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LIÇÃO Nº 4 – SALVAÇÃO: O AMOR E A MISERICÓRDIA DE DEUS

A salvação é obra do amor e da misericórdia de Deus.

INTRODUÇÃO

– A salvação é uma demonstração do amor e da misericórdia de Deus.

– Somos salvos porque Deus nos amou e não dá o que merece a humanidade pecadora.

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I – O AMOR DE DEUS

– Quando falamos da salvação, não podemos deixar de falar do amor de Deus, pois a salvação é fruto exclusivo deste amor, pois foi em virtude do amor de Deus que se construiu todo o plano da salvação que é revelado nas Escrituras Sagradas.

“Deus é amor” (I Jo.4:8,16) e, portanto, a salvação mostra a própria essência divina.

– Muitos se perguntam porque Deus, que é onisciente, sabendo que o homem iria pecar, não impediu que ele o fizesse ou, então, não deixou de criar o homem a fim de que ele não caísse no pecado.

Afinal de contas, dizem estes especuladores, se Deus é amor porque, então, permitir que os seres humanos fossem criados e muitos deles, a sua imensa maioria aliás, viessem a se perder e sofrer o tormento eterno?

– Tal pensamento, porém, além de querer decifrar os desígnios divinos, o que é totalmente indevido, visto que os caminhos e pensamentos de Deus não estão ao nosso alcance (Is.55:8,9),

tem o condão de considerar que Deus seria um ser covarde, alguém que, sabedor de que o homem que criaria haveria de desobedecer-Lhe e pecar, preferiria “não correr este risco”, impedindo assim de ser contrariado, o que, certamente, não permitira demonstrar a soberania divina e Seu absoluto controle sobre todas as coisas.

– O fato é que, ao criar os céus e a terra, Deus revela que é amor, alguém que queria compartilhar a Sua glória e majestade com outros seres, um ser que não é egoísta nem tem prazer na solidão.

Deus quis demonstrar toda a Sua essência, todo o Seu amor, precisamente ao criar seres que estivessem junto d’Ele, desfrutando deste amor e desta essência.

– Deus é o Ser Supremo, autossuficiente, autoexistente e a criação que operou não aumentou nem diminuiu a Sua essência, a Sua eterna existência.

Antes que as coisas fossem criadas, Ele já era Deus (Is.43:3,10; Jo.1:1-3) e, após a criação, continuou sendo Deus, nada tendo sido alterado em relação a Ele, pois Ele simplesmente é (Ex.3:14), sendo imutável e o mesmo desde sempre (Ml.3:6; Tg.1:17).

– Destarte, ao decidir criar todas as coisas, Deus estava tão somente querendo revelar a Sua essência a outros seres, essência esta que é o amor.

Foi o amor que levou o Senhor a criar todas as coisas e, em especial, seres morais que discernissem o bem e o mal e que tivessem com Ele uma relação igualmente amorosa, uma interação que fizesse com que este amor se estendesse ao “outro” e esta perspectiva do “outro” é a sublimidade deste amor que é o próprio Deus.

– Por isso mesmo, ainda antes de criar o homem, Deus deliberou que o salvaria quando este viesse a pecar, tendo, também, de antemão, resolvido que Ele próprio Se humanizaria para providenciar esta salvação, mostrando, deste modo, a grandiosidade deste amor, pois como disse Nosso Senhor e Salvador,

“ninguém tem maior amor do que este de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo.15:13), amigos estes que, na verdade, ainda eram inimigos quando a vida foi dada, pois, como afirma o apóstolo Paulo, “Deus prova o Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5:8).

Eis a razão por que o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo (Ap.13:8) e determinado, também antes que existisse tempo, que o preço da salvação se daria pelo derramamento do sangue deste Cordeiro (I Pe.1:19,20).

– Não é à toa que a revelação deste amor na salvação do homem seja considerada o texto áureo da Bíblia Sagrada: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo.3:16).

