de Deus.

– Este sentimento que Tiago diz aqui que devemos demonstrar é bem ilustrado no cerimonial da entrega das primícias ao Senhor, quando o israelita deveria proferir algumas palavras, em que, antes de agradecer a Deus pelo sustento na Terra Prometida, deveria reconhecer que se tratava de um filho de um siro miserável (Dt.26:5). É o sentimento muito bem sintetizado pelo poeta sacro Henry Maxwell Wright (1849-1931): “Nada trago a Ti, Senhor, ‘spero só em Teu amor! Todo indigno e imundo sou, eis, sem Ti, perdido estou. No Teu sangue, ó Salvador, lava um pobre pecador” (terceira estrofe do hino 47 da Harpa Cristã).

– Muito contrário, porém, é o sentimento daqueles que apostataram da fé, que, embora sejam nominalmente cristãos, estão perdidos e serão identificados como tal no dia do arrebatamento da Igreja. São os crentes de Laodiceia que, em vez de lamentar suas misérias, consideram-se “ricos, enriquecidos e que de nada têm falta”. No entanto, como sentencia o próprio Senhor, são desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus (Ap.3:17).

– Se nos considerarmos miseráveis, como realmente o somos, se chorarmos e lamentarmos a nossa vil condição, alcançaremos o favor imerecido de Deus, receberemos a Sua graça e desfrutaremos da glória do Senhor. Não há outro caminho para a exaltação senão a humilhação, senão a aceitação do senhorio de Cristo em nossas vidas.

– Se, porém, nos apegarmos à soberba, à sensação da autossuficiência, se quisermos fazer a nossa vontade e não a Deus, se corrermos atrás dos prazeres carnais, se nos deixarmos controlar pela carne, tendo como meta alcançar a ilusória alegria deste mundo, que Tiago chama de riso e gozo (Tg.4:9), fatalmente perderemos a nossa salvação, cairemos no pecado e seremos seus servos (Jo.8:34).

– O que temos buscado, amados irmãos? A alegria e o riso deste mundo? Os prazeres que nos são oferecidos nesta vida terrena? Se assim procedermos, jamais nos sujeitaremos a Deus, pois quem se inclina para as coisas da carne jamais podem agradar a Deus, “porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Porque os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm.8:7,8). Vemos mais uma perfeita consonância entre os ensinos de Tiago e os ensinos de Paulo na carta aos romanos.

– Diante desta realidade espiritual, não resta a Tiago senão nos mandar a que nos humilhemos perante o Senhor para que Ele nos exalte. Aqueles que renunciarem a carne, que morrerem para o mundo, ressuscitando para Deus e para as coisas espirituais, vivendo a fé no Filho de Deus, seguirá as pisadas de Cristo e, assim como Ele foi glorificado e Se assentou à destra do Pai, também, no dia do arrebatamento da Igreja, será igualmente glorificado e também subirá aos céus para ficar, para sempre, à destra do Pai. Aleluia!

– Sujeitar-se a Deus não é fácil, pois a humilhação é terrível, exige abnegação. Cristo humilhou-Se até a morte, e morte de cruz (Fp.2:5-8). Nós também não temos que ter a nossa vida por preciosa (At.20:24), devendo, a exemplo do apóstolo Paulo, cumprir com alegria a carreira e o ministério que recebemos do Senhor Jesus.

– Para chegarmos ao trono de Cristo e lá nos assentarmos, como foi prometido (Ap.3:21), é mister que, como o Senhor, também suportar a cruz pelo gozo que nos está proposto, desprezando a afronta e suportando as contradições dos pecadores contra nós mesmos (Hb.12:2,4).

– Para tanto, não podemos nos autorrealizar, como diz o título de nossa lição, não podemos querer ser donos de nós mesmos e concretizar os desejos que nos vêm do velho homem, que tem de se manter crucificado com Cristo, mas vivermos sempre submissos ao Senhor, humilhando-nos para que a Sua vontade se realize em nossas vidas, pois “aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (I Jo.2:17 “in fine”). Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L10_caramuru.pdf

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