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LIÇÃO Nº 8 – A BONDADE QUE CONFERE VIDA

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O salvo, por ser filho de Deus, faz o bem a todos.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo de Gl.5:22, analisaremos a terceira qualidade do fruto do Espírito relacionada com o próximo, a saber, a bondade.

– O salvo, por ser filho de Deus, faz o bem a todos.

I – O QUE É BONDADE

– O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa diz que “bondade” é “qualidade de quem tem alma nobre e generosa, é sensível aos males do próximo e naturalmente inclinado a fazer o bem; benevolência, benignidade, magnanimidade; ação que reflete esses atributos.”

“…O termo hebraico [para bom, observação nossa] “tôbh”(טוב ) (‘agradável’, ‘alegre’), significando, primariamente, aquilo que proporciona satisfação estética ou moral.

A Septuaginta [a primeira versão do Antigo Testamento que existiu, que traduziu as Escrituras para o grego, observação nossa] traduz o termo “tôbh” pelo vocábulo ‘agathos’(αγαθός), a palavra grega regular para ‘bom’ como qualidade física ou moral, e, algumas vezes, por ‘kalos’ (καλος) (literalmente, ‘belo’, pelo que, tanto no grego clássico como no bíblico, ‘nobre’, ‘honroso’, ‘admirável’, ‘digno’). O Novo Testamento reproduz esse emprego(…).

Paulo, seguindo a Septuaginta, emprega o substantivo “agathosyne’ (αγαθωσύνη), para indicar a bondade do crente, com ênfase especial sobre sua beneficência (Rm.15:14; Gl.5:22; Ef.5:9; 2 Ts.1.:11…” (DOUGLAS J.D. (org.). Bom. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.1, p.222-3).

É “…virtude equipada para ação, propensão generosa tanto para querer como para fazer o que é bom(…) é uma palavra rara que combina ser bom com fazer o bem.” (Bíblia de Estudo Plenitude, p.1170[palavra-chave]).

– Pelo que vemos dos lexicógrafos, a palavra “bondade” está vinculada à ideia de “fazer o bem”, é a prática de ações que trazem o bem para os outros, para os semelhantes. É a ação que realiza, que concretiza o desejo bom que há no coração do servo de Deus.

Através da bondade, o desejo, o querer bem às pessoas se torna uma realidade, é uma ação concreta que traz bem às pessoas. Esta mesma ideia é expressa pela palavra “misericórdia”. É o amor em ação.

– A base da bondade encontra-se, também, no amor divino. O amor divino é essencialmente prático, ou seja, é constituído por obras e não por palavras (I Jo.3:18).

Ora, Deus é amor (I Jo.4:8 “in fine”) e a Bíblia nos diz, também, que Deus é bom (Sl.100:5; Na.1:7; Ed.3:11) e que só Ele pode assim ser chamado (Mt.19:17; Mc.10:19; Lc.18:19).

“…’Bom’, nas Escrituras, não é alguma qualidade abstrata, nem é algum ideal secular humano; ‘bom’ significa, em primeiro lugar e, primariamente, aquilo que Deus é.…”(DOUGLAS, J.D. (org.). Bom. In: O Novo Dicionário da Bíblia, p.223). A prova máxima da bondade divina está em que Ele enviou o Seu Filho para morrer em nosso lugar (Jo.3:16; 5:8).

II– DEUS É BOM

– Deus é bom ou, para nos expressarmos como Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, “ninguém há bom senão um, que é Deus.” (Mc.10:18b).

OBS: “…Deus é amor, logo Deus é bom. A bondade de Deus é a principal característica de Deus, da qual tudo se originou e na direção do que tudo se move.

 Assim entendemos que toda a natureza tem vida e se mantém por causa da bondade de Deus que a tudo sustenta e, sem olhar quem é bom ou mau, o Senhor faz chover e brotar o sustento para todos, Mt.5.44-45,48.” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.14).

– Deus não se limita a querer o bem do homem, mas toma atitudes, pratica ações concretas para que este bem do homem se torne em realidade.