A expressão “de tal maneira” mostra a pobreza de vocabulário do homem para que possa dimensionar este amor de Deus, pois é tão grande quanto o próprio Deus, pois, afinal de contas, Deus é amor, de forma que a infinitude divina nada mais é que a infinitude deste mesmo amor.

A dificuldade da dimensão deste amor, aliás, é perceptível nas palavras do apóstolo Paulo que, por mais de uma vez, demonstrou ser incapaz de alcançar as suas dimensões, como vemos em textos como Rm.8:31-39 e Ef.3:14-19.

– Deus decidiu salvar o homem porque é amor e a salvação não pode ser entendida senão em função deste amor.

Jamais entenderemos o que é a salvação se não nos voltarmos para a realidade do amor de Deus, amor que excede todo entendimento humano (Ef.3:19) e cujos parâmetros só temos condição de conhecer por causa da revelação que nos deu o próprio Senhor nas Escrituras Sagradas.

Como diz o poeta sacro Ernesto Wootton: “Muito além do nosso entendimento, alto mais que todo o pensamento, glorioso em seu sublime intento, é o amor de Deus sem par.

Grande amor! Amor de Deus! Enche a terra e enche os céus! Grande amor! Amor de Deus! Amor que abrange a todo o mundo e atinge a mim” (primeira estrofe e refrão do hino 396 da Harpa Cristã).

– O apóstolo Paulo descreve este amor em I Co.13 e, nesta descrição, poderemos ver os parâmetros da salvação que nos trouxe Deus, por intermédio de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– O amor é sofredor (I Co.13:4), ou seja, paciente, que suporta todas as coisas para favorecer o “outro”.

É a palavra grega “makrothymei” (μακροθυμει), cujo significado é “ser tolerante”, “suportar por muito tempo”.

É por este motivo que Deus aguarda pacientemente que todos os homens se arrependam dos seus pecados, não destruindo a humanidade de imediato em virtude da sua pecaminosidade.

– Deus é longânimo (Nm.14:8; Sl.103:8; Jn.4:2; II Pe.3:9) e tardio em irar-Se (Ne.9:17; Jl.2:13; Na.1:3).

Seu amor é paciente e, por isso, o Senhor aguarda que o homem se arrependa dos seus pecados.

No episódio de Nínive, vemos bem esta longanimidade divina, pois, embora tivesse anunciado a destruição daquela cidade por causa da enorme prática do pecado, aguardou a oportunidade do arrependimento quando da pregação de Jonas e acabou por poupar a cidade em virtude de terem os ninivitas efetivamente pedido o perdão de seus pecados.

Como diz o apóstolo Pedro, Deus “…é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pe.3:9).

– Entretanto, devemos observar que esta longanimidade divina é uma tolerância com o pecador e jamais com o pecado.

A longanimidade divina aponta que Deus é “tardio em irar-Se”, ou seja, não elimina a ira divina, a justiça divina, mas se trata de uma oportunidade real que se dá a cada homem para que possa desfrutar do amor de Deus e da salvação.

Nínive, aliás, é um exemplo disso, pois, embora tenha sido poupada pelo Senhor nos dias de Jonas, cerca de 120 anos depois, acabou sendo destruída, como profetizado por Naum, por ter voltado a pecar e se mantido impenitente.

– Não tem sentido algum, portanto, considerar que esta “paciência amorosa” do Senhor signifique a “salvação de todos ao final”, como defende a doutrina universalista, pois Deus é amor, mas também é justiça e santidade, que, como diz Nm.14:18, “perdoa a iniquidade e a transgressão” mas que, também, “o culpado não tem por inocente”.

– O amor é benigno (I Co.13:4), ou seja, Deus quer bem a todos os homens e, por isso, quer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4), que não quer que alguns se percam, mas que todos venham a arrepender-se (II Pe.3:9).

Deus é bom e somente Ele (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19) e, portanto, se faz o bem ao homem, necessariamente terá de querer o bem a este homem.

