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LIÇÃO Nº 7 – BENIGNIDADE: UM ESCUDO PROTETOR CONTRA AS PORFIAS

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O salvo, por ser filho de Deus, deseja no seu íntimo o bem a todos .

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INTRODUÇÃO

– Neste estudo, observando a sequência de Gl.5:22, falaremos de mais uma qualidade do fruto do Espírito Santo que se refere ao relacionamento do crente com o próximo, a saber, a benignidade, que é o desejo íntimo, a disposição interna de alguém de querer o bem do semelhante.

– A Bíblia afirma que Deus é grande em benignidade (Nm.14:19; Sl.103:8) e, se somos Seus filhos, temos de ter esta mesma característica.

I – O QUE É BENIGNIDADE

– O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa diz que “benignidade” é “qualidade de ser benigno” e “benigno” é aquele “cuja índole é boa; de bom caráter; benévolo, humano, bondoso; que é cortês, prestativo, no tratamento com os outros; complacente, generoso, benevolente.”

É frequentemente utilizado para traduzir o termo hebraico “hesedeh”(חסד ), que, no mais das vezes, aparece no livro dos Salmos, e que, algumas vezes, é traduzida, em português, por “misericórdia” ou “bondade” que, como veremos ainda neste estudo, na próxima lição, diz respeito a outra qualidade do fruto do Espírito.

– Segundo o Novo Dicionário da Bíblia, organizado por J.D. Douglas, “…seu significado pode ser sumarizado como ‘amor constante à base de uma aliança’. É palavra empregada para indicar tanto a atitude de Deus para com o Seu povo como a atitude do povo de Deus para com Ele, sendo que Oséias se refere especialmente a este último caso.…” (Benignidade. In: op.cit., v.1, p.203).

Em o Novo Testamento, em Gl.5:22, a palavra grega traduzida por benignidade é “chrestotes”(χρητότης), que significa, “…a capacidade de agir pelo bem-estar daqueles que testam sua paciência.…” (Bíblia de Estudo Plenitude, p.1220[palavra-chave]).

– Pelo que vemos entre os dicionaristas (também chamados de lexicógrafos), a palavra “benignidade” está vinculada a uma disposição interna de alguém em favor dos outros, ou seja, um sentimento de bem-querer, de boa vontade, um desejo de bem-estar em relação ao semelhante.

“…É uma virtude que nos dá condições de tratar os outros com carinho e meiguice.…”(BÉRGSTEN, Eurico. Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.27). É uma vontade de fazer bem ao semelhante, de desejar o melhor ao próximo, de considerar e querer o sucesso daquele que conosco convive, independentemente de quem seja este outro.

– O latino “benignus” indica algo que é “bom de natureza”, ou seja, algo que tem origem boa, significado, aliás, ainda hoje presente em nosso idioma, como, por exemplo, na expressão “tumor benigno”, usado na medicina, a indicar um tumor que não prejudica o restante do organismo.

– A pessoa benigna, portanto, é aquela que tem uma índole boa, ou seja, que quer sempre o bem das pessoas que a cercam, que não suspeita mal das pessoas, que não deseja prejudicar o semelhante.

A benignidade é resultado direto da presença do amor divino na vida de alguém, pois a Bíblia nos ensina que o amor divino é benigno (I Co.13:4), não é invejoso (I Co.13:4) e não suspeita mal (I Co.13:5 “in fine”).

II – DEUS É BENIGNO

– Como sabemos, o fruto do Espírito Santo é a demonstração de que, após a salvação, somos participantes da natureza divina (II Pe.1:4). Assim, se um dos “gomos” do fruto do Espírito é a benignidade, isto somente se dará se Deus for benigno.
– Ora, a Bíblia afirma que Deus é benigno.

Faz parte da Sua natureza querer o bem do ser humano. Vemos que, assim que criou o homem, Deus providenciou um local adequado para que o homem tivesse não só condições de cumprir a tarefa que lhe fora cometida, mas que, prazerosamente, pudesse viver.

