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Lição 5 – Paz de Deus: Antídoto contra as Inimizades

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O salvo, por ter perdoados os seus pecados, passa a ter paz com Deus (Rm.5:1) e, em virtude disto, produz a paz de Deus.


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INTRODUÇÃO

– A terceira qualidade do fruto do Espírito mencionada por Paulo em Gl.5:22 e a última das três referentes ao relacionamento do salvo com Deus é a paz.

A paz não é um estado de ausência de conflitos, como tem entendido o mundo desde as eras mais antigas, mas o resultado da restauração da comunhão entre Deus e o homem por intermédio de Cristo Jesus.

– Tendo paz com Deus, mediante a reconciliação operada pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, o homem produz a paz de Deus e passa a ser um agente da transmissão deste estado de completude, equilíbrio e harmonia aos demais homens.

O filho de Deus é, sobretudo, um pacificador (Mt.5:9).

I – O QUE É PAZ

Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom” (שלם ), que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo.

A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se edisseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos.

“…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais. A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim, lâmed e mem.

A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom.

Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que foremfinanceiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, moraisconseguimos estar em paz;

shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO, Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+paz,+Talmude&hl=pt-BR Acesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (DOUGLAS, J.D.. Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).

– Assim, a primeira vez em que a palavra é empregada nas Escrituras Sagradas, na versão Almeida Revista e Corrigida, é em Gn.15:15, quando é utilizada pelo próprio Deus a Abrão, na revelação que o Senhor deu ao patriarca sobre a formação da nação hebreia, quando diz que Abrão iria a seus pais em paz, ou seja, que morreria em boa velhice, quando tivesse completado a sua peregrinação.

Em Gn.26:29, a expressão é utilizada por Abimeleque e seus oficiais, para dizer que tinham deixado Isaque partir com todas as suas riquezas, com todo o seu patrimônio, completo e inteiro, sem que lhe tivessem tocado.

Também, na chamada “benção arônica”, é dito que o Senhor levante o rosto sobre cada israelita, ou seja, se faça presente na vida de cada israelita e, assim, lhe dê a paz, ou seja, a completude, a integridade espiritual (Nm.6:26).

Em Jó 22:21, vemos explicitamente dito que ter paz é estar unido a Deus.

– Notamos que a paz, portanto, dentro do conceito do Antigo Testamento, é um estado de integridade, ou seja, um estado em que a pessoa se sente completa, se sente amparada, se sente segura, se sente inteira, o que somente é possível quando o homem está em comunhão com o seu Criador.

O ser humano foi feito para viver com Deus, foi feito para ser imagem e semelhança de Deus, para refletir a glória de Deus e, por isso, ao final de cada dia, Deus ia ao Seu encontro no jardim do Éden, para que o homem se sentisse completo.

Entretanto, com o pecado, houve a separação entre Deus e o homem (Is.59:2) e o homem perdeu este sentimento de completude, de integridade, perdeu a paz.

A separação entre Deus e o homem pelo pecado é a causa da falta de paz entre os homens.

É por isso que Paulo afirma que, com a obra redentora de Cristo, restaurou-se a paz.

Jesus é a nossa paz (Ef.2:14), porque derrubou a parede de separação que havia entre Deus e os homens. Cristo fez a paz (Ef.2:15).

– Fora de Israel, porém, a ideia de paz era outra.

Entre os gregos, cuja cultura foi determinante para a formação do pensamento ocidental, a paz era chamada de “eirene”(είρήνη), sendo concebida como um estado de ausência de conflitos.

A paz é considerada como sendo o estado de inexistência de guerras, o intervalo entre uma guerra e outra.

Na mitologia grega, a “paz” era uma deusa, filha de Zeus, o principal deus olímpico, e Themis, a deusa da justiça, cujo culto foi instituído em Atenas a partir de 374 a.C., quando os atenienses encerraram a sua guerra contra Esparta, a sua grande cidade rival na Grécia.

Desde então, a ideia de paz passou a ter esta ideia negativa, esta ideia de ausência de perturbação, de tranquilidade, de falta de agitação. É, precisamente, o sentido que tem a nossa conhecida expressão: “deixe-me em paz”.

Tanto é assim que, na mitologia grega, “Eirene” (a deusa da paz) era uma das “Horas”, divindades que se caracterizavam por serem divindades que personificavam alguns períodos de tempo, ou seja, a paz era considerada, entre os gregos, como algo passageiro, algo temporário.

– A ideia de paz como completude, como integridade somente veio depois da tradução das Escrituras para o grego (a chamada Septuaginta), quando, então, a “eirene” passou-se a se dar a ideia de “shalom”, até porque “shalom” foi traduzida por “eirene” naquela versão do Antigo Testamento.

OBS: Entre os árabes, a ideia de paz é similar à judaica.

Veja-se, por exemplo, o que diz a respeito o comentarista da tradução em português do Corão: “…Em contraste com os prazeres efêmeros e incertos desta vida material, existe a vida mais elevada, à qual Deus nos está constantemente exortado. Ela é denominada O Lar da Paz.

Eis que aí não há temores, desapontamentos, ou pesares. A ela todos são conclamados, mas serão escolhidos não aqueles que tiverem procurado as vantagens materiais, mas aqueles que tiverem procurado o Bom Aprazimento de Deus. A palavra Salam (Paz) provém da mesma raiz de Islam, a Religião da Unidade e da Harmonia. …”(nota 611 da tradução de Samir El Hayek do Corão)

– Jesus, ao falar da paz, fez uma distinção entre estes dois conceitos. Nas Suas últimas instruções aos discípulos, afirmou que lhes deixava a Sua paz, que não era a paz do mundo (Jo.14:27).

A paz do mundo, conforme inferimos dos ensinos do Senhor, era uma paz precária, insegura e sujeita a temores constantes, porque era apenas a ausência de conflitos, uma ausência que não era garantida por coisa alguma.

Era a situação vivida pelos contemporâneos de Cristo, que viviam a chamada “pax romana” (i.e., a paz romana), que era o período de ausência de guerras e de conflitos nas regiões que estavam sob o domínio romano, nos governos dos imperadores César Augusto e Tibério, que logo passaria, pois se tratava de apenas uma acomodação política instável e que dependia, fundamentalmente, da eficiência dos exércitos e dos órgãos de controle do poder romano.

A paz de Cristo é “shalom”, ou seja, o sentimento de comunhão, de estar completo com a habitação divina em nosso espírito, o que se obtém apenas por se ter alcançado a salvação em Cristo Jesus. Esta é a paz descrita nas Escrituras, vivida pelos crentes e que emana das atitudes do salvo.

II – O QUE É HARMONIA

– “…Na mitologia grega, a harmonia era honrada como a deusa que promovia a conjunção das forças opostas. Ela é filha do deus da guerra, Ares, e da deusa do amor, Afrodite, e representa a força harmonizadora da ordem no mundo, a qual trabalha num nível pessoal.

Ao mesmo tempo é honrada como a mãe das Musas, como protetora e patrona (patronesse) das ciências e belas-artes. Esta ideia de harmonia das forças, no sentido de uma arte de equilíbrio, duas forças polarizadas opostas em um todo dinâmico ordenado tem também um importante papel nas mitologias de outras terras.

Etimologicamente a palavra harmonia relaciona-se a uma das raízes conceituais da língua grega. A silaba “har”ou “ar” significa a unificação dos opostos num todo, Os verbos derivados tomam este sentido em 3 formas: num sentido mais material, num sentido ideal e num sentido cósmico, metafísico.