– Não faz sentido, portanto, dizer-se que Deus previamente já destinou alguns homens para a perdição, como defende a doutrina da predestinação incondicional, pois tal postura revelaria um Deus que não seria benigno, visto que não quereria o bem senão dos “eleitos”, algo que contraria frontalmente o que ensina a Bíblia Sagrada, que nos mostra que Deus é benigno (Sl.145:8; Jr.3:12; Lc.6:35; I Pe.2:3).

– Poderão alguns dizer que Deus é benigno para com aqueles que se mostram benignos para com Ele, baseando-se em II Sm.22:26 e Sl.18:25.

Por primeiro, observemos que ambos os textos são o mesmo salmo composto por Davi em agradecimento ao livramento de todos os seus inimigos e de Saul, sendo, pois, o mesmo texto que é repetido duas vezes nas Escrituras, composto quando o reino se consolidou nas mãos de Davi, quando se cumpre de forma indelével a promessa divina de dar o trono de Israel ao filho de Jessé.

– A expressão “com o benigno te mostrarás benigno”, portanto, não tem relação propriamente com a salvação, como querem fazer crer os seguidores da doutrina da predestinação incondicional, mas, sim, com a reação de Deus em relação àquele que aceita a Sua oferta salvadora, ou seja,

tem-se aqui um momento posterior à salvação, uma atitude divina de proteção e livramento para aqueles que já O receberam como Senhor e Salvador das suas vidas.

Portanto, não se trata em absoluto de uma limitação da benignidade divina apenas aos supostamente eleitos.

O salmista, aliás, deixa isto claro quando diz que se trata de uma retribuição divina àquele que guardou os caminhos do Senhor, que não se apartou impiamente do seu Deus, que foi sincero para com Ele e se guardou da sua iniquidade (II Sm.22;21-25; Sl.18:20-23).

– A palavra grega para “benigno” é “chresteuomai” (χρηστευομαι), cujo significado é o de “mostrar-se útil”, “agir de maneira benevolente”, “ser gentil”.

O Senhor demonstra a Sua benignidade porque Se mostra benevolente para com o homem, quer o seu bem e, por isso, abre uma real oportunidade de salvação a cada ser humano e, para tanto, na pessoa do Filho, veio a ser o instrumento da redenção, morreu em nosso lugar, assumiu a nossa culpa, mostrando-Se útil, capaz de proporcionar a nossa libertação do pecado.

– Quando se fala em “gentil”, devemos observar a raiz desta palavra, que significa “de boa espécie ou natureza; bom; amigo” e isto nos remete, claramente, à amizade existente entre Deus e o homem quando da criação do ser humano, amizade cujo restabelecimento é o cerne da promessa da salvação (Gn.3:15).

Deus é amigo, mostrou isto ao criar o homem, fazendo-o “imagem e semelhança de Deus” (Gn.1:26,27), “reto” (Ec.7:29), ou seja, similar a Ele próprio e a Sua benignidade demonstra isto, o interesse em restaurar esta primitiva essência do homem, obnubilada pelo pecado e, ao Se humanizar, fez o homem perceber quem é o “verdadeiro homem” na pessoa de Jesus.

– O amor não é invejoso (I Co.13:4). Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que a inveja é “sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto e que é provocado pela felicidade, prosperidade de outrem; desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído e gozado por outrem”.

– Ora, quem demonstrou inveja foi o inimigo de nossas almas. Por primeiro, inveja do próprio Deus, tanto que quis ocupar o Seu lugar (Is.14:13,14) e, posteriormente, inveja do ser humano que desfrutava da comunhão com o Senhor, comunhão que Satanás havia perdido em função do seu pecado.

Ardilosamente, pois, fez com que o homem caísse no mesmo erro de querer ser igual a Deus (Gn.3:4,5) e, deste modo, ficasse subjugado a ele, diabo, tornando-se servo do pecado e do maligno (Gn.4:7; Jo.8:34), passando a ser “filho do diabo” (Jo.8:44; I Jo.3:8-10), fazendo surgir o “mundo”, este sistema organizado imerso no maligno (I Jo.5:19), onde o diabo é “príncipe” (Jo.12:31; 14:30; 16:11), um sistema em que pode se apresentar como “deus deste século” (II Co.4:4).