Nosso Deus é um Deus que trabalha por aquele que n’Ele espera (Is.64:4; Jo.5:17). Em Ex.33:19, o Senhor disse a Moisés que passaria a Sua bondade diante dele e que teria misericórdia de quem tivesse misericórdia bem como se compadeceria de quem se compadecesse, ou seja, a bondade de Deus está relacionada com ações concretas, reais, com atitudes e não com intenções.

OBS: “….Em todas as suas obras Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, mas também sua confiabilidade, constância, fidelidade, verdade. “Celebro teu nome por teu amor e verdade”… “(Catecismo da Igreja Romana, § .214).

– “…Deus é a fonte da bondade, porque ELE É BOM(…) e toda a dádiva d’Ele é BOA, Tg.1.17…”(BÉRGSTEN, Eurico Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.27-8).

“…O reconhecimento da bondade de Deus é o fundamento de todo pensamento bíblico sobre a bondade moral.(…).

Não é que os escritores bíblicos estimem Deus em termos de um conceito anterior de bondade, mas antes que, contemplando a suprema glória das perfeições de Deus, aplicam a Ele a palavra ordinária usada para reconhecer o que tem valor.

Assim fazendo, entretanto, emprestam a essa palavra [bom, observação nossa] uma nova profundeza de significado.

Definem a palavra ‘bom’ em termos de Deus e não, vice-versa. De conformidade com isso, a posição bíblica é que Deus, e exclusivamente Deus, é bom sem qualquer qualificação…” (DOUGLAS, J.D. (org.). Bom. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.1, .223).

OBS: Daí porque não podermos concordar com ideias como as do taoísmo (religião e filosofia oriental chinesa, fundadas por Lao-Tsé) que dizem que a bondade surge quando o “princípio criador”(Tao) desaparece:”… Quando se abandona o Tao, aparecem a bondade e a justiça.…” (Lao-TSÉ.Tao Te King, XVIII).

– A bondade de Deus apresenta-se logo no limiar da revelação das Escrituras. A Bíblia começa com a declaração de que “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1).

Ora, quando Deus vê a criação, é dito que “tudo quanto [Deus] tinha feito (…) era muito bom (Gn.1:31).

Esta expressão bíblica mostra que a qualidade dada à criação foi a que era “muito boa”, precisamente porque trazia, em si, a principal marca do Criador: a bondade.

Ao criar todas as coisas, a fazer algo, Deus mostrou que era bom, ou melhor, muito bom, melhor ainda que a criação. A bondade, portanto, está relacionada com o agir e, mais do que isto, com o agir segundo a natureza divina.

OBS: No Prólogo do Catecismo da Igreja Romana, é dito que a criação do homem é “desígnio de pura bondade para que o homem tenha parte na Sua vida bem-aventurada”.

– A bondade de Deus é grande (Ne.9:25; Is.63:7; Zc.9:17), porque Deus faz muito além daquilo que pedimos ou pensamos (Ef.3:20), nunca tendo abençoado com conta-gotas ou com medida (Ml.3:10 “in fine”; Lc.6:38).

A bondade de Deus é tão grande que TUDO que d’Ele recebemos, nós, os salvos, contribui para o nosso bem (Rm.8:28), pois o Senhor nos guarda de TODO o mal (Sl.121:7a).

Somos providos pelas bênçãos da bondade divina (Sl.21:3). Nem poderia ser diferente. Já vimos que a benignidade divina é grande e, como em Deus, o querer confunde-se com o efetuar, se a disposição de Deus em fazer o bem é grande, também serão as Suas ações, o Seu fazer-bem é tão grande quanto o Seu querer-bem.

Toda a terra está cheia da bondade do Senhor (Sl.33:5b) e é bom para com todos os homens (Sl.145:9).

– A bondade de Deus é eterna (Sl.100:5), não tem qualquer limite temporal. O Senhor faz-nos seguir a Sua bondade todos os dias da nossa vida (Sl.23:6), mas, quando deixamos de existir, esta bondade permanece (Lc.16:25) e se estenderá pelos séculos dos séculos, porquanto os servos do Senhor sempre gozarão da bondade divina, mormente quando passarem a gozar de plena comunhão com Ele (Ap.21:4). Não poderia ser diferente.