A palavra “ararisko” significa conectar, acoplar junto, unir num sentido material. A palavra äresko” significa acalmar (aliviar), mitigar e unificar num sentido ideal.

A palavra “harmozo” significa pertencer junto num sentido mais transcendental e cósmico. Ao mesmo tempo também significa sintonizar um instrumento ou tocar uma canção.…” (HATOUM, Marly Assi. O mito de Atalanta. http://www.google.com/search?q=cache:1PsOQwd-Gk8J:www.symbolon.com.br/artigos/omitodeatalan.htm+harmonia,+mitologia,+grega&hl=pt-BR Acesso em 18 dez. 2004).

– A palavra “harmonia” só se encontra na Bíblia Sagrada na Versão Almeida Revista e Atualizada, em II Co.6:15, palavra que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, é traduzida por “concórdia”, para indicar a “junção entre opostos”, a “complementação entre contrários”. R.N. Champlin define a paz como sendo “…um estado de calma e tranquilidade, livre de agitação e conflito; um estado de harmonia(…).

Espiritualmente falando, paz é uma cultivação (fruto) do Espírito (Gal.5:22) que produz harmonia e tranquilidade a despeito das circunstâncias…” (Paz. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.140-1).

Vemos, pois, que, biblicamente, a paz é a junção entre o homem e Deus, a instauração de uma comunhão, de uma convivência entre Criador e criatura, entre o fiel e o que era infiel, entre o Santo e o que era pecador, a complementação que restaura a integridade humana que foi perdida pelo pecado.

– A paz é o fruto da harmonia, ou seja, somente tem a paz quem desfruta do restabelecimento do equilíbrio do homem, o que se dá mediante a salvação, quando o ser humano, ao se arrepender dos seus pecados e crer em Jesus, é vivificado em Cristo, ou seja, seu espírito volta a se ligar ao Espírito de Deus, ocorre o novo nascimento e, deste modo, restaura-se a imagem e semelhança de Deus, que é o homem no projeto de sua criação, surgindo, então, a “harmonia”.

– É importante salientarmos, pois, que a “harmonia” é a conexão do homem com Deus, pois só assim o homem se completa. Insistimos neste ponto porque a ideia que se dissemina no mundo, hoje em dia, é a de que a “harmonia” é um estado de equilíbrio, de ausência de agitação, que se conseguiria mediante uma “introspecção”, ou seja, de um “retorno a si mesmo”, de um “retorno ao interior”, como se o homem, por si só, pudesse obter equilíbrio e paz.

Esta mensagem de “harmonia”, na verdade, dispensa Deus e defende que o homem é autossuficiente, é capaz de atingir o equilíbrio por sua livre iniciativa, pela acomodação das “forças positivas e negativas” que tem dentro de si. Esta é uma mensagem satânica, de deificação do ser humano e que tem sido disseminada pela Nova Era nos nossos dias e que está por detrás de muitos movimentos e manifestações, muitas das quais sob “roupagem científica”.

Tomemos cuidado, pois, com este conceito de “harmonia”, que nada tem a ver com o que a Bíblia nos fala sobre este assunto. Harmonia só se obtém mediante a nossa associação a Deus, associação que se faz única e exclusivamente mediante Jesus Cristo. Ele é quem faz a paz, como já vimos supra, Ele é a nossa paz.

OBS: “…Essa palavra [paz, observação nossa] pode ser usada para indicar todas as variedades de bênçãos favoráveis que criam o sentimento ou o estado de bem-estar, mas que, mais particularmente ainda, apontam para a ‘harmonia’ e a ‘unidade’, bem como para o ‘vínculo da unidade’ que podem caracterizar as relações entre homem e homem, ou entre o homem e Deus. Inerente a essa palavra destaca-se igualmente a ideia de ‘ordem’ e de ‘repouso’.

Aqueles que foram justificados e estão reconciliados com Deus gozam dessa ‘harmonia’, dessa ‘ordem’, desse ‘repouso’ e dessa ‘unidade’ com Deus, ou seja, do bem-estar não meramente intelectual, mas também espiritual, que se estende ao bem-estar da alam em sua existência total, tanto nesta vida ainda mortal como nos lugares celestiais, quando estivermos revestidos de nossa vida imortal.…” (CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado, v.3, com.Rm.5:1, p.645).

III– A NATUREZA E OS FRUTOS DA PAZ

– A paz, ao lado do amor e do gozo, é uma das qualidades do fruto do Espírito que estão vinculadas diretamente ao relacionamento entre Deus e o homem.

Dizia Charles Spurgeon que “…alegria e paz parecem florescer e amadurecer do amor…” (Exposição de Gl.5:13-26. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols43-45/chs2632.pdf, p.6-8 Acesso em 11 nov. 2016) (tradução nossa de texto em inglês), mostrando que se trata de uma qualidade diretamente vinculada ao amor.

Quando o homem aceita a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, recebe o amor de Deus, pois passa a ser morada de Deus, como também passa a ter alegria espiritual, vez que desfruta da satisfação de sentir a presença de Deus. Pois bem, este amor e esta alegria são acompanhados da paz, pois o homem, ao ser salvo, é enxertado na videira verdadeira, que é Cristo (Jo.15:1,4 e 5) e é, então, integrado em Jesus, tendo a sensação de que está completo, de que está inteiro. Aquele “vazio” que sentia em sua vida não mais sente, porque a sensação de inteireza e de integridade passa a dominar a sua vida. Este sentimento é a paz com Deus.

– O perdão dos nossos pecados nos justifica, isto é, nos torna justos. Nós, que éramos pecadores, ao aceitarmos Jesus, somos purificados pelo sangue de Jesus (I Jo.1:7), porque cremos em Jesus e, por isso, passamos a ter paz com Deus (Rm.5:1).

Ter paz com Deus é nos sentirmos um com Deus (Jo.17:20-23), de tal modo que possamos exclamar como Paulo que não mais vivemos, mas Cristo vive em nós (Gl.2:20).

– A paz, ao lado do amor e da alegria, portanto, constitui num dos elementos essenciais e básicos da mudança do caráter de uma pessoa que aceita a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, de forma que esta é uma qualidade que está associada a diversas qualidades que surgem na vida do crente.

Por isso, as Escrituras, frequentemente, associam a paz a outras qualidades, que estão ligadas a diversos aspectos da vida humana. Senão vejamos:

1) Na vida espiritual – A paz com Deus é resultado direto da salvação (Rm.5:1). Deste modo, a paz influencia diretamente a vida espiritual de alguém. “…A paz vem da calma certeza de que o desígnio de Deus para conosco (tal como para com Cristo) será perfeitamente realizado…” (CHAMPLIN, R.N. Paz. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.141).

A paz é o resultado da vivificação do nosso espírito, que volta a ter ligação com o Espírito de Deus e, por causa disto, as Escrituras relacionam a paz com:

a) a graça – Por diversas vezes, a Bíblia associa a graça com a paz. “Graça e paz” é expressão frequente na Bíblia, principalmente nas saudações das epístolas paulinas. Graça, sabemos, é o favor imerecido, é a boa vontade de Deus para com os homens, como disseram os anjos aos pastores de Belém no anúncio do nascimento de Jesus (Lc.2:14 “in fine”).