– Deus, entretanto, ao querer salvar o homem, revela não ser invejoso, pois, em vez de ser egoísta e desejar o que é do outro, como fez o adversário de nossas almas, bem pelo contrário quis compartilhar com o homem o que é Seu, ainda que o homem tenha pecado e não merecesse senão o desprezo e o tormento eternos.

Mesmo diante do pecado, o Senhor quis deixar bem patente, em diálogo com o próprio inimigo, que esta inimizade criada entre Ele e o ser humano, haveria de ser debelada e que o homem não só seria restaurado na sua condição anterior como, na verdade, assumiria uma posição superior, já que seria inserido na própria dimensão eterna, nas mansões celestiais, de onde tinha sido expulso Satanás.

– Se Satanás achava que, com a queda do homem, conseguira se fazer “deus deste século”, “príncipe do mundo”, destruindo a própria comunhão que o homem tinha com Deus, o Senhor mostra que a salvação daria ao homem uma posição superior a que tinha no Éden, agora nas mansões celestiais, no próprio trono do Filho (Ap.3:21), a posição que o próprio diabo almejara para si.

– A salvação é, pois, o exato contraditório da inveja, visto que Deus resolve dar ao homem posição superior a que tinha o inimigo, compartilhando a sua glória para com o ser humano, precisamente para demonstrar que não é invejoso, nem tem prazer no fracasso do “outro”.

O Senhor, aliás, bem proclama isto ao afirmar, por intermédio do profeta Miqueias:

“Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade” (Mq.7:18) ou, ainda, por intermédio do profeta Ezequiel:

“…Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel?” (Ez.33:11).

– A palavra grega para “invejoso” é “dzelóo” (ζηλόω), cujo significado é “ter um sentimento de calor por ou contra; afeto; cobiça fervorosa”. Como afirma o Dicionário Vine,

 “…Em nenhum lugar do Antigo Testamento diz que Deus é invejoso.

Mesmo nas passagens em que o adjetivo “ciumento” (ou “zeloso”) é usado, é mais apropriado não entendê-lo como inveja.…” (p.69) (tradução de texto em espanhol), mas, sim,

“…(a) os atributos divinos de justiça e santidade, porque ele é o único objeto de adoração humana e não tolera os pecados da humanidade…”(p.69/70) (tradução de texto em espanhol).

Este “zelo” , que é, neste mesmo Dicionário Vine, entendido como “…a defesa dos direitos próprios excluindo direitos de terceiros…” (p.69), não se apresenta na salvação, porquanto Deus abriu mão de Seus “direitos” para poder salvar o home, o que se realizou mediante a humilhação de Cristo, o Seu esvaziamento (a chamada “kenosis”), descrita lapidarmente em Fp.2:5-8.

A salvação, portanto, é a própria negação do “zelo”, mesmo no seu sentido positivo, a nos mostrar quão grandioso é este amor divino.

– A propósito, temos, na lei de Moisés, uma figura que bem representa esta característica não invejosa do amor de Deus, este Seu desprendimento de Suas prerrogativas para salvar o homem.

Trata-se do mandamento divino relativo à prova da mulher suspeita de adultério, a chamada “lei dos ciúmes” (Nm.5:11-31), precisamente a palavra “qin’āh” (קנא ) mencionada pelo Dicionário Vine supra.

– Neste mandamento, mostra-se que o marido que suspeita da fidelidade de sua mulher deveria trazer a mulher juntamente com uma oferta ao sacerdote, uma oferta emorativa, que traz a iniquidade em memória e, então, o sacerdote tomaria água santa num vaso de barro e do pó que houvesse no chão do tabernáculo e o deitaria na água.

Em ato contínuo, o sacerdote deveria apresentar a mulher ao Senhor e descobriria a sua cabeça, pondo a oferta memorativa nas suas mãos e a água amarga, que traria consigo a maldição, estaria na mão do sacerdote.

O sacerdote então conjuraria e diria a mulher para que jurasse sua fidelidade. Em seguida, o sacerdote escrevia as palavras de maldição em um livro e com a água amarga as apagaria.