As Escrituras dizem que Deus plantou um jardim no Éden e ali pôs o homem que havia formado (Gn.2:8), um local onde fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista e boa para comida bem como providenciou que houvesse um rio que regasse o jardim (Gn.2:9,10).

Tudo isto revela que o Senhor sempre teve boa vontade para com o homem, desejo de lhe fazer sempre o bem, algo que não se abalou nem mesmo após a queda do homem, como podemos verificar no gesto de Deus em arrumar vestes ao primeiro casal (Gn.3:21) e, muito mais do que isto, pela Sua disposição em providenciar a salvação do homem (Gn.3:15).

– As Escrituras revelam, de forma abundante, que o caráter de Deus é benigno, ou seja, que é de Sua natureza o querer bem ao ser humano.

Em Gn.39:21, a Bíblia diz que o Senhor estendeu a Sua benignidade para com José e, em virtude disto, José passou a ter graça ante os olhos do carcereiro-mor. Isto indica, claramente, que a benignidade de Deus representa, ao homem, um gesto de boa vontade, uma disposição em lhe favorecer, em lhe trazer uma situação favorável.

– Por isso, a benignidade divina foi explicitamente demonstrada na encarnação de Cristo. Como disseram os anjos nos coros celestiais, a chegada de Jesus entre os homens representou “paz na Terra e boa vontade para com os homens”.

Deus revelava, no nascimento de Jesus, que queria o bem-estar dos homens, que queria lhes favorecer, e isto não resultava de mérito algum do ser humano, mas única e exclusivamente da disposição de Deus em nos abençoar, ou seja, da Sua benignidade.

OBS: Neste particular, é interessante observar que no Corão, livro sagrado dos muçulmanos, há uma indevida limitação à benignidade divina, que é restrita apenas aos obedientes, como se vê nesta passagem, por exemplo:

“…Aqueles que obedecem a Deus e ao Mensageiro, contar-se-ão entre os agraciados por Deus: profetas, verazes, mártires e virtuosos. Que excelentes companheiros serão! Tal é a benignidade de Deus. E basta Deus, Que é Sapientíssimo.…” (4:69,70) (Trad. Samir Hayek). Infelizmente, há muitos crentes que assim também pensam…

– A benignidade divina é a responsável pelo perdão que Deus nos dá. Em Nm.14:19, a Bíblia nos diz que Deus é grande em benignidade e, por isso, perdoou o povo de Israel durante toda a sua peregrinação de quarenta anos pelo deserto, apesar das muitas iniquidades cometidas, circunstância que se repetiu durante toda a história de Israel (Ne.9:30) e de que Davi (Sl.5:7; 36:7; 51:1) e Neemias (Ne.13:22), por exemplo, tinham plena consciência.

OBS: Poderá alguém dizer que não houve benignidade por parte de Deus com relação a Israel, porque toda a geração do êxodo pereceu no deserto, com exceção de Josué e de Calebe, mas o fato é que Deus os sustentou durante todos os quarenta anos até que aquela geração passasse, mas isto só ocorreu porque eles foram obstinados, ou seja, recusaram terminantemente todas as ofertas de boa vontade de Deus até o momento do retorno dos espias da Terra Prometida.

Deus nunca deixou que faltasse coisa alguma a Israel durante os 40 anos, mas eles endureceram o seu coração para Deus (cfr. Hb.3:7-19).

– A benignidade divina é a responsável pela manutenção da nossa existência. Porque Deus tem boa vontade para com o ser humano, mantém a existência humana sobre a face da Terra, apesar dos pecados cometidos.

Quando Deus retira a Sua benignidade, a existência cessa, quando vemos com a geração antediluviana, com exceção de Noé, com as cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim) ou com a casa real de Saul, com exceção da linhagem de Jônatas (II Sm.7:15) ou a independência política de Judá nos dias de Jeremias (Jr.16:5).

A casa real de Davi foi conservada por causa da benignidade divina (II Sm.22:51; I Cr.17:13) e, por isso, mesmo fora do trono, pôde subsistir até o nascimento de Cristo (Mt.1:1-17).