Esta boa vontade de Deus para com os homens, este favor imerecido ensejam no homem a paz, pois, ao sabermos que Deus quer nos salvar independentemente do que somos, isto é a melhor prova de que precisamos para estar tranquilos e certos de que não é por nossos méritos que nos completamos em Cristo, mas única e exclusivamente pelo Seu amor. O salvo não fica ansioso e inquieto para produzir boas obras para alcançar a salvação, porque sabe que é salvo pela graça, pelo favor imerecido de Deus.

OBS: “…Na hora presente, mesmo sob adversidade, o cristão desfruta da graça, mas futuramente usufruirá da glória, quando a salvação houver sido consumada com a volta de Jesus.…” (MALAFAIA, Silas. Lições da Bíblia. Revista nº 01, ano I, p.34).

b) o amor – Já vimos que amor, alegria e paz são qualidades do fruto do Espírito que dizem respeito ao relacionamento entre Deus e o homem. Ora, sabemos que a nossa reconciliação com Deus é resultado do Seu amor. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, que é a nossa paz. Se não fosse o amor de Deus, não teríamos paz. Por isso, a paz está estritamente ligada com o amor divino. Somente o amor de Deus pode preencher o coração do homem e lhe dar a paz. O amor de Deus nos dá paz, pois Ele é Deus de amor e de paz (II Co.13:11).

c) a vida – Paz é completude, é integridade, como temos visto. Ora, se paz é comunhão com Deus, temos que paz é vida, pois vida nada mais é do que a restauração da comunhão entre Deus e o homem. Morte é separação. Vida é comunhão e, como a paz é o resultado desta comunhão, torna-se evidente que onde há paz, há vida.

Por isso, Paulo diz que a inclinação para o Espírito é vida e paz (Rm.8:6) e o salmista que os anos do salvo, que é o que observa a Palavra do Senhor, são anos de vida e paz (Pv.3:2). O concerto que Deus firmou com a tribo de Levi é chamado de concerto de vida e paz (Ml.2:5) e como este pacto do sacerdócio levítico é figura do nosso sacerdócio, devemos nunca nos esquecer que Deus tem prometido aos fiéis vida e paz.

d) a alegria – “O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm.14:17). Vimos, no estudo passado, que a alegria espiritual é resultado da salvação, é um sentimento perene de satisfação. Ora, esta satisfação está relacionada com a integridade, com o sentimento de completude que nada mais é do que a paz. Portanto, a paz e a alegria andam juntas, pois a satisfação em que consiste a alegria é o resultado direto, é quase que um outro lado do sentimento de inteireza, de ser completo com a vinda de Deus em nós, que é a paz. Deus é Deus que enche de gozo e de paz (Rm.15:13).

2) Na vida moral – Como temos visto neste trimestre, a salvação muda o caráter do homem. Desta forma, suas atitudes passam a ser impregnadas de um alto senso de moralidade, pois passa a ter o mesmo caráter moral de Deus, a correta moralidade, a moralidade que foi criada para o próprio homem.

A paz tem influência direta sobre a vida moral do ser humano, tanto que as Escrituras relacionam a paz a qualidades morais do homem, tais como:

a) a santidade – o salvo é uma pessoa santificada, ou seja, que foi separada do pecado. O perdão dos pecados gera a santificação, de modo que a paz sempre está relacionada com a santidade. O escritor aos hebreus associou ambas as qualidades, ao dizer que devemos seguir a paz com todos bem como a santificação (Hb.12:14).

Os sacrifícios na antiga aliança que não eram para perdão de pecados, ou seja, os sacrifícios feitos por quem não estava em pecado, eram denominados de “sacrifícios ou ofertas de paz”, a indicar, claramente, que o estado de santidade, de separação do pecado, é um estado de paz (I Sm.16:4,5).

Daí porque dizer a Bíblia que os ímpios, ou seja, os pecadores não têm paz (Is.48:22; 57:21). Por isso, não há qualquer possibilidade de paz para o homem que não abandona o pecado (Is.59:8).

b) a justiça – “O efeito da justiça será a paz” (Is.32:17a). Paulo afirmou que a justificação pela fé produz a paz com Deus. Sabemos que a paz é a comunhão com Deus e esta comunhão só é possível mediante a remoção dos nossos pecados. Ora, quando os nossos pecados são perdoados, nós nos tornamos justos, pois pecado é injustiça, é iniquidade (I Jo.3:4).

Por isso o profeta disse que o efeito desta justiça é a paz. Os juristas (i.e., os estudiosos do direito e da lei) não cansam de dizer que somente haverá paz quando houver justiça, que é impossível alguém construir a paz se não estabelecer a justiça. Por isso, o reino milenial de Cristo será o governo perfeito sobre a face da Terra, pois nele justiça e paz se beijarão (Sl.85:10).

A justiça, na vida moral, resulta em dar a cada um o que é seu. O homem dará a cada um o que é seu quando tiver plena noção de sua posição diante de Deus, algo que provém do estado de paz com Deus, resultante da justificação pela fé. “ O fruto da justiça semeia-na na paz, para os que exercitam a paz.” (Tg.3:18).

OBS: A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, depois da Segunda Guerra Mundial, porque os povos, como diz a Carta das Nações Unidas, estavam decididos “…a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade…”.

No entanto, ao completar 60 anos de existência, neste ano de 2005, há uma constatação: a ONU tem fracassado no seu objetivo de “…praticar a tolerância e a viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos; unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais; garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada, a não ser no interesse comum…”.

Tudo isto porque resolveu alicerçar todos os seus esforços em “…reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem…”. Enquanto se tentar construir a paz com base no homem ou em

“…medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz…”,

o resultado não poderá ser outro, pois, enquanto se achar que “…a diplomacia é a arte de fazer a paz…”, como conceituou o Papa Paulo VI, enquanto não se chegar à constatação de que Cristo é quem faz a paz, não teremos senão guerras. (os trechos entre aspas foram retirados do preâmbulo da Carta das Nações Unidas).

c) a confiança – “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” (Is.26:3). A paz com Deus nos faz ser um em Cristo e nos dá condição de ter a convicção de que o Senhor cumprirá a Sua Palavra. “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre” (Sl.125:1).

A paz com Deus gera confiança em Deus e, apesar das turbulências, das aflições deste mundo, o salvo não se atemoriza, não se abala, porque tem a paz de Cristo em sua vida (Jo.16:33). Como diz Philip Schaff, citado por R.N. Champlin, “…A tribulação consiste tanto na perseguição vinda do exterior como na interrupção e perturbação causadas por este mundo ímpio. Não obstante, bem lá no fundo da alma, a paz continua a reinar, por mais que a superfície do oceano da vida seja agitada pelos ventos e tempestades da existência…” (op.cit., v.5, p.141).

Mas de uma vez, Jesus, ao anunciar a salvação de alguém, manda a este salvo que vá em paz, a indicar que o resultado da fé salvadora é de uma vida de paz, de uma contínua paz, uma paz como o rio (Mc.5:34; Lc.7:50; 8:48).

OBS: “…A paz de Deus é diferente da paz do mundo (ver Jo.14.27). A verdadeira paz não se encontra no pensamento positivo, na ausência de conflitos ou nos bons sentimentos. Ela vem de saber que Deus está no controle de todas as coisas. Nossa cidadania no Reino de Cristo está garantida, nosso destino já foi determinado e podemos alcançar a vitória sobre o pecado. Deixe que a paz de Deus proteja o seu coração contra a ansiedade..”(BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, com.Fp.4.7, p.1668).

d) a retidão – A paz com Deus faz com que o homem passe a ser reto, ou seja, justo, não no sentido de equidade, visto acima, mas no sentido de ser direito, de observar a Palavra de Deus(Is.57:2).