Já vimos que a benignidade divina é eterna e, como em Deus, o querer confunde-se com o efetuar, se a disposição de Deus em fazer o bem é eterna, também serão as Suas ações, o Seu fazer-bem é tão eterno quanto o Seu querer-bem.

– A bondade de Deus é responsável pela manutenção de nossa existência. Diz Jeremias que “ as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos” (Lm.3:22a). Deus não só revelou Sua bondade ao criar todas as coisas, mas em as manter ao longo dos séculos.

Deus não somente criou todas as coisas, mas as faz subsistir pelo Seu poder (Cl.1:17; Hb.1:3) e isto é fruto exclusivo da Sua bondade.

Esta ação de sustentação é reveladora da bondade de Deus, tanto que foi colocada, na Bíblia, ao lado do trabalho pela purificação dos nossos pecados.

– A bondade de Deus leva-nos ao arrependimento dos nossos pecados. Deus não só quis que o homem fosse salvo, mas providenciou esta salvação. Jesus morreu por nós e isto prova o Seu amor para conosco (Rm.5:8).

 Jesus fez o bem e consumou a obra que Lhe estava destinada e, por isso, podemos, de modo eficaz, nos arrepender dos nossos pecados e sermos perdoados.

A bondade de Deus é a responsável por podermos ser ensinados no caminho que devemos seguir para alcançar a salvação (Sl.25:8).

– A bondade de Deus é a responsável pelo perdão dos nossos pecados. Davi, quando pecou, confiou na misericórdia de Deus, pois era ela quem poderia apagar a sua transgressão (Sl.51:1).

Porque Deus é misericordioso, Ele não Se lembra dos nossos pecados (Sl.25:7). A misericórdia divina é definida como sendo “ a atribuição de Deus que o leva a perdoar os pecados e as faltas cometidas” (Misericórdia. In: Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse, p.560).

– A bondade de Deus é a responsável pelo desfrute das riquezas da graça de Deus em nossas vidas.

Porque Deus é bom, o salvo prova da Sua bondade (Sl.34:8), têm confirmados os seus passos ao longo da vida (Sl.37:23;73:1) e é uma fortaleza no dia da angústia (Na.1:7), sem falar nos sinais que se seguem aos que crerem (Mc.16:17-20), o que tem feito espalhar a bondade de Deus pelos quatro cantos da Terra desde então.

Por isso, a todo o instante, jamais deve o crente deixar de considerar quão grande é a bondade do Senhor (Rm.11:22).

III – O CRENTE DEVE SER BOM

– A bondade é a prática do bem em favor do outro, é a concretização em atitudes do desejo que, como vimos, representa a benignidade.

A bondade nada mais é que o amor em ação. Por isso, entendemos que, ao estudarmos a bondade do crente, também devemos levar em conta o que as Escrituras falam sobre a misericórdia, que os dicionaristas identificam como sendo o sentimento despertado pela infelicidade de outrem, a atitude que se faz em favor de quem está necessitando de algo, a “imensa bondade”.

OBS: “…Acompanhar o conceito de misericórdia, na Bíblia em português, é algo complicado devido o fato que há diversas raízes hebraicas e gregas traduzidas como ‘misericórdia’, ‘misericordioso’ etc. além de outras traduções sinônimas, tais como ‘bondade’, ‘graça’, ‘favor’ e verbos cognatos.…” (DOUGLAS, J.D. (org.). Misericórdia. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.2, p.1054).

– Se somos filhos de Deus, temos de ter a Sua mesma natureza e, mais, se devemos seguir as pisadas de Jesus (I Pe.2:21), temos de ser bondosos, pois, para mostrar o ministério de Jesus aos gentios, que não tinham conhecimento das promessas messiânicas, Pedro sintetizou a vida de Cristo entre nós como sendo a de alguém que “andava fazendo bem” (At.10:38).