– A benignidade divina é eterna, dura para sempre, como diz o lindo refrão do Salmo 136. Se a ira de Deus dura um certo momento, um certo tempo (cfr. Dn.12:1), a boa vontade de Deus para com o homem não tem limite temporal, é para sempre, é eterna. Deus sempre está disposto a fazer o bem para o homem.

Por isso, dá chuva e sol tanto ao justo quanto ao injusto (Mt.5:45), a fim de que todos venham a conhecer a Sua boa vontade. Este, aliás, é um dos aspectos que devemos sempre levar ao conhecimento dos homens: que Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).

Esta disposição divina não é limitada quanto ao tempo e está presente em todos os momentos da vida, mesmo quando alguém está sendo morto por causa dos crimes cometidos, como nos mostra o episódio do ladrão da cruz.

Preocupamo-nos, bem por isso, com certas pregações que insistem em mostrar um Deus irado, raivoso, cruel, pronto para lançar o homem no lago de fogo e enxofre. A benignidade de Deus dura para sempre, não cansaram de cantar os cantores e o povo de Israel (II Cr.5:13; 7:3,6; 20:21; Ed.3:11).

– A benignidade divina é grande (Sl.5:7), ou seja, não tem limites espaciais. Assim como dura para sempre, a benignidade de Deus não escolhe lugar nem espaço.

Mais de uma vez, as Escrituras dizem que Deus estendeu a Sua benignidade, expressão que nos permite inferir que a benignidade de Deus, além de ser grande, é capaz de se estender, como um verdadeiro elástico, ou seja, como nos ensina a física, a elasticidade é a propriedade que têm os corpos de retomar sua forma quando deixou de atuar a força que os deformava, é a capacidade de se esticar.

É uma propriedade que demonstra ausência de resistência por parte de um material. A benignidade divina é assim, ela se estica, ou seja, ela não oferece resistência para atingir a vida de um ser humano, sem que isto represente qualquer alteração ou deformação no caráter divino.

– Por isso, é dito que o Senhor estendeu Sua benignidade para atingir um estrangeiro cativo, sem família e sem qualquer posição social, como era José (Gn.39:21), como também que o tenha feito em relação ao rei(Pv.20:28). Para pequenos e para grandes, indistintamente, o Senhor usa da Sua benignidade, particularmente para os que O conhecem (Sl.36:10).

– A benignidade divina leva-nos ao arrependimento dos nossos pecados (Rm.2:4). Com efeito, foi pela benignidade de Deus, pela Sua disposição de fazer o bem ao homem, que foi engendrado todo o plano da salvação e, por causa dele, alcançamos a salvação, cujo ponto inicial é o arrependimento dos pecados, após o convencimento operado pelo Espírito de Deus. A boa vontade de Deus para com os homens na pessoa de Cristo apresenta-se na mensagem pregada pelo Filho no limiar do Seu ministério terreno: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. (Mc.1:15 “in fine”).

– A benignidade divina é responsável pelo desfrute das riquezas da graça de Deus em nossas vidas (Ef.2:7). A graça de Deus nada mais é que o favor não merecido que recebemos de Deus e este favor só nos é dado porque o nosso Deus tem disposição em nos favorecer, ou seja, a benignidade de Deus é quem gera a Sua graça, pela qual somos salvos (Ef.2:8; Tt.2:11).

III – O CRENTE DEVE SER BENIGNO

– Tendo visto que Deus é benigno, como Seus filhos, é imperioso que vejamos o que significa sermos benignos, algo que, necessariamente, teremos de ser, pois, como já sabemos, as qualidades do fruto do Espírito são indissociáveis, isto é, não podem ser separadas e têm de estar presentes em todos aqueles que são verdadeiros ramos da videira verdadeira.

– A benignidade é a disposição de fazer o bem. O verdadeiro e genuíno cristão, aquele que é filho de Deus, tem de ter a mesma disposição que Deus tem de fazer o bem ao ser humano.

O crente tem de ser uma pessoa de boa índole, ou seja, alguém que, no seu interior, tem o desejo ardente, sincero e incondicional de buscar o bem do outro.