Ao lamentar sobre a infidelidade de Israel, o Senhor, pela boca do profeta, diz que, se Israel tivesse ouvido Seus mandamentos, o Senhor seria a sua paz como o rio e a sua justiça como as ondas do mar (Is.48:18).

Os que amam a lei do Senhor são os que têm muita paz (Sl.119:165). Nós, como sacerdotes reais (I Pe.2:9), também devemos, e com muito maior profundidade, andar em paz e em retidão e apartar muitos da iniquidade, como o profeta Malaquias testemunha a respeito de parte dos descendentes de Levi (Ml.2:6). Têm paz aqueles que andam conforme a regra, ou seja, conforme a Palavra de Deus (Gl.6:16).

e) a misericórdia – A paz está relacionada com a misericórdia (I Tm.1:2; II Tm.1:2; Tt.1:4, II Jo.3; Jd.2), que é a bondade em ação. Quem tem paz com Deus, é misericordioso, ou seja, faz o bem. Quem faz o bem e se aparta do mal, procura a paz e a segue (Sl.34:14; I Pe.3:11). Somente quem está unido a Cristo, quem é um com o Senhor e, portanto, tem paz com Deus, tem o mesmo sentimento compassivo e misericordioso de seu Salvador, que andava fazendo bem (At.10:38).

f) a verdade – A paz está relacionada com a verdade (II Rs.20:19; Is.39:8; Jr.33:6; Zc.8:16,19). Jesus é tanto a verdade (Jo.14:6) quanto a paz (Ef.2:14).

Assim sendo, não se pode falar em paz sem que se tenha a verdade. As Escrituras dizem-nos que o homem sincero e que considera a retidão terá um futuro de paz (Sl.37:37).

Por isso, a paz do mundo não é a verdadeira paz, porquanto o mundo segue o curso do pai da mentira e, neste passo, jamais poderá estabelecer uma paz que seja verdade(Jr.9:8; Ez.13:10). Eis um dos motivos pelos quais a falsa paz do Anticristo será desmascarada, como se lê em I Ts.5:3.

IV – AS TRÊS DIMENSÕES DA PAZ

– Embora o sentido bíblico da paz seja o de integridade, o de completude, as Escrituras nos falam, de três ou quatro aspectos da paz. Como afirma Lewis Sperry Chafer, “…a paz é o oposto da ansiedade no coração ou da discórdia ou inimizade entre indivíduos e nações.

Quatro aspectos da paz devem ser considerados: com Deus (Rm.5:1)(…), de Deus (Fp.4:7; Cl.3:15; cf. Hb.13:20) (…) No reino vindouro (Is.9:6,7)(…) Em um só corpo (Ef.2:14-18; Cl.1:20)…” (Teologia sistemática. t.4. v.7, p.197).

– A primeira dimensão da paz é a paz com Deus, como nos diz o texto de Rm.5:1. “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.”

A paz com Deus é a reconciliação entre o homem e Deus, a união de Deus com o homem mediante o perdão dos pecados por intermédio da aceitação de Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador. Cristo nos fez a paz, derrubou a parede de separação que estava no meio. Cristo é a nossa paz (Ef.2:14,15).

A paz com Deus é o estado de comunhão decorrente da salvação, salvação esta que somente existe na pessoa de Jesus Cristo. “…Isso quer dizer que a paz conferida é uma ‘pessoa’ e que ela se concretiza em uma ‘pessoa’.

Portanto, isso deve incluir o conceito de ‘comunhão mística’ com o Senhor, ▬ de tal modo que todos que participem dessa comunhão, experimentarão, mui naturalmente, a mesma paz.…” (R.N. CHAMPLIN. Paz. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.141).

OBS: “…Desde que Deus nos tem justificado agora pela fé e não pelas obras, nós temos paz com Ele tanto no coração como na consciência, ou seja, não com o homem ou com a carne, nem com o mundo e com o mal. Os crentes todos, antes, têm as maiores provas.(…).

Com ‘paz’ o apóstolo quer dizer aqui aquela paz da qual todos os profetas falam, a saber, a paz espiritual, como ele indica aqui pela frase ‘paz com Deus’. Esta paz consiste propriamente em uma consciência tranquila e em confiança em Deus, de modo contrário, a ausência de paz significa ansiedade espiritual, uma consciência perturbadas e uma desconfiança em relação a Deus.

Por causa desta paz, Cristo é chamado de Príncipe da Paz (Is.9:6).(…). Então esta expressão não deve ser interpretada como significando paz terrena, pois Cristo diz em Mateus 10:34: “Não penseis que eu tenha vindo para trazer paz na Terra: Eu não vim trazer paz, mas espada.…” (LUTERO, Martinho. Comentário sobre Romanos, p.89) (tradução nossa de texto em inglês).

– A paz com Deus é o resultado de uma posição que o homem adquire quando aceita a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador. Ao ser justificado pela fé, o salvo passa da morte para a vida, torna-se filho de Deus, tem seus pés colocados sobre a rocha. O salvo passa a ter livre acesso a Deus por intermédio de Cristo Jesus (Hb.10:19,20).

É algo de “…natureza essencialmente espiritual, encontrada através do companheirismo com uma pessoa, o Senhor Jesus…”(CHAMPLIN, R.N. op.cit., p.141).

– Todas as outras dimensões da paz dependem da paz com Deus. Quem não tem paz com Deus, não pode ter as outras dimensões de paz. “…A paz com Deus é a porção necessária de tudo isso, conforme o trecho de Cl.1:20 nos mostra, pois a ‘inimizade’ foi neutralizada por meio da cruz de Cristo.

E essa inimizade era entre Deus e o homem, entre homem e homem, e entre cada ser humano e a sua própria alma. Por conseguinte, foi estabelecida uma base geral para a paz…”(CHAMPLIN, R.N. op.cit., p.141). É por esta razão que não podemos aceitar as ideias dos movimentos pacifistas que entendem que a paz virá a partir de uma mudança de regime político, de sistema econômico ou de nosso relacionamento com a natureza.

A verdadeira paz somente nascerá no exato momento em que houver a reconciliação entre Deus e o homem, quando houver a aceitação de Cristo como Senhor e Salvador. Por isso, o momento histórico em que a paz se instaurará sobre a face da Terra outro não será senão o reino milenial de Cristo, quando, como primeira providência, o Senhor tratará de mandar amarrar o diabo por mil anos (Ap.20:1,2), retirando de cena, assim, o principal promotor e estimulador do pecado, para que se criem as condições favoráveis para que haja a paz com Deus. Aí, sim, paz e justiça se beijarão neste nosso sofrido planeta (Sl.85:10).

– Característica dos que têm paz com Deus é a unidade que mantêm com o Senhor. A Bíblia mostra-nos que os que têm paz com o Senhor são, de um lado, amados e sustentados pelo Senhor (Sl.119:165; Is.26:3), mas, também, são perseguidos pelos ímpios, pelos pecadores, que não têm paz (Sl.55:20; Is.48:22).