Lucas, por sua vez, ao se dirigir a Teófilo, disse que seu primeiro tratado, ou seja, o seu evangelho, era uma coletânea de “…tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” (At.1:1b) e o próprio Jesus, lembrando profecia a Seu respeito constante do livro do profeta Isaías, na sinagoga de Nazaré, onde fora criado, afirmou que o objetivo da unção do Espírito Santo na Sua vida era para

“…evangelizar os pobres, curar os quebrantados do coração, apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor…”(Lc.4:18,19), sem falar que, no sermão do monte, afirmou que era dever de cada crente praticar boas obras que, uma vez vistas pelos homens, os levassem a glorificar o nome do nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).

– Não pode haver evangelho completo se os crentes não fizerem o bem, se não praticarem boas obras, se não forem bons, pois ser bom é fazer o bem. Por isso, se a benignidade está vinculada à “benevolência”, a bondade está relacionada com a “beneficência”, “ato, prática ou virtude de fazer o bem, de beneficiar o próximo; bem-fazer, filantropia; disposição benéfica; bem-fazer”.

Desde já devemos reconhecer que, nós, crentes pentecostais brasileiros e, em especial, os das Assembleias de Deus, estamos muitíssimo aquém da exigência bíblica relativa à bondade, o verdadeiro “calcanhar-de-aquiles” de nossa denominação.

– A Bíblia é categórica ao afirmar que só Deus é bom. Ele é a fonte de toda a bondade. Entretanto, quando aceitamos a Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas, passamos a participar da natureza divina, a ter comunhão com Deus e, por isso, Seu caráter nos é transmitido, motivo por que ficamos “cheios de toda a bondade” (Rm.15:14).

Entretanto, nunca podemos nos esquecer de que a bondade é resultado da ação do Espírito Santo em nossas vidas e que somente pode ser bom quem está ligado na videira verdadeira.

– Verdade é que o homem, como criatura que é de Deus, é um ser “muito bom” (Gn.1:31). Entretanto, a partir do instante em que adquire a consciência do bem e do mal, inevitavelmente peca, diante da natureza pecaminosa que herdou de Adão, passando a ser um ser mau, a ponto de só imaginar o mal continuamente (Gn.6:5), vez que passa a ser dominado pelo desejo do pecado (Gn.4:7).

Quando nos convertemos e buscamos a Deus (Is.55:7), vencemos o maligno (I Jo.2:13) e, por isso, podemos praticar o bem.

– As obras de um verdadeiro filho de Deus são boas e, por causa delas, os homens glorificam a Deus que está nos céus.

O homem bom é um ramo da videira verdadeira e, por isso, a Bíblia diz que os seus passos são confirmados pelo Senhor (Sl.37:23). Nesta passagem muito conhecida dos Salmos, aliás, estão duas verdades que nem sempre são corretamente meditadas pelos crentes, a saber:

a) os passos do homem bom são confirmados pelo Senhor, ou seja, se o Senhor confirma os passos é porque foi quem os determinou. O homem bom anda segundo a orientação do Senhor.

b) o homem bom deleita-se no caminho do Senhor, ou seja, o homem bom é aquele que anda segundo a vontade de Deus e tem prazer em obedecer ao Senhor.

– Por isso, devemos distinguir entre o homem bom e o homem que beneficia alguém (Mt.7:11). Nem sempre quem beneficia alguém é um homem bom, mas o homem bom sempre beneficia alguém.

A bondade é resultado de uma comunhão com Deus, a prática do bem ao semelhante é consequência da salvação.

Por isso, o apóstolo Paulo pôde dizer que alguém é capaz de dar toda a sua fortuna para sustento dos pobres e, apesar disto, não ter o amor divino (cfr. I Co.13:3), pois o simples fato de se beneficiar alguém não significa que a pessoa tenha comunhão com Deus. Por isso, as boas obras não salvam pessoa alguma, embora não seja possível que um salvo não as pratique.

– A bondade no ser humano, como diz Jesus em Mt.5:16, é a forma mais eloquente de o homem refletir como espelho a glória de Deus (II Co.3:18), daí porque se dizer que é a bondade, ao lado da beleza e da verdade, uma das perfeições das criaturas que refletem a perfeição infinita de Deus. Por isso, o ato bom não é visto apenas na aparência exterior, mas deve resultar de uma vida de comunhão com Deus, tem sua origem no próprio Deus que habita no crente (Jo.14:23).