Depois, mandaria que a mulher tomasse daquela água, que seria para maldição da mulher, caso tivesse ela jurado em falso a fidelidade a seu marido, oferecendo, com oferta de movimento, a oferta memorativa perante o Senhor, queimando, dando de beber a água à mulher, novamente, que seria amaldiçoante caso estivesse a mulher em pecado.

A lei do “ciúmes” é uma garantia que se dá à mulher. Diante da suspeita de adultério, não poderia o marido, como em outras nações, simplesmente se desfazer da mulher ou até matá-la, mas deveria deixar para que o Senhor esclarecesse a dúvida.

A mulher, assim, seria amaldiçoada se estivesse a mentir, se jurasse em falso diante de Deus.

O marido traria uma oferta memorativa ao Senhor e a maldição viria pela impenitência da mulher.

 O marido não pode tirar a vida, nem querer o mal da mulher, mas levar o caso ao Senhor. Sobre a mulher recairia a sua própria culpa e falta.

– É precisamente isto que Deus faz conosco. Mesmo sendo onisciente e já sabedor de que somos culpados (ao contrário do marido da “lei de ciúmes”, que apenas desconfia da fidelidade da mulher, não tem provas), permite-nos o arrependimento, traz uma oferta memorativa da iniquidade, que foi o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, por nós,

dando-nos a chance de reconhecermos nossas faltas e alcançarmos o perdão do Senhor, sob pena de cair sobre nós a maldição dos nossos próprios pecados, apesar de Cristo já os ter levado sobre nós.

Se não aceitarmos tal oferta, daquele que Se fez maldição por nós (Gl.3:13), haveremos de sofrer a consequência de nossos atos malignos, pois o “zelo” de Deus, como afirma a Bíblia de Estudo Palavra-Chave,

 “…o zelo de Deus…realizará o Seu propósito (…) e será o instrumento de Sua ira em juízo…” (Dicionário do Antigo Testamento, verbete 7068, p.1906).

– Aqui, mais uma vez, tem-se a negativa do pensamento universalista, visto que o amor de Deus “não é invejoso”, mas isto não significa que, diante de uma atitude de rebeldia e de não arrependimento, não venha a maldição sobre aqueles que rejeitaram a “oferta memorativa”.

– É interessante observar que a mulher submetida a tal teste é chamada de “sotâ”, que significa “desviar-se”, ou seja, figura o pecador, o ser que “se desviou” da justiça divina.

Entendem os rabinos judeus que o fato de o sacerdote tomar a água santa e a misturar com pó era um convite ao arrependimento:

“…O cohen[sacerdote, observação nossa] pegava a água da bacia no Tabernáculo (kiyor) e a misturava com poeira do chão.. Por que D’us ordenou que a água fosse apanhada do kiyor? O kiyor era feito de espelhos de cobre que as mulheres judias doavam.

A água do kiyor é dada a uma esposa infiel para lembrá-la que: ‘Você não agiu como as mulheres judias no Egito, que foram fiéis aos maridos!’ Por que a poeira é misturada à água? A poeira sugere a ela:

‘Você sabe qual é o fim de todos? Seu corpo retorna ao pó. Por isto, faça teshuvá[pedido de perdão dos pecados, arrependimento – observação nossa – antes que seja tarde!’…” (Sotá: a esposa infiel. Disponível em: http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/920325/jewish/Sot-A-Esposa-Infiel.htm Acesso em 08 ago. 2017).

– A salvação está à disposição de todos que se arrependerem de seus pecados, que olharem para o sacrifício de Cristo e reconhecerem que são malditos, mas que Cristo já levou a nossa maldição sobre Si.

Há oportunidade real para todos se arrependerem. Aleluia!

– O amor não trata com leviandade (I Co.13:4). A palavra grega aqui é “perpereomai” (περπερεύομαι), que significa “arrogante” ou que “se vangloria”.