OBS: “.…Os vv.15 e 16 [Rm.12:15,16, observação nossa] vão além da tarefa de oferecer conselhos sobre como lidar com os conflitos. Apelam para o cristão no sentido de ajudar as pessoas, independentemente de sua posição social. O crente deve ver o valor das pessoas, em vez de concentrar-se em si mesmo.

Não importa se o mundo trate bem ou mal a alguém: Viva segundo este princípio e você estará ajudando a cuidar das pessoas segundo a vontade de Deus.…” (VIDA Radiante, v.4, p.36).

– Uma das características do homem sem Deus, do homem que jaz no pecado é, precisamente, o de buscar os próprios interesses, o de querer “livrar a sua pele”, pouco se importando com o bem-estar do seu semelhante.

É a atitude que vemos no primeiro casal após a queda. Adão não pensou duas vezes em culpar Eva pelo pecado, buscando tão somente se livrar da penalidade, sem se importar com o bem daquela que havia feito especialmente para si, para cessar seu sentimento de solidão.

Vemos, também, este mesmo comportamento em Caim, que, indagado sobre seu irmão, já morto, de forma cínica e egoísta, responde com uma outra pergunta ao Senhor: “sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9 “in fine”).

– A benignidade é resultado direto da ação do Espírito Santo, daí porque as Escrituras dizem que se trata de uma qualidade do fruto do Espírito.

Por isso, os anjos que anunciaram o nascimento de Cristo aos pastores disseram que Jesus representava “boa vontade para os homens” e não “homens de boa vontade”, como, vez por outra, vemos em cartões natalinos.

Não existem homens de boa vontade, a não ser depois que são nascidos da água e do Espírito, depois que aceitam a Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.

– A benignidade manifesta-se, portanto, em primeiro lugar, como o desejo de fazer o bem ao próximo, ao semelhante. Bem por isso muitos identificam esta qualidade como uma das qualidades do relacionamento com o próximo, ao lado da bondade e da longanimidade.

– A benignidade faz com que queiramos o bem do próximo, o bem do semelhante. Dá porque um dos sinônimos de benignidade é “benevolência”, “bondade de ânimo para com algo ou alguém”, “disposição favorável”, “boa vontade”, “manifestação de afeto”, “benquerença”, “afabilidade”.

Em nosso íntimo, portanto, queremos o bem do próximo, o bem do semelhante, ou seja, não é da nossa vontade que o outro sofra, que o outro tenha problemas, que o outro tenha prejuízo.

A benignidade, portanto, jamais pode conviver com o sentimento de inveja. Caim, uma vez mais, é apresentado na Bíblia como o exemplo de um homem maligno, malvado (I Jo.3:12a). Sua malignidade manifesta-se, na narrativa bíblica, pelo fato de ter se irado e caído o seu semblante ao perceber que a oferta de seu irmão Abel havia sido aceita.

Observemos que a ira de Caim não foi porque sua oferta não foi aceita, mas porque a de seu irmão tinha sido. Este é o problema do invejoso: ele não quer o bem do outro, ele não deseja que o outro progrida, prospere, seja feliz.

– A inveja sempre acompanha aqueles que são malignos, aqueles que são malvados, aqueles que não são benignos. Se alguém é invejoso e diz ser crente, é um mentiroso, pois o verdadeiro filho de Deus não pode ser invejoso, pois ele tem o amor de Deus e o amor divino não é invejoso (I Co.13:4).

Os invejosos são sempre malignos, pois desejam o mal do próximo, não o seu bem. Não foi sem razão que Ester chamou Hamã de mau (Et.7:6). Hamã era mau porque era invejoso. Como podemos afirmar que Hamã era invejoso?

a) porque, ao se exaltar com seus amigos a respeito de suas riquezas e de sua posição, mostrou que tudo o que possuía não lhe satisfazia, pois a única coisa que lhe satisfaria seria o mal sobre Mardoqueu (Et.5:11-14).

b) porque, ao ser indagado pelo rei Assuero, sobre o que se deveria fazer ao homem de cuja honra o rei se agradava, Hamã mostrou quanto cobiçava os bens do próprio rei Assuero (Et.6:6-8).