O Catecismo da Igreja Romana, numa feliz definição, diz “…O ato moralmente bom supõe a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias.

Uma finalidade má corrompe a ação, mesmo que seu objeto seja bom em si (como, por exemplo, rezar e jejuar “para ser visto pelos homens”).…” (CIC, § 1755).

– Tanto a bondade é o resultado de uma vida de comunhão com o Senhor que o apóstolo Tiago afirma que “…a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai é esta:

visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg.1:27), ou seja, prova-se que se está em comunhão com Deus quando se está em santidade e quando se praticam boas obras.

É um sinal característico do povo de Deus, como podemos ver na própria descrição da igreja primitiva, onde os crentes “…tinham tudo em comum, vendiam suas propriedade e fazendas, repartiam com todos, segundo cada um havia de mister(…) partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração.” (At.2:44b-46), ou, ainda, “…ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns(…).

Não havia, pois, entre eles necessitado algum, porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos e repartia-se por cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.…” (At.5:32b-35).

– E, para não dizer que isto foi o resultado de uma ação sobrenatural e única de Deus na igreja de Jerusalém, registremos aqui o comportamento das igreja gentílicas: “…quanto à administração que se faz a favor dos santos, não necessito escrever-vos, porque bem sei a prontidão do vosso ânimo, da qual me glorio de vós para com os macedônios, que a Acaia está pronta desde o ano passado e o vosso zelo tem estimulado muitos.…” (II Co.9:2).

– As “boas obras”, também chamadas de “obras de misericórdia”, têm sido listadas pela tradição cristã ao longo dos séculos, nitidamente por influência da Igreja Romana que, não acidentalmente, tem sido uma instituição que tem se notabilizado, mormente nos países do continente americano, por suas obras filantrópicas (não podemos deixar de reconhecer o fato de que todos os principais projetos sociais atualmente em andamento em nosso país são direta, ou indiretamente, vinculados à Igreja Romana).

As “obras de misericórdia” são definidas como sendo “…ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais (cf. Is 58,6-7; Hb 13,3)…” (CIC, §.2.447).

A lista, embora não possa ser considerada como exaustiva, ou seja, embora não contenha todos os atos bons que possam ser praticados, são uma válida ilustração para sabermos se temos sido bons, se “fazemos bem” assim como nosso Senhor e Salvador enquanto aqui esteve. Ei-la:

a) obras de misericórdia espirituais: instruir, aconselhar, consolar, confortar;

b) obras de misericórdia corporais: dar de comer ao faminto, dar abrigo a quem não o tem, vestir ao desnudo, visitar os enfermos e os presos, enterrar os mortos, dar esmolas.

– A prática da bondade é um elemento indispensável na vida do crente, que deverá fazê-lo não só individualmente, como mostra o testemunho eloquente de Barnabé no livro de Atos dos Apóstolos, como também coletivamente, como dão exemplo robusto as igrejas locais dos tempos apostólicos, seja a igreja de Jerusalém, sejam as igrejas em Corinto, na Acaia, ou na Macedônia.

O próprio Jesus, em Seu ministério, tinha um grupo de pessoas que cuidavam dos pobres, tanto que havia uma bolsa, que ficava a cargo de Judas Iscariotes, para esta finalidade (Jo.12:4-8).

OBS: “…A função social da Igreja já iniciou com Jesus. Num espírito humanitário, Ele sempre procurou socorrer os necessitados e tinha Sua atenção voltada para a sociedade, colocando sempre as necessidades espirituais acima das materiais, com Seu espírito de misericórdia e compaixão sempre voltado a todos.

A Igreja, portadora do mesmo sentimento de amor, sempre foi voltada para o social, procurando suprir as necessidades e socorrer os crentes.(…).

Valorizar a alma humana, com um valor maior que o mundo inteiro, sempre foi a filosofia do Divino Mestre, não deveriam, porém, esquecer das necessidades físicas.(…).

 É perturbador para uma igreja que enfatiza a justificação pela fé e tem perdido de vista o fato de que aquilo que praticamos também se reveste de grande importância. A ausência de tais obras é prova de ausência de fé.