A arrogância é considerada como sendo o fator de que nos isola de Deus pelos rabinos judeus: “…Mas como alguém pode se isolar de D’us, Cuja glória preenche toda a Terra? A respota é: sendo arrogante.

Sobre a pessoa arrogante, nossos Sábios ensinaram: ‘D’us disse: ‘Ele e Eu não podemos habitar o mesmo local’ (Sotá 5a) [tratado do Talmude, observação nossa].

Em outras palavras, a arrogância encobre a pessoa de D’us. A solução para esse problema é ‘trazer uma oferenda de farinha de cevada (Nm.5:15), que é chamada pelos nossos Sábios de ‘ração animal’ (ibid. 14a).

Ou seja, a pessoa precisa se tornar humilde com a consciência de que, perante D’us, ela é tão pobre em conhecimento quanto um animal…” (Faíscas de Chassidut, basedo em Likutei Sichot, v.4, p.1032. In: CHUMASH, v.4, p.40).

OBS: Transcrevemos aqui o texto mencionado do Talmude: Sotá 5a: “…Rabi Hisda disse, e de acordo com outra versão era Mar ‘Ukba: Todo homem em quem há altivez de espírito, o Santo, abençoado seja Ele, declara, Eu e ele não podemos conviver no mundo; Como se diz: Aquele que difama o seu próximo às escondidas, Eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei (Sl.101:5).

Não leia “ele” [não posso sofrer], mas “com ele” não posso [habitar]. Há alguns que aplicam esse ensino àqueles que falam calúnia; Como se diz,

“Aquele que difama o seu próximo às escondidas, eu o destruirei” (tradução de texto em inglês).

– A salvação não é uma demonstração de “arrogância” de Deus, nem a reafirmação da Sua glória, uma “expressão da Sua soberania”, como querem fazer crer os seguidores da doutrina da predestinação incondicional.

Muito pelo contrário, a salvação é a demonstração da “mansidão e humildade de coração” do Senhor, como assinalou Cristo Jesus, que, inclusive, mandou-nos aprender com Ele esta Sua característica (Mt.11:29).

– Deus Se humilha para, como homem, proporcionar a salvação da humanidade, querendo que nós, também, nos humilhemos, reconhecendo nossa pecaminosidade e nos pondo integralmente em Suas mãos, pelo favor imerecido, que é a graça,

que Ele nos concede de podermos, nesta humilhação, sermos exaltados como foi o Senhor Jesus, no estágio último do processo de nossa salvação, a saber: a glorificação.

– Quem se humilhar, será exaltado, mas quem for arrogante, estará eternamente separado do Senhor, pois, como já se disse, é a arrogância que nos separa de Deus.

– O amor não se ensoberbece (I Co.13:4). Temos a conclusão do que já havia sido dito pelo apóstolo ao dizer que o amor não trata com leviandade.

A palavra grega aqui é “physioo” (φυσιόω), cujo significado é de “inflar; inchar”, “tornar-se arrogante, orgulhoso”. O amor de Deus, em absoluto, pretende demonstrar a grandeza divina, gerar uma “opressão” sobre a criatura humana.

Muito pelo contrário, é uma atitude de aproximação ao homem, o que somente se fez possível mediante a encarnação do Verbo, que Se fez um de nós para nos poder elevar até a Sua posição nos céus.

– O amor não se porta com indecência (I Co.13:5), ou seja, n ão é inconveniente, não se comporta de forma inadequada, precisamente o significado da palavra grega aí empregada “aschemonei” (ασχημονέι).

A salvação divina não possui qualquer inconveniência ou inadequação, ou seja, todos os atributos do caráter divino estão presentes nela, tanto que nem Deus passa a tolerar o pecado, deixando de levar em conta a sua prática para “salvar a todos no final”, como dizem os universalistas,

nem deixa de ser imparcial ao conceder a salvação a todos os homens, não fazendo acepção de pessoas, o que elimina a Sua prévia escolha para salvar uns e levar à perdição outros, como dizem os seguidores da doutrina da predestinação incondicional.

– O amor não busca os seus interesses (I Co.13:5). Deus promove a salvação do homem no exclusivo interesse dos seres humanos.