– Os malvados outra coisa não fazem senão querer o mal-estar, o prejuízo e a ruína dos outros (Sl.27:2; Mt.18:32), são egoístas nem se preocupam com coisa alguma a não ser com o seu próprio bem-estar (Jr.7:24; 16:12; 18:12).

Eles estão destinados a receberem o mesmo mal que cometem, pois Deus não Se deixa escarnecer (Gl.6:7). A Bíblia chega, mesmo, a dizer que Deus matou homens por os ter achado maus, como é o caso dos dois filhos de Judá, Er e Onã (Gn.38:7,9,10), o que, também, foi o motivo bíblico para a morte de Hamã e de sua família (Et.9:25).

Deus não conhece o homem mau (Sl.101:4) e Lhe são abomináveis os pensamentos do homem mau (Pv.15:26). O conselho do escritor aos hebreus é bem claro para nós ainda hoje: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. “(Hb.3:12).

– A benignidade, porém, não é apenas ausência de inveja, mas, também, a presença de uma disposição de favorecimento. Muitos, nos nossos dias, não invejam os outros, não querem o prejuízo dos outros, mas, simplesmente, não se comprometem.

Dizem desejar o bem do semelhante, mas não se dispõem a fazer coisa alguma em favor deste próximo, deste semelhante. Isto não é benignidade. Como vimos, Deus é benigno não porque desejou o bem do homem e, a exemplo do Deus dos deístas, com todas as suas boas intenções, deu-nos as costas e nos deixou à própria sorte.

Não, não e não! Deus desejou o nosso bem e, por isso, nos perdoa, não considera o tempo da ignorância (At.17:30) e cria as condições para que venhamos ao conhecimento da verdade (I Tm.3:4-8). Deus, neste Seu desejo, toma a iniciativa de propiciar o nosso bem.

– O crente benigno deve agir da mesma forma, deve tomar a iniciativa para fazer o bem ao semelhante, ao próximo, deve manifestar este seu desejo de fazer o bem.

Muitos relacionamentos, hoje em dia, não se desenvolvem e não oferecem condições para a glorificação do nome do Senhor, porque não há a manifestação da benignidade, não há a exteriorização da nossa vontade em ver o bem-estar dos outros.

Muitos têm se enclausurado em si mesmos, têm se fechado aos outros, são verdadeiras fortalezas no meio dos outros seres humanos, são ilhas isoladas num oceano de gente, o que impede as pessoas de saberem os nossos motivos e, o que é mais importante, o nosso interesse em que elas venham a ser favorecidas, venham a alcançar a felicidade, obtenham o bem.

A mensagem que temos para levar ao mundo, o evangelho, depende de irmos e pregarmos, depende de irmos e anunciarmos. Sem anúncio, sem manifestação, não há como fazermos chegar ao conhecimento dos homens a boa vontade de Deus para com o homem.

Sem anúncio, sem manifestação, não há como fazermos chegar ao próximo a nossa boa vontade para com eles. O salmista fez questão de dizer que anunciara a benignidade de Deus à grande congregação, ou seja, a todo o povo (Sl.40:10).

– Os dias maus que vivemos leva-nos a um sentimento de autopreservação, a um cuidado excessivo em mantermos nossa capacidade e nossa condição livre do conhecimento dos outros, uma atitude muito própria e adequada para um mundo em que a competição é cada vez mais intensa, cada vez mais decisiva em todas as áreas da vida, a começar pela profissional, mas não apenas nela.

A história de “não ensinarmos o pulo do gato” é cada vez mais uma tônica nos relacionamentos interpessoais, mas, quando vamos à Palavra de Deus, não é isto que aprendemos com Cristo.

Jesus não Se preservou, antes Se entregou de espírito, alma e corpo na obra que Lhe havia sido destinada e de forma a que Seus discípulos pudessem fazer obras maiores que a que Ele estava fazendo. “Não há maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (Jo.15:13).

Este mesmo sentimento encontramos em Paulo, que, numa profunda declaração, afirmou aos coríntios que: “Eu de muito boa vontade gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” (II Co.12:15). Este é o sentimento de benignidade que deve provir da videira verdadeira.