A fé sem obras é morta (Tiago 2.20).…A melhor caridade é aquela que é feita com seus próprios recursos, dentro das suas possibilidades, pois fazer esmola com a ‘carteira’, riqueza dos outros não é caridade.…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.120-5).

– Então, perguntemos a nós mesmos: temos uma bolsa para os pobres, ou seja, há, no nosso orçamento doméstico, uma verba para fazermos o bem, ajudarmos os necessitados, ou o consumismo desenfreado, os gastos supérfluos, as vaidades humanas têm devorado esta quantia e, tal como Judas Iscariotes, lançamos mão daquilo que deveria ajudar quem precisa?

 Nossa congregação, nossa igreja local tem uma bolsa para os pobres, ou, também, tem se envolvido em tantas atividades e tantas obras que não resta qualquer ajuda aos necessitados, até mesmo para os crentes, que dirá para os não-crentes da área abrangida por nossa igreja local?

Temos ajudado as iniciativas de irmãos valorosos e abnegados, que têm procurado minorar a crescente miséria da população que nos cerca, ou temos nos comportado como aqueles descritos em Tg.2:16?

– É verdade que a ação social das Assembleias de Deus é pífia, diante do tamanho dela em nosso país.

Nem falemos dos católicos romanos, que aqui chegaram juntamente com os portugueses no século XVI e que, “pelo tempo e privilégios que têm no Brasil, tinham mesmo que ter, pelo menos, uma boa infraestrutura de assistência social” ou, quem sabe, dos espíritas, que, “afinal de contas, existem há, praticamente, 100 anos em nosso país e são, particularmente, majoritários nas classes abastadas de nossa nação”.

Não, para que não tenhamos estas justificativas, olhemos para as denominações neopentecostais, que, em sua maioria, não têm, ainda, 40 anos de vida, mas cujas obras sociais são muito maiores do que as nossas.

Dirão alguns, “mas, também, com o mercenarismo que as caracteriza, têm capital suficiente para isto”.

Mas, em resposta, diremos que, embora concordemos que elas sejam mercenárias, muitas vezes, não é interessante que, com toda esta suposta ganância, tenham conseguido investir muito mais do que nós em obras assistenciais? Se eles, tão gananciosos, investiram muito mais dinheiro do que nós na ação social, do que devemos ser chamados?

Jesus exaltou a oferta da viúva, porque os ricos davam o que sobrava enquanto que ela deu o que tinha, mas podemos dizer que estamos dando o que temos? Ou será que queremos ter o agrado do Senhor, que é o mesmo, sem dar coisa alguma?

– Logicamente que a bondade não se limita ao aspecto material, como, aliás, observamos na lista das “obras de misericórdia”.

Por isso, não é desculpa a falta de recursos materiais para não se praticar atos de bondade. Quem não pode vestir, dar de comer ou dar abrigo a alguém, pode consolar, instruir, confortar, visitar.

“…A bondade não consiste em dar presentes, mas na doçura e na generosidade do espírito.

Pode-se dar dinheiro da algibeira sem nada que venha do coração. A bondade que se contenta com dar dinheiro não vale grande cousa e muitas vezes faz tanto mal como bem, mas a bondade que se traduz por uma verdadeira simpatia e um auxílio oportuno nunca deixa de dar bons resultados(…).

A verdadeira bondade procura e favorece tudo o que pode servir para fazer o bem no presente e, olhando para o futuro, trabalha com o mesmo espírito para a elevação e a felicidade da humanidade.…” (SMILES, Samuel. Trad. de D. Amélia Pereira. O caráter, pp.290-1).

– O salvo pratica boas ações, tem “bondade”, que é “a boa qualidade” (na origem da palavra “bonitas”, em latim), é aquele que será convidado pelo Senhor a ingressar nas mansões celestiais porque, como prova de que era ramo da videira verdadeira, deu de comer ao faminto, hospedou o desabrigado, vestiu o desnudo, visitou o enfermo e o preso (Mt.25:34-40).