– A segunda dimensão da paz é a paz de Deus, que é, propriamente, a paz que é mencionada como uma das qualidades do fruto do Espírito em Gl.5:22. No Antigo Testamento, uma das figuras que se dá à paz é a do rio, que mantém o curso de suas águas de forma clama e tranquila, sem qualquer sobressalto, quando não se está em época de cheias ou de qualquer intempérie (Is.48:18; 66:12). Isto nos mostra, claramente, que a paz de Deus é consequência direta e inevitável da paz com Deus.

Quem tem paz com Deus, transmite aos outros homens e a si mesmo a paz de Deus, ou seja, um sentimento de tranquilidade e confiança que é gerado em nós pelo Espírito Santo, mediante o qual, mesmo nas maiores aflições e dificuldades, não somos abalados, não perdemos a nossa confiança em Deus, nem muito menos a direção que devemos seguir.

– A paz de Deus excede todo o nosso entendimento, ou seja, não é resultado de um controle sobre a nossa mente, não é fruto de “exercícios espirituais”, de “meditação” ou “técnicas de relaxamento”, mas é obra do Espírito Santo na vida do crente.

A finalidade da paz, dizem-nos as Escrituras, é guardar os nossos sentimentos e os nossos corações em Cristo Jesus. Foi por isso que Jesus, ao Se apresentar aos discípulos na tarde do dia da Sua ressurreição, logo os saudou com a “paz”.

“Paz seja convosco”, disse Jesus, pois o que os discípulos mais precisavam naquele instante era da paz de Deus, da paz de Cristo que dá alento ao crente e que o permite conservar-se santo e irrepreensível aguardando o Senhor.

A Bíblia, 365 vezes, contém a expressão “Não temais”, uma para cada dia do ano, precisamente para que os salvos não tenham medo, não se deixem abalar, mas desfrutem da paz de Deus.

OBS: “…A paz de Cristo é a própria presença do Senhor em nossa vida, e como Cristo é eterno, logo a paz que Ele dá é permanente, duradoura.

A paz de Jesus ultrapassa qualquer coisa que possa ser alcançada pela disciplina mental, como aquela que é frisada pelos filósofos.

A paz do Senhor é um presente celestial, é um contacto com o próprio Deus com a alma, por meio do Espírito Santo.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.92).

– A paz de Deus é o alvo de todo o cotidiano da vida cristã, é a base da continuidade e da perseverança que nos levará ao estágio final da salvação (Mt.24:13), salvação que é o objetivo de toda vida espiritual (I Pe.1:9). Devemos seguir a paz (Hb.12:14a), porque é esta paz que tem de dominar os nossos corações, dando-se condição para prosseguirmos na vida com Cristo.

Não podemos viver sem paz, pois a falta de paz em nossas vidas gerará ansiedade que nos trará, como disse Martinho Lutero, a desconfiança e “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11:6a).

Pedro desfrutou desta experiência e manda que lancemos toda a nossa ansiedade sobre o Senhor, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7).

Ao lermos esta passagem, não temos como deixar de lembrar que Pedro quase morreu afogado porque se deixou abalar pelas circunstâncias do vento, das ondas e da tempestade, ao invés de desfrutar da paz de Deus que emanava da pessoa de Cristo e mediante a qual ele estava andando sobre as águas.

Naquela oportunidade, foi chamado de homem de pouca fé, porque se deixou apavorar, perdeu a paz de Deus na sua vida.

– Os sociólogos têm ensinado que uma das consequências da maior democratização da sociedade moderna, do aumento de oportunidades para que as pessoas possam crescer socialmente, é a insegurança, a ansiedade, o temor, pois, assim como se facilitou a ascensão social, também foi sensivelmente facilitado o descenso social.

Pesquisas recentes mostram que o perfil da classe alta na sociedade brasileira, por exemplo, nos últimos cem anos, teve uma grande modificação, a indicar que as famílias dos ricos e poderosos de cem anos atrás são franca minoria no atual conjunto da elite atual.

Neste quadro, a incerteza e a insegurança são a regra e, como nunca, as pessoas têm se mostrado ansiosas, o que tem gerado um sem-número de complicações psicossomáticas na atualidade.

No entanto, o salvo está livre desta situação, porque desfruta da paz de Deus, de uma paz sobrenatural que, se dominar o seu coração, não permitirá que situações de estresse, de depressão, de descontrole emocional e psíquico crônicos advenham sobre a sua vida.

Verdade é que muitos não têm resistido ao deplorável estado mental e espiritual dos nossos tempos, mas, antes de tranquilizantes, terapias e energizantes, seria interessante que verificassem como está a sua paz com Deus.

Quem tem paz com Deus sofre, sim, tribulações, como o próprio texto de Rm.5 indica logo após anunciar a “paz com Deus” (Rm.5:2-5), mas não se desespera nem perde o rumo da vida, antes, pelo contrário, não só desfruta de comunhão com o Senhor, como também transmite aos outros a “paz de Deus”, que molda as suas atitudes de forma inexplicável.

É por isso que um apóstolo Pedro pode dormir sossegadamente na noite que seria a anterior à sua execução, que um apóstolo Paulo pode, tranquilamente, revelar que brevemente seria executado ou que João pudesse, mesmo preso, ter a tranquilidade necessária para lhe ser revelado algo como o Apocalipse.

OBS: Queremos aqui deixar consignado que não somos contrários a que crentes se submetam a tratamentos psicológicos e psiquiátricos, até porque diversos problemas desta ordem têm origem que não é espiritual, mas apenas enfatizar que de nada adiantará qualquer tratamento se o crente, antes, não fizer um autoexame espiritual.

– A paz de Deus faz com que tenhamos atitudes diferentes das dos ímpios não só em relação aos outros, mas em relação a nós mesmos.

Muito se tem falado, ultimamente, sobre a “paz interior”, chegando, mesmo, a defenderem uma “cura interior”, um processo de superação de traumas e de feridas existentes no homem interior, na alma, que prejudicariam nossa saúde espiritual.

No entanto, se bem avaliarmos o que nos ensina a Palavra de Deus, a paz com Deus promove a “harmonia”, o “equilíbrio”, pois o homem volta a ter comunhão com o Senhor e, portanto, o Espírito Santo produz a paz como o rio, ou seja, sara as feridas existentes, sem que seja necessário qualquer outro “processo” ou qualquer “procedimento” a não ser a própria salvação.

A paz, diz-nos a Bíblia, é de Deus, de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (Rm.1:7), de tal maneira que não tem qualquer fundamento qualquer “experiência mística” que pretenda conceder “cura interior”, “paz interior” a quem já é salvo.

O Espírito Santo promove esta paz no instante da salvação e o salvo tem a paz de Deus. Quem não tem paz é o ímpio.

OBS: Dizer que é preciso operar uma “santificação retroativa”, que seria obtida por esta “cura interior” é admitir que o salvo não é totalmente purificado pelo sangue de Cristo, o que é totalmente contrário ao que ensinam as Escrituras, que diz que, quem está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram, eis que TUDO se fez novo (II Co.5:17).

Se dermos razão a estes defensores da “cura interior”, teremos também de concordar com os católicos romanos, que defendem que “…O sacrificio eucarístico é también oferecido pelos fiéis defuntos “que morreram em Cristo mas não estão plenamente purificados” (Cc. de Trento: DS 1743), para que possam entrar na luz e na paz de Cristo…” (Catecismo da Igreja Católica, 1371 –tradução nossa de texto em espanhol), o que é, evidentemente, um absurdo.

– Quando alguém aceita Cristo, passa a ter paz consigo mesmo, pois entende que é uma vara da videira verdadeira e compreende qual o seu papel diante dos objetivos traçados pelo Senhor.