Temos agido assim ou, ao revés, assumimos a forma egoística do mundo em que vivemos, conformamo-nos a este mundo, desobedecendo, assim, explicitamente, a recomendação bíblica de Rm.12:2 “in initio”?

– Como podemos dizer que desejamos o bem de alguém se não dispomos a realizar obras que só nós podemos fazer e que contribuirão para que esta pessoa alcance o bem que lhe desejamos?

Será que desejamos, mesmo, como diz Tiago, o bem-estar de um irmão ou irmã que estiverem nus e tiverem falta de mantimento, com um simples cumprimento recheado de boas intenções, mas sem qualquer entrega de vestimenta ou de comida a este(a) necessitado(a)? (Tg.2:15-17).

Desejar o bem de alguém é se dispor a fazer o bem, é criar as condições para que o bem seja feito. Jesus é benigno e o provou não porque tenha dito que desejaria isto ou aquilo, mas porque se dispôs a fazer aquilo que afirmava desejar.

Assim, por exemplo, disse que desejou muito instituir e celebrar a ceia, mas não somente desejou, como o fez (Lc.22:15-20).

Também disse que desejava ver o leproso limpo e não ficou apenas no desejo, mas o limpou (Mt.8:3). Não deixou a sogra de Pedro deitada com febre, mas foi até a sua cama para tocá-la e curá-la (Mt.8:14).

Que possamos mostrar a mesma disposição de Cristo nas nossas vidas em relação aos nossos semelhantes!

OBS: Os gestos de Jesus em Suas curas tinham, aliás, precisamente, a finalidade de mostrar a Sua disposição em fazer o bem, pois bem sabemos que Jesus não necessitava tocar alguém para curar esta pessoa, como nos dá mostra a cura do servo do centurião, caso em que a disposição de Jesus foi mostrada pela sua resolução em ir até a casa do centurião(Mt.8:5-13).

– A benignidade, também, manifesta-se em nossas vidas pela ausência de prevenção contra as pessoas, pela presença da boa-fé. Aliás, a palavra “boa-fé” tem origem, conforme os gramáticos, no antepositivo “bon-“ ou “ben-“, que vem do latino “benignus”, ou seja, de benigno.

“Boa-fé” significa “ingenuidade”, “inocência”, “ignorância”. Uma pessoa de boa-fé é uma pessoa que não tem “segundas intenções”, que não é maldosa, que não suspeita mal, que não procura enganar o semelhante. Na atualidade, vigora um ditado popular segundo o qual “a pessoa ‘boa’, com o tempo, ganha um ‘b’ e vira ‘boba’ “.

Não deve, porém, ser este o pensamento do cristão sincero e genuíno. No mundo em que vivemos, que jaz no maligno, a mentira impera, pois estão todos escravizados pelo pai da mentira, que é o diabo (Jo.8:44).

Portanto, todos procuram se conduzir de forma a não serem transparentes, a esconder um ou outro dado da verdade, a fim de tirar proveito sobre o semelhante.

Entretanto, quando somos benignos, não podemos nos portar deste modo, pois, se temos o amor de Deus, este amor folga com a verdade (I Co.13:6). Por mais de uma vez, a Bíblia nos mostra, claramente, que a benignidade está indissoluvelmente vinculada à verdade (Sl.26:3;40:10,11; 86:15; 98:3; 115:1; 117:2; 138:20; Pv.20:28; Is.16:5; Os.4:1).

– Como podemos dizer que somos benignos se desconfiamos de tudo e de todos? Como podemos dizer que somos benignos se vemos maus intentos e más intenções em todos os atos e atitudes do próximo, a começar dos mais próximos?

Muitos têm se apartado do Senhor e se deixado levar por sentimentos absolutamente contrários à benignidade divina.

São extremamente desconfiados de todos e, nesta desconfiança, perdem a paz e a própria possibilidade de granjearem amizades sinceras e autênticas, pois, ao semearem desconfiança, serão, igualmente, tratados com desconfiança pelos outros. Já imaginaram se Deus nos tratasse como tratamos os outros?