Que Deus nos guarde de uma falsa conversão que, no dia do juízo final, será provada pela ausência de atos de bondade em nossas vidas (Mt.25:41-46).

Pelo que temos praticado, qual será o nosso destino diante do Reto e Supremo Juiz ? Somos dos “figos bons” ou dos “figos maus” (Jr.24) ? Que Deus nos desperte e que tenhamos benignidade e bondade em nossas ações.

– O ilustre comentarista trouxe a bondade como sendo uma qualidade “que confere vida”, certamente opondo-se à obra da carne do “homicídio”, ou seja, do assassinato, do derramamento de sangue, que é, como apontou Tomás de Aquino ao dissertar sobre as obras da carne relacionadas com o próximo, o último estágio que se inicia com as inimizades, de onde nasce o “ódio ao próximo”, que acaba tendo seu ponto final de trajetória no derramamento do sangue.

– O Senhor Jesus, no sermão do monte, foi bem claro ao mostrar que homicida é aquele que odeia o seu próximo (Mt.5:21-26), bastando se encolerizar sem motivo contra ele, a ponto de simplesmente chamá-lo de “idiota”, “imbecil’ ( que é isto que significa a palavra aramaica “Raca” empregada no texto), para que se seja réu do sinédrio, ou seja, digno de ser condenado à morte.

Por isso, como bem se disse na lição anterior que a benignidade é um escudo protetor contra as porfias, a bondade é o antídoto certo para se impedir a morte, para se conferir vida e vida em todos os sentidos, não somente a preservação da vida física de alguém, mas, sobretudo, para que se possa ter a comunhão entre os homens e entre os homens e Deus, pois, como sabemos, vida, nas Escrituras, significa comunhão, união, unidade.

– Jesus disse que veio ao mundo para trazer vida e vida em abundância (Jo.10:10) e, por isso mesmo, foi alguém que andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).

– Quando somos bons, quando praticamos a bondade, levamos vida para as pessoas, pois, além de propiciarmos a proximidade nossa para com elas, dando ensejo ao amor fraternal, à solidariedade, à construção da necessária convivência entre os humanos, pois não é bom que o homem esteja só (Gn.2:18), também estamos dando condições para que as pessoas possam, ao ver nossas boas obras, ver o nosso Pai celestial e glorificá-l’O, que é um primeiro passo para que possam nascer de novo e, assim, tornarem-se novas criaturas, nascerem de novo e receberem de Deus a vida eterna por meio de Cristo Jesus.

– Assim como a inimizade, surgida do egoísmo, traça uma trajetória que leva até o derramamento de sangue, na macabra sequência de abismo em abismo das obras da carne concernentes ao próximo, como indica Tomás de Aquino, também há uma sequência virtuosa, iniciada na longanimidade e que chega até a bondade, que nos faz levar a vida as pessoas, ou seja, que nos faz levar Cristo às pessoas, até porque em Cristo está a vida (Jo.1:4), Ele é a própria vida, a luz dos homens (Jo.1:4).

– Eis a nítida importância das boas obras dos salvos na pessoa de Jesus Cristo para o trabalho de evangelização, para que cumpramos a missão que é a única razão pela qual estamos aqui nesta Terra e não fomos ainda arrebatados para vivermos para sempre com o Senhor.

As boas obras não salvam, mas elas anunciam a salvação. Temos seguido esta sequência virtuosa em nossas vidas? Pensemos nisto!

– Eis a “macabra” sequência das obras da carne relacionadas ao próximo segundo Tomás de Aquino: “…E contra o próximo, aponta nove males nove pontos.

O primeiro são as inimizades e os últimos, os homicídios, porque aquelas levam a esses. Então, o primeiro é a inimizade no coração, que é o ódio ao próximo.

Os inimigos serão os da sua própria casa (Mt.10:36). E diz inimizades. A maioria delas fazem nascer o litígio da palavra. Por isso, ele diz: porfias, que é a contestação da verdade com o atrevimento dos gritos.

Honroso é ao homem o desviar-se de questões (Pv.20:3).

O segundo é o ciúme, que consiste na disputa com outro para obter a mesma coisa. Por isso, ele diz: ciúme, nascido da contenda.