Um dos grandes problemas da humanidade, na atualidade, geradora de diversos conflitos de personalidade e sociais, é a indefinição dos papéis numa sociedade que tudo questiona e que, a cada dia, carece de fundamentos e de valores. As pessoas não sabem mais para que e porque existem, estão vivendo sem sentido e sem referencial.

Entram em conflito consigo mesmas e, neste estado de calamidade, o adversário levanta aqueles que defendem que o homem deve encontrar-se a si mesmo, deve buscar “em seu interior” a sua própria razão de ser. Fujamos destes, pois não é possível que o homem tenha paz a não ser por Jesus Cristo.

A paz é da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (I Co.1:3) e, portanto, não será encontrada em nós. Quem está em Cristo, tem paz, diz a Bíblia e, portanto, não precisamos correr atrás de experiências mágicas ou de procedimentos de “gurus” ou “entendidos”, ainda que eles se travistam de servos de Deus.

Diz Paulo que é a paz de Deus, que excede o nosso entendimento, que guardará os nossos sentimentos e os nossos corações. Busquemos a Deus e não corramos atrás de “mágicas”, de “encontros de cura interior” ou coisas similares, pois nada disso tem fundamentação bíblica.

OBS: A filosofia e as religiões orientais estão impregnadas deste conceito de autossuficiência, que não pode ser aceito pelo salvo.

Lao-Tsé, o criador da religião taoísta, por exemplo, em seu livro “Tao Te King” afirma que “…Alcança o total vazio para conservar a paz. Da aparição confusa de todas as coisas, contempla seu retorno. Todos os seres crescem agitadamente, mas logo, cada um volta a sua raiz.

Voltar a sua raiz é achar o repouso. Repousar é voltar a seu destino. Voltar a seu destino es conhecer a eternidade. Conhecer a eternidade é ser iluminado.…”(XVI). Vemos, portanto, que a ideia da “paz interior” está intimamente relacionada aqui a uma autossuficiência espiritual, incompatível com o ensinamento bíblico.

– A paz de Deus faz com que o homem conheça a si próprio, entenda quem é e qual o seu papel na ordem do Universo. Havendo a paz com Deus, nosso espírito é vivificado em Cristo, passa a ter novamente ligação com o Espírito de Deus e desta comunhão, deste relacionamento, passamos a ter a mente de Cristo, a ter o discernimento espiritual, compreendendo todas as coisas e entendendo qual seja a vontade de Deus para as nossas vidas.

Assim, passamos a saber exatamente qual é a nossa posição no mundo e isto nos traz a tão almejada paz conosco mesmo.

Por isso, não mais nos abalaremos apesar das muitas adversidades enquanto ainda estamos neste mundo, porque temos consciência de que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e que são chamados por Seu decreto, porque temos paz. Nossa mente não tem que se voltar para nós mesmos, mas, ao contrário, temos paz e, por isso, nossa mente está firme em Deus.

– Ao mesmo tempo em que temos paz conosco mesmos, passamos a ter paz com os outros homens, pois Deus não fez o homem para ser solitário, mas para viver em grupo.

O homem é um ser gregário e a paz de Deus como um rio se estende também aos outros, não fica retida em nós mesmos. O salvo tem paz com Deus e a paz de Deus faz com que tenha paz consigo mesmo e com o próximo.

Ao contrário do que ensinam as doutrinas supramencionadas, o homem não adquire o equilíbrio quando controla a sua mente ou o seu interior, egoisticamente, mas quando transmite paz àqueles que estão à sua volta.

Se somos a imagem e semelhança de Deus, sem qualquer distorção após a nossa salvação, temos de refletir a paz de Deus aos outros homens, temos, a exemplo de nosso Senhor, trazer paz aos que nos cercam.

OBS: Quão diferente é a proposta de paz feita pela filosofia e religião orientais, hoje difundida pelo movimento Nova Era. Lao-Tsé, por exemplo, afirma que “…o sábio quando viaja, não se afasta da caravana. Ainda que possa desfrutar das coisas mais excelsas, conserva sua paz e se faz superior.…”(XXVI – tradução nossa de texto em espanhol).

A paz não é feita para isolar um homem do outro, mas, muito pelo contrário, para trazer alívio e melhora ao próximo.

É por ter este conceito egoístico de paz que o mesmo Lao-Tsé afirma que “…Ainda que a paz se faça entre grandes inimigos, persiste entre ambos o rancor. É isto um bem?…” (LXXIX, tradução nossa de texto em espanhol). Confúcio (filósofo e criador de religião chinês) não é diferente, também dando caráter egoístico à paz. No seu livro “Analetos”, afirma que “…o homem superior está em harmonia e não segue a multidão. O homem inferior segue a multidão e não está em harmonia…”(13:23 – tradução nossa de texto em inglês).

– O salvo transmite paz aos homens. Jesus, ao encaminhar Seus discípulos para o trabalho evangelístico na Judéia, orientou que, assim que chegassem às aldeias, deveriam saudar os seus habitantes com a paz (Lc.10:5).

Não se tratava apenas de uma determinação de polidez, de repetição de um cumprimento tradicional entre os judeus (e que é seguido até hoje), mas de uma palavra que nos mostra que a primeira coisa que devemos levar aos pecadores é a paz do Senhor.

Saudar com a paz do Senhor, como fazemos costumeiramente, não é fazer um cumprimento automático e vazio, como, infelizmente, tem sido a tônica no meio do povo de Deus, mas testificar de que somos portadores da paz de Deus e estamos prontos a transmiti-la. Por isso, o evangelho é chamado de o evangelho da paz (Is.57:19; Zc.9:10; Ef.2:17).

– A paz de Deus, como nos diz Paulo, foi estabelecida aos homens para que vivamos em um corpo (Cl.3:15) e, portanto, trata-se de uma paz que leva em conta os outros, a começar dos outros servos de Deus.

A paz em um corpo, apresentada como uma dimensão da paz por Lewis Sperry Chafer, como vimos supra, é, assim, um desdobramento da paz de Deus.

Por sermos salvos, temos a paz de Deus e esta paz nos faz viver em harmonia, em comunhão com os demais servos do Senhor. Uma das características da Igreja é a paz que há entre os seus membros. As igrejas locais dos tempos apostólicos tinham paz e era nesta paz que eram edificadas(At.9:35).

Um dos principais trabalhos do adversário é, precisamente, tirar a paz da Igreja (Rm.16:17; I Co.11:18). Entretanto, devemos ter discernimento espiritual e, sabendo que a origem da dissensão nunca é divina, mas carnal e diabólica (I Co.3:3; Gl.5:20; Tg.3:14-16; Jd.19), devemos sempre nos desviar de todo e qualquer movimento contrário à paz na igreja local.

– O salvo deve procurar a paz, persegui-la sempre. “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm.12:18).

É dever de todo servo de Deus buscar a paz, evitar conflitos e quaisquer contendas com quem quer que seja. Ensinam os rabinos judeus que os mandamentos da lei de Moisés são condicionais, ou seja, dependem da ocorrência de um fato para ser cumpridos.

Assim, por exemplo, não devemos testemunhar falsamente, mas este mandamento somente será cumprido no instante em que formos chamados para ser testemunha de algo.

No entanto, dizem os rabinos, com relação à busca da paz, não há qualquer condição, o que significa que devemos buscar a paz a todo momento, a todo instante. Por isso, Jesus, no sermão do monte, aconselhou que sempre devamos buscar entrar em acordo com o nosso litigante, antes de submetermos a questão a um juiz (Mt.5:25).