– Quantos relacionamentos conjugais não se têm deteriorado por causa de ciúmes doentios, decorrentes desta falta de benignidade? Por que desconfiar tanto daquele cônjuge que Deus escolheu para estar ao nosso lado?

A desconfiança vem, quase sempre, quando não temos sido benignos, quando não temos nos pautado pela verdade. Se escondemos algo de nosso cônjuge, achamos que ele está fazendo o mesmo. Quando não há mais transparência, quando não há mais comunicação.

Como podemos achar que queremos o bem do cônjuge e ele também não o queira para conosco? Um comportamento doentio de ciúme não se justifica para alguém que se diga benigno, que queira, efetivamente, o bem-estar do cônjuge, que diz amar. Que cada cônjuge possa exclamar e viver as palavras do salmista: “mas eu confio na Tua benignidade” (Sl.13:5a).

– Quantos obreiros não fazem penar a obra de Deus porque se cercam de “cuidados” para não serem destituídos de suas funções? Temos de ser benignos, temos de saber que Deus quer o nosso bem e, sendo assim, não temos porque temer os homens. É hora de querermos o bem das pessoas e não termos medo de nos querer o mal.

Será que podemos ter a mesma fé de Davi expressa no Salmo 27? Não deixemos de querer fazer o bem, mesmo quando estivermos diante daquele que nos quer fazer o mal. Davi poupou, por duas vezes, a vida de Saul, que se fizera seu arqui-inimigo, mas, nem por isso, deixou de ocupar a posição que Deus lhe havia reservado.

O obreiro precisa saber qual é a vontade de Deus e, se está no lugar reservado por Deus a ele, não tem o que temer e, mais do que isto, não pode se deixar dominar por sentimentos próprios daqueles que não têm o Espírito de Deus, pois isto só irá tumultuar o seu ministério e lhe causar dano.

Que cada obreiro do Senhor possa exclamar e viver as palavras do salmista: “mas eu confio na Tua benignidade” (Sl.13:5a).

– Como afirma o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Spurgeon: “…Você também terá benignidade. Algumas pessoas são muito difíceis, severas, temperamentais, apaixonadas – mas o verdadeiro seguidor de Cristo será benigno e terno, assim como Ele era.…” (Exposição de Gl.5:13-26; 6:1-10. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols43-45/chs2632.pdf, p.7) (tradução nossa de texto em inglês).

– É por este motivo que o ilustre comentarista considerou a benignidade como “escudo protetor contra as porfias”, precisamente porque, em faltando a benignidade, os relacionamentos entre os homens serão sempre cercados deste estado de desconfiança, deste egoísmo que farão com que jamais se tenham relacionamentos saudáveis, mas apenas lutas, competições, ou seja, porfias, que o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa diz se tratar de “competição, rivalidade, disputa; contenda obstinada de palavras; discussão, disputa, polêmica”., ou seja, uma rigidez totalmente contrária à “elasticidade” da benignidade, uma dureza de cerviz que impede o reconhecimento do outro e a sua consideração como imagem e semelhança de Deus.

– Aliás, já vimos na lição 3 que a palavra empregada em Gl.5:20 para “porfias” é “eris” (έρις), que a Bíblia de Estudo Palavra Chave diz ter o significado de “discussão, i.e., consequentemente, briga – contenda, debate, luta, discussão, divergência” (Dicionário do Novo Testamento, n. 2057, p.2211).

– A benignidade é um verdadeiro “escudo protetor” contra as porfias, porque, quando se quer bem ao próximo, não se entra em atrito com ele, não se deseja mal a ele, mas, pelo contrário, há sempre um sentimento e uma atitude de contribuição para o bem do outro, para o seu progresso e engrandecimento, que retira toda contenda, toda luta, toda rivalidade, toda competição, que tanto tem caracterizado a convivência entre os homens de nosso tempo, “amantes de si mesmos” (II Tm.3:1-4).