O terceiro ocorre quando alguém disputa a mesma coisa com outrem e, por causa isso, passa a irritá-lo, e ele diz: iras (a ira do homem não opera a justiça de Deus: Tg.1:20 ; Ef 4:26: Não se ponha o sol sobre a vossa ira).

A quarta ocorre quando a raiva vir a golpes, e, a este respeito, diz: brigas o (ódio excita contendas Pv.10:12).

O quinto são as dissensões, que, se ocorrem em assuntos humanos, assim se chamam quando há parcialidades na 1greja – “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. (Rm.16:17).

Se elas ocorrem em assuntos divinos, são chamadas de seitas e os sectários são hereges, “que introduzirão seitas de perdição” (II Pe.2:1).

E logo: “ blasfemando, não receiam semear heresias” (II Pe.2:10). E dessas se seguem as invejas, quando aqueles com os quais há emulação prosperam.

Ao pequeno mata a inveja (Jó 5:2) [tradução da Vulgata Latina, observação nossa]. E de todos os males anteriores se seguem os homicídios de pensamentos e de obras. Aquele que odeia a seu irmão é um homicida (I Jo.3:15).…” (AQUINO, Tomás de. Aos Gálatas. Lição 5: Gl.5:18-21. Cit. de Gl.5:13-26, n.35. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 15 nov. 2016) (tradução nossa de texto em espanhol).

IV – A BONDADE E A BEM-AVENTURANÇA DOS MISERICORDIOSOS

– Não basta ser puro em suas intenções, é preciso fazer o bem aos outros. Ser bom é isto, é fazer o bem.

Ora, a Bíblia nos fala que Deus é bom (Sl.52:8) e não fosse a Sua misericórdia, já teríamos sido consumidos (Lm.3:22). Jesus andou fazendo bem (At.10:38) e se somos Seus imitadores, devemos também ser bons.

A bondade não é algo próprio do homem, ninguém é bom por seus próprios méritos (Mt.19:17), mas algo que é transmitido ao homem mediante a salvação. Temos feito o bem ?

A Bíblia é taxativa ao dizer que é pecado não fazer o bem quando o sabemos fazer (Tg.4:17).

– É, também, uma bem-aventurança a bondade, a ação de fazer o bem, que é a misericórdia, como já vimos supra. ” Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7), disse Jesus no sermão do monte.

Os filhos de Deus, por serem bons e estarem semeando o bem, certamente colherão a bondade divina e, no dia do arrebatamento, serão poupados da ira do Senhor (I Ts.1:10), em mais uma demonstração de misericórdia do Senhor para com o Seu povo. Mas não é só na vida vindoura que o Senhor demonstrará a Sua misericórdia, mas, ainda nesta vida, o que semeamos, será colhido.

– Lemos como Davi foi ajudado por alguns quando foi destronado por seu filho Absalão, ajuda que foi indispensável para que não viesse a perecer.

Por que Davi foi ajudado? Porque, quando estava no reino, ou quando fugia da presença de Saul, nunca deixou de ajudar todos aqueles que vinham a ele, como os atribulados e angustiados de coração, que se juntaram a ele na caverna de Adulão, ou Mefibosete.

Em contrapartida, vemos como pessoas sem misericórdia, sem misericórdia foram tratados, como são os casos de Adoni-Bezeque (Jz.1:6,7) e Abimeleque (Jz.9:56,57), por exemplo.

– Nunca nos esqueçamos que ter misericórdia é sentir a infelicidade, a miséria do outro e tentar retirá-la ou, pelo menos, minorá-la.

Deus não Se agrada de quem se alegra no mal do outro, ainda que seja do inimigo, do perverso (Pv.24:17), porque isto é falta de misericórdia. “…o que se alegra da calamidade não ficará impune” (Pv.17:5b), enquanto que o que se compadece do necessitado, honra a Deus (Pv.14:31b). Tomemos cuidado, pois.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.mediafire.com/file/58god5091h5f265/1T2017_L8_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf

Slides: http://pt.slideshare.net/natalinoneves1/lba-lio-8-a-bondade-que-confere-vida

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