São estes que precisam de salvação, que serão abençoados com a salvação, não o Senhor, que em nada tem abalada a Sua posição com a prática do pecado seja por homens, seja por anjos.

Deus nos amou e providenciou esta benesse para nós que não Lhe traz qualquer vantagem ou benefício.

– O amor não se irrita (I Co.13:5)

, ou seja, não é provocado facilmente, não incita, o significado da palavra grega “praoksyno” (παρξύνω), o que corrobora com a longanimidade divina, já estudada supra.

– O amor não suspeita mal (I Co.13:5), ou seja, não conclui equivocadamente, não faz um julgamento errôneo, que é o sentido da palavra grega “logidzomai” (λογίζομαι).

O julgamento divino não é subjetivo, mas é um julgamento calcado em provas e em evidentes experiências dadas aos seres que dotou de livre-arbítrio, o que afasta, por completo, uma prévia e injusta divisão entre “eleitos” e “não-eleitos”, como defendem os seguidores da doutrina da predestinação incondicional, como também impede que sejam tratados de igual maneira os que Lhe obedecem e os que não Lhe obedecem, como querem os universalistas.

II – A MISERICÓRDIA DE DEUS

– Mas, ao lado do amor de Deus, temos, também, a Sua misericórdia, que é outro fator a ser levado em conta quando se quer entender a salvação.

O Senhor é quem diz que faz “ misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos” (Ex.20:6; Dt.5:10), “o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos” (Dt.7:9).

– Temos, aqui, a palavra hebraica “hesedh” (חסד ). “…Substantivo masculino que indica benevolência, benignidade, misericórdia, bondade, fidelidade, amor, beneficência.

Estes aspecto de Deus é uma das diversas características importantes de Seu caráter: verdade; fidelidade; misericórdia; firmeza; justiça; retidão. Bondade.

O texto clássico para se compreender o significado e a importância desta palavra é o Salmo 136, onde ela é usada vinte e seis vezes para proclamar que a bondade e o amor de Deus são eternos.

O salmista deixou claro que a bondade e a fidelidade de Deus servem como fundamento para Seus atos e Seu caráter; elas estão por trás de Sua benignidade 9Sl.136:1); sustentam Sua posição indiscutível como Deus e Senhor (Sl.136:2,3)…”(Bíblia de Estudo Palavra Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 2617, p.1647).

– A misericórdia, consoante diz a Bíblia On-line da Sociedade Bíblica do Brasil, é “…bondade, amor e graça de Deus para com o ser humano, manifestos no perdão, na proteção, no auxílio, no atendimento a súplicas {ARA Ex. 20.6; Nm. 14:19; Sl. 4:1}.

Essa disposição de Deus se manifestou desde a criação e acompanhará o Seu povo até o final dos tempos {ARA Sl. 136; Lc. 1:50}.…”.

– A misericórdia divina é um elemento importantíssimo para a salvação, pois, em virtude da Sua misericórdia, o Senhor não dá ao homem, de imediato, o que ele merece em virtude do seu pecado, mas, sim, cria uma oportunidade para que este homem se arrependa e volte ao convívio com Deus.

A misericórdia, diz Jeremias, é a causa de não sermos consumidos quando pecamos, porque ela é infinita (Lm.3:22).

– A misericórdia de Deus permite que o homem, mesmo tendo pecado, possa ter a oportunidade de se arrepender antes que receba o que merece, que é a morte e a eterna separação de Deus, como, aliás, o Senhor já avisara ao ordenar que não se comesse da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17).

– “…A misericórdia pode ser atribuída a Deus em grau máximo. Mas como efeito, não como paixão. Para provar isso, devemos tomar que isto é o mesmo que dizer compassivo, que alguém tem miséria no coração, no sentido de que se entristece com a miséria dos outros como se fosse própria. Por isso, Ele quer banir a miséria dos outros, como se fosse a própria. Este é o efeito da misericórdia.