OBS: “…A paz é um bem a ser promovido com o bem: é um bem para as pessoas, as famílias, as nações da terra e toda a humanidade; mas um bem que deve ser conservado e cultivado mediante opções e obras de bem. Compreende-se assim a verdade profunda de outra asserção de Paulo: « Não torneis a ninguém mal por mal » (Rm 12,17).

O único modo de sair do círculo vicioso do mal pelo mal é acolher a palavra do Apóstolo: « Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem » (Rm 12,21).…”(JOÃO PAULO II.Mensagem para celebração do Dia Mundial da Paz -1º de janeiro de 2005. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_20041216_xxxviii-world-day-for-peace_po.html Acesso em 21 dez. 2004)

– O salvo nunca terá paz com todos os homens, pois não há comunhão entre a luz e as trevas e, assim sendo, sempre haverá aqueles que o perseguirão, os agentes do nosso adversário, Satanás, cujo nome significa “aquele que se opõe”, “inimigo”, mas isto não depende de nós.

Assim, no que depender de nós, devemos sempre buscar a paz e a conciliação, mesmo que isto represente uma momentânea e aparente desvantagem em nossas vidas. O fato é que o crente jamais perderá por cumprir a Palavra de Deus na sua vida, mesmo que tenha de “engolir sapos”, como diz o vulgo.

OBS: Neste sentido, aliás, Lao-Tsé tem razão ao dizer que “…o sábio prefere a pior parte de um contrato e não contende com os demais.…”(LXXIX, tradução nossa de texto em espanhol).

– A terceira dimensão da paz é a paz no reino vindouro, ou seja, a paz escatológica, a paz do reino milenial de Cristo, quando justiça e paz se beijarão (Sl.85:10).

Todas as nações buscam esta paz, que, cada vez mais, parece inatingível e, enquanto ela quiser ser construída com base no ser humano, realmente não será alcançada.

Todavia, quando Jesus estabelecer o Seu governo pessoal sobre a Terra, então esta paz deixará de ser um desejo, para ser uma realidade. É preciso “…imbuir de verdade todas as relações, políticas ou econômicas, bilaterais ou multilaterais.

Estabelecer a verdade em todas as nossas relações significa trabalhar pela paz, que permite encontrar para os problemas mundiais soluções conformes à verdade do ser humano…”(JOÃO PAULO II. Meditações e orações, p.477). Sabemos, porém, que A verdade é Jesus e só com Ele teremos a paz tão sonhada e desejada.

OBS: “…Tendo em vista que Satanás deu início à destruição da paz no mundo, o restabelecimento da paz deve envolver a destruição de Satanás e do seu poder.

Por isso, muitas das promessas do AT a respeito da vinda do Messias eram promessas da vitória e paz vindouras. Davi proferiu que o Filho de Deus governaria as nações 9Sl.2.8,9; cf. Ap.2,26,27; 19.15), Isaías vaticinou que o Messias reinaria como o Príncipe da Paz (Is.9.6,7).

Ezequiel predisse que o novo concerto que Deus Se propôs estabelecer através do Messias seria um concerto de paz (Ez.34.25; 37.26). E Miquéias, ao profetizar o nascimento em Belém do rei vindouro, declarou: “ E este será a nossa paz.” (Mq.5.5).…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. A paz de Deus (estudo), p.1120-1).

“…A convicção a que cheguei, raciocinando e confrontando com a Revelação bíblica, é que não se restabelece cabalmente a ordem violada, senão conjugando mutuamente justiça e perdão.

As colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão. 3. Mas, nas circunstâncias actuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos.

Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é « obra da justiça » (Is 32, 17).

Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é « fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre anelantes por uma mais perfeita justiça » (Const. past. Gaudium et spes, 78). …”(JOÃO PAULO II. Mensagem do Dia Mundial da Paz de 2002. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_20011211_xxxv-world-day-for-peace_po.html Acesso em 22 dez. 2004). As palavras do chefe da Igreja Romana têm respaldo bíblico, pois só poderá instituir a paz vindoura Aquele que, a um só tempo, proporcionou o perdão dos nossos pecados e é o juiz dos vivos e dos mortos: Cristo Jesus.

V – A PAZ ILUSTRADA

– A Bíblia Sagrada traz muitos exemplos de paz, para nos mostrar que a paz proposta por Deus ao homem não é uma ficção, não é apenas um conjunto de máximas e provérbios, mas uma realidade para todo aquele que crê na Palavra do Senhor e se dispõe a viver de acordo com esta regra (Gl.6:16).

– O primeiro exemplo de paz que a Bíblia Sagrada nos traz é de Abraão, quando houve a contenda com o seu sobrinho Ló. Num gesto típico de alguém que tem a paz de Deus, Abraão pôs fim à contenda, chamando seu sobrinho e lhe dando a oportunidade de escolher o lugar que gostaria de ficar, sofrendo, então, aparentemente, grande desvantagem, já que Ló escolheu as verdes campinas das cidades da planície. No entanto, com seu gesto, Abraão nos mostra que o importante é estar na direção de Deus.

Ló ficou com as campinas verdejantes, mas Abraão resolveu ficar com Deus e teve a verdade vantagem, pois Ló só obteve aflições na sua escolha e, o que é mais triste, acabou seus dias dentro de uma caverna, sem qualquer bem material.

– Isaque, filho de Abraão, também nos dá um exemplo vívido de paz, pois, ao invés de reclamar legítimos direitos que eram alegados por Abimeleque e seu povo, preferiu ceder às pressões, mesmo que isto representasse uma aparente desvantagem, mas, ao revés, por seu gesto, além de selar a paz com Abimeleque, acabou encontrando um poço de águas vivas, que é figura da bênção maior que está reservada aos salvos, se se desprenderem das coisas desta vida e viverem em paz com os homens enquanto isto depender dele.

– Um exemplo negativo temos com os filhos de Jacó, Simeão e Levi, que resolveram vingar a virgindade de sua irmã Diná e agiram traiçoeiramente com o povo de Siquém, matando-os a todos em nome da “honra familiar”.

No entanto, o resultado daquela grande e astuta vitória militar foi a insegurança e a intranquilidade, como afirmou o patriarca Jacó (Gn.34:25-31).

Quantos, nos dias de hoje, não têm gerado para si insegurança e intranquilidade porque quiseram fazer justiça com suas próprias mãos ? O crente não deve agir assim, mas lembrar que a recompensa por qualquer injustiça por nós sofrida vem do Senhor (Dt.32:35; Rm.12:19; Hb.10:30).

Enquanto depender de nós, tenhamos paz com todos os homens !

– Deus, ao estabelecer as leis da guerra para Israel, foi categórico em determinar ao Seu povo que, antes de atacar qualquer cidade, deveria lhes apregoar a paz (Dt.20:10) e, caso o pregão fosse aceito, a cidade deveria ser poupada e não destruída (Dt.10:11).

Se assim se deveria proceder no tempo da lei, que diremos da época da graça, do favor imerecido de Deus que nos atingiu e nos salvou ?

Os movimentos pacifistas do último quartel do século XX tinham um lema que era “Dê uma chance à paz”. A Bíblia já ordenava isto há milênios atrás. Temos vivido conforme esta regra, ou será que temos vivido e nos banqueteado em pelejas, dissensões ou coisas similares ?