– Tomás de Aquino, ao elencar as obras da carne, diz que nove delas dizem respeito ao relacionamento com o próximo, iniciando-se pelas inimizades e chegando até o homicídio, que nada mais é que o desenvolvimento final do que se começou como uma inimizade. Diz o grande teólogo da Idade Média: “…Contra o próximo se assinalam nove males.

O primeiro, inimizades, e o último, homicídios, porque aquelas levam a esses. Então, o primeiro são as inimizades no coração, que é o ódio ao próximo. Os inimigos serão os da sua própria casa (Mt.10:36). E diz inimizades. A maioria delas fazem nascer os litígios de palavras.

Por isso ele diz: porfias, que consiste na contestação da verdade com o atrevimento dos gritos. Honroso é para o homem o desviar-se das questões (Pv.20:3).…” (Aos Gálatas. Lição 5: Gl.5:18-21. Cit. de Gl.5:13-26, n.35. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 15 nov. 2016) (tradução nossa de texto em espanhol).

– A benignidade, uma vez presente no homem, impede o homem de odiar o seu próximo, faz querer-lhe bem e, dentro deste escopo, de forma alguma fará com que estejamos a serviço do inimigo de nossas almas, “homicida desde o princípio” (Jo.8:44).

– Matthew Henry afirma que a benignidade “…um temperamento brando, especialmente em relação aos nossos subordinados. A benignidade nos torna afáveis e corteses e prontos a perdoar, quando alguém nos ofende…” (Comentário bíblico completo – Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. Degmar Ribas Júnior, p.568).

Vemos, portanto, que a benignidade traz ao ser humano a disposição para o perdão e, com o perdão, não há que se falar em disputas ou retaliações, muito menos em rivalidade, porquanto o perdão traz consigo a paz e a reconciliação, elementos indispensáveis para restauração da solidariedade e do amor fraternal, da real vida em comunidade, visto que “não é bom que o homem esteja só” (Gn.2:18).

IV – A BENIGNIDADE E A BEM-AVENTURANÇA DOS PUROS OU LIMPOS DE CORAÇÃO

– Como temos feito ao longo do estudo das qualidades do fruto do Espírito Santo, procuramos mostrar a correspondência entre a relação das qualidades do fruto do Espírito em Gl.5:22 com o sermão das bem-aventuranças, ou seja, a introdução do sermão do monte de Jesus, registrado em Mateus e em Lucas.

– O amor é benigno e quem tem o amor de Deus produz benignidade. A benignidade, como vimos, é a qualidade da boa-fé, da ausência de más intenções, de malícia e de maldade no coração ou no pensamento de alguém. Uma pessoa benigna é uma pessoa pura de propósitos e de objetivos. Jesus disse que não veio para condenar, mas para salvar o mundo (Jo.3:17).

Nós, como filhos de Deus, coerdeiros de Cristo (Rm.8:17), também não estamos no mundo para o condenarmos, mas para contribuir para a sua salvação, daí porque termos o dever de pregar o Evangelho (Mc.16:15), que é a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16). Quais têm sido os nossos pensamentos e intenções?

– Esta benignidade é indispensável para que possamos ver a Deus. Jesus, no sermão do monte, foi claro ao afirmar que “bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt.5:8).

Para que tenhamos a visão de Deus, ou seja, para que haja comunhão entre o homem e Deus, é indispensável que haja pureza de coração, ou seja, não adianta sermos puros exteriormente, mas devemos ter uma pureza interior, de intenções, de propósitos e de objetivos, para que possamos ver a Deus. Esta pureza é resultado de uma vida de santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

– No sermão do monte, esta pureza de coração, esta benevolência é exemplificada na reação que devemos ter frente ao semelhante. Por causa da benevolência exigida ao discípulo de Cristo, devemos bendizer os que nos maldizem e orar pelos que nos caluniam (Lc.6:28), bem como “dar a outra face” (Mt.5:39; Lc.6:29).

Embora não tenhamos condição aqui de pormenorizar o significado desta famosa expressão, lembremos que isto só é possível quando quisermos o bem do outro, ainda que isto resulte em prejuízo para nós mesmos.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.mediafire.com/file/7i9w3y987bs8u6c/1T2017_L7_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf

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