Deus não apenas Se entristece com a miséria dos outros, mas, muito mais que isto, bane a miséria dos outros, se entendermos miséria como qualquer falha e as falhas não desaparecem senão pela perfeição de alguma bondade.

E como já demonstrado (q.6.4), a primeira fonte do bem é Deus. Mas há que se manter presente que conceder perfeições às coisas pertence à bondade e à justiça de Deus, liberalidade e misericórdia. Mas, por razões diferentes.

Mas, considerando-se absolutamente, a transmissão da perfeição pertence à bondade.

Mas quanto às perfeições das coisas presentes, concedidas por Deus proporcionalmente, isto pertence à justiça, como já se disse (a.1).

E, como para as perfeições dadas a coisas não para a sua utilidade, mas apenas por Sua bondade, isto pertence à liberalidade.

E, para as perfeições dadas a coisas por Deus e que banem qualquer defeito, isto pertence à misericórdia.…” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica I, 1.21, a.4) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Conforme se vê desta lição de Tomás de Aquino, a misericórdia é uma atitude divina que faz com que o Senhor, reconhecendo a miséria do ser humano, quer banir todos os defeitos nele existentes e isto nada mais que é a salvação, pois, através dela,

o homem é retirado da situação de miséria que se encontra em virtude do pecado, podendo novamente voltar a ostentar a retidão que tinha ao princípio.

– Para tanto, movido pela Sua bondade, o Senhor não só quer transmitir a Sua bondade para o homem, como também, para que isto ocorra, resolveu participar da carne e do sangue, das “mesmas coisas” de o homem participa, para que, “pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb.2:14,15),

“pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.

Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb.2:18).

– A misericórdia divina explica o porquê da salvação se dar pela encarnação do Verbo, por Sua humilhação até a morte e morte de cruz, a fim de que pudesse o Senhor não só retirar o pecado do homem, mas participar das “mesmas coisas” da humanidade (com exceção do pecado),

para que pudesse, então, salvar o homem cabalmente, assumindo a morte no lugar da humanidade e vencer toda tentação que o homem sofre ao longo de sua peregrinação terrena.

– Não só sentir a miséria da situação humana, mas dela compartilhar para que, então, de modo cabal, pudesse restaurar o homem, dando-lhe um lugar de compartilhamento na glória divina, exaltando aqueles que se humilharem como Ele Se humilhou e foi exaltado soberanamente, dando-Lhe um nome que é sobre todo o nome (Fp.2:9).

– A salvação permite-nos a restauração, o reerguimento, residindo aí a opção de Davi em cair nas mãos misericordiosas do Senhor e não das dos homens (II Sm.24:14; I Cr.21:13), como também o fundamento do pedido feito por Daniel ao Senhor quando se completaram os setenta anos do cativeiro (Dn.9:18).

– É pela misericórdia de Deus que podemos ter apagados os nossos pecados (Sl.51:1), como também que não são lembradas as nossas iniquidades passadas (Sl.79:8) nem tampouco deixamos de ser guiados na jornada desta vida (Ne.9:19), possibilitando, inclusive, que sejamos auxiliados e resgatados (Sl.44:26).

A misericórdia de Deus é que nos permite receber vida por meio da salvação (Sl.119:77).

– A salvação somente se dá porque Deus é misericordioso e, por conseguinte, vemos que a salvação não decorre de qualquer mérito do ser humano, de obras ou algum esforço realizado pelo homem, mas, sim, única e exclusivamente porque Deus não quis dar ao homem o que ele merecia pela prática do pecado.

Por Deus ser misericordioso e não derramar a Sua ira de pronto ao homem é que se poderá desenvolver outro elemento divino importantíssimo para a salvação, que é a graça, ou seja, a concessão de um favor não merecido.

Porque Deus é misericordioso, e, por causa disso, não somos fulminados logo que pecamos, pode Deus não só não dar o que merecemos, mas dar aquilo que nós não merecemos, que é a redenção.

A misericórdia divina é uma condição “sine qua non” para que recebamos a graça e, com ela, a salvação.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1107-licao-4-salvacao-o-amor-e-a-misericordia-de-deus-i

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