– Davi, cuja vida está sempre associada à guerra e ao derramamento de sangue, tanto que não lhe foi permitido erigir o templo do Senhor em Jerusalém (I Cr.28:3), era um homem que vivia em paz(II Sm.22:19,20).

Vários de seus salmos atestam que Davi gozava de paz mesmo diante das maiores adversidades (Sl.3:5,6; 4; 37).

– Jesus, que é o autor da paz (Ef.2:15), é o grande exemplo que temos a seguir. A Bíblia diz que Ele é o Príncipe da Paz (Is.9:6), a própria paz (Ef.2:14). A paz é uma pessoa e esta pessoa é Jesus.

Jesus não só trouxe a paz aos homens, mediante Sua obra redentora, como também proporcionou a paz entre os homens. Àqueles que salvava, como já vimos supra, mandava que fossem em paz.

Mesmo preso e zombado, fez a paz entre Pilatos e Herodes, o tetrarca (Lc.23:12). Jesus era pacífico, tanto que, quando injuriado, não injuriava e quando padecia, não ameaçava, mas se entregava Àquele que julga justamente (I Pe.2:23).

Em diversas situações de Seu ministério, o Senhor preferiu sair do meio dos homens a repreendê-los ou castigá-los, pois Sua missão era salvar o mundo, não julgá-lo(Mt.16:25; Jo.12:47).

Quando chorou sobre Jerusalém por não tê-lO aceitado, Jesus sintetizou a Sua mensagem como sendo uma “mensagem de paz” (Lc.19:41,42).

VI – A PAZ E A BEM-AVENTURANÇA DOS PACIFICADORES

– No sermão do monte, Jesus apresentou nove bem-aventuranças, que correspondem às nove qualidades do fruto do Espírito. Ao dizer quem são os bem-aventurados, Jesus descreveu o caráter dos Seus servos, pois só pode ser mais do que feliz quem aceita a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

Deste modo, não é de admirarmos que as características indicadas no sermão do monte aos discípulos de Jesus sejam as mesmas qualidades do fruto do Espírito enunciadas por Paulo na epístola aos Gálatas, visto que se trata de descrição do mesmo tipo de pessoas, aquelas que foram alcançadas pela graça de Deus que trouxe salvação a todos os homens.

– Sendo assim, ao nos depararmos com a característica do fruto do Espírito Santo denominada de paz, devemos buscar qual a bem-aventurança correspondente.

E, ao lermos Mt.5:9, ali encontramos a bem-aventurança dos pacificadores: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.

O crente, por ter a paz que o mundo não tem, acaba distribuindo esta paz aos demais homens, removendo as discórdias, conciliando as diferenças, proporcionando o bem-estar dos que estão à sua volta, sem violência, sem guerra. O crente surge no meio dos ímpios como aquele que traz a paz de Cristo.

O gesto de saudarmos as pessoas com a paz do Senhor não deve ser um simples costume, mas uma real demonstração daquilo que estamos a oferecer ao próximo.

Temos sido promotores da paz? Temos posto “água fria” na fervura, ou somos daqueles que “põem fogo e saem de mansinho” ? Um filho de Deus é um pacificador e, mesmo que seja incompreendido e até violentamente morto, como foi o pastor norte-americano Marthin Luther King, passa para a história como alguém que teve e distribuiu a paz.

OBS: Razão, neste particular, tem o Catecismo da Igreja Católica Romana quando afirma, em seu artigo 2306, que “…os que renunciam à ação violenta e sangrenta e recorrem para a defesa dos direitos do homem a meios que estão ao alcance dos mais débeis, dão testemunho de caridade evangélica, sempre que isto se faça sem lesar os direitos e obrigações dos outros homens e das sociedades.

Testemunham legitimamente a gravidade dos riscos físicos e morais do recurso à violência com suas perdas e suas mortes (cf GS 78,5).…” (tradução nossa de texto em espanhol).

Por isso vemos com grande preocupação a participação de crentes em movimentos como os dos vários movimentos dos sem-terra no Brasil. O crente deve ser um pacificador, não um participante de atos violentos e ilegítimos, como a invasão de terras e de prédios públicos, como vem seguidamente promovendo o MST e movimentos similares.

– “…O mundo precisa de pacificadores, ou melhor, do Pacificador, Jesus Cristo. Como representante de Cristo, todo crente deve ser um 

pacificador (1) entre Deus e o homem, e

(2) entre as pessoas que têm conflitos.

A melhor forma de ser pacificador em ambos os casos é fazer que as pessoas se convertam em servos de Jesus Cristo, apresentando-as ao Salvador.(…). Os cristãos podem proteger-se contra a violência física; podem até proteger seus familiares, e outras pessoas; mas sua meta principal é procurar a paz.(…).

Pede-se ao cristão que faça sacrifícios a fim de promover a paz.(…). Devemos buscar a direção de Deus em circunstâncias individuais para saber como resolver o conflito, sem permitir que o mal tenha oportunidade de crescer.(…).

Como pode um cristão fazer os necessários sacrifícios para ganhar os perdidos, se seus objetivos principais são a defesa de seus direitos pessoais ?

Como se poderá alcançar as pessoas que vivem nas piores condições em nossa sociedade, se os crentes se recusam a sair de suas casas confortáveis ? As instruções de Jesus não indicam que seus seguidores nada farão. Seu chamado é para a ação, mas tal ação deve basear-se na direção que ele imprime, e não nas experiências emocionais.…” (VIDA Radiante, v.4, p.33-7).

OBS: Os próprios muçulmanos admitem no seu livro sagrado, o Corão, que os servos de Deus são os pacíficos: “…E os servos do Clemente são aqueles que andam pacificamente pela terra e, e quando os insipientes lhes falam, dizem: Paz!…”(25:63).

– É triste vermos que poucos são os crentes, nos nossos dias, que se dispõem a assumir uma postura ativa na pacificação no meio da sociedade.

Verdade que é princípio bíblico que não devemos nos intrometer em questões alheias (Pv.26:17), mas também devemos lembrar que é questão da Igreja trazer mensagem de paz, pregar o Evangelho da paz.

Assim, seria muito bom que víssemos mais servos do Senhor empenhados em promover a pacificação dos lares, da vizinhança, de distúrbios e situações de beligerância.

Os poucos que têm se disposto a serem agentes da paz têm sido abençoados e honrados pelo Senhor, como, recentemente, a atuação de um ministro do Evangelho numa das maiores rebeliões de presídio no Rio de Janeiro.

É tempo de despertarmos e mostrarmos que buscamos e seguimos a paz, porque somos salvos na pessoa de Jesus Cristo, que é a paz. A Igreja, por natureza, é quem pode e deve receber, todos os anos, o Prêmio Nobel da Paz.

OBS: “…Não somente os dotados de natureza pacífica, Tg.3.18, nem os que aceitam a paz sem protesto ou que preferem a paz ao desacordo, nem os que têm paz na alma, com Deus, e nem os que amam a paz, mas aqueles que promovem ativamente a paz e procuram estabelecer a harmonia entre inimigos, esses são os pacificadores. O sentimento do pacificador é mais nobre que o de Rm. 12.18, onde se for possível, devemos ter paz com todos.

Logo, o pacificador não somente possui a paz, mas semeia e divulga a paz, sem cair em agitação diante das guerras. O pacificador não somente tem paz, e procura ter paz com todos, mas ele semeia a paz onde há discórdia.…”(SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.94).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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