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Lição 2 – Elias, o tisbita

Elias foi levantado por Deus para combater a apostasia espiritual de Israel.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo deste trimestre, começaremos o estudo da vida e do ministério de Elias, o grande profeta levantado por Deus no reino de Israel (o reino do norte, o reino das dez tribos), num momento de grave crise espiritual.

– Elias foi levantado por Deus para combater a apostasia espiritual de Israel, que alcançara seu ápice no reinado de Acabe.

I – O SURGIMENTO DO PROFETA ELIAS

– Após termos visto o contexto histórico-espiritual em que o Senhor levantou os dois profetas que estudaremos neste trimestre, Elias e Eliseu, passaremos ao início do segundo bloco, que trata do primeiro deles, ou seja, de Elias.

– Quando tudo parecia perdido para o povo de Israel, quando tudo parecia que Israel havia abandonado de vez o seu Deus, o Senhor levanta o profeta Elias para combater este estado de coisas.

– Nesta lição, analisaremos, ainda que se forma sucinta, a vida e o ministério do profeta, algo que será pormenorizado ao longo das próximas lições. Por isso, não estranhem os amados irmãos se passarmos ao largo de algumas circunstâncias da biografia do profeta, pois serão temas que serão minudentemente estudados nas lições vindouras.

– Elias é daquelas personagens da Bíblia de que nada ou quase nada sabemos antes do início do seu ministério, circunstância que demonstra claramente que a Palavra de Deus tem o intuito de revelar aquilo que é pertinente à salvação do homem, sendo, obviamente, uma obra literária, histórica e científica, mas que não tem estes vieses como prioritários, sendo, pois, um grande equívoco querer reduzir o texto sagrado a estes aspectos.

– Elias surge nas páginas sagradas em I Rs.17:1 e de forma repentina, sem qualquer explicação, nem mesmo da sua genealogia, como é costumeiro fazer-se quando se trata, pelo menos, de personagens da história de Israel. É apresentado apenas como “Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade”.Seu nome, que, em hebraico é ‘Elijah” (אליח ) (“Elias” é a forma grega do nome – “Ηλιου”), significa “Javé é Deus” e sintetiza, de forma sublime, todo o seu ministério profético: demonstrar ao povo do reino de Israel que o seu Deus é Javé, o mesmo “Eu sou o que sou” que havia Se revelado a Moisés no monte Horebe.

– Da forma abrupta como Elias é apresentado no texto sagrado, ficamos a saber tão somente que o profeta é natural de Tisbe, sendo dos moradores de Gileade. Esta informação, além de escassa, traz uma série de problemas aos estudiosos da Bíblia, visto que a única menção que se faz desta cidade é no livro apócrifo de Tobias, onde é dito que se tratava de uma cidade que se situava na tribo de Naftali, na região da Galileia, enquanto que o texto sagrado diz que Elias era “dos moradores de Gileade”, ou seja, alguém que morava na região daquém do Jordão, pertencente à meia-tribo de Manassés e à tribo de Gade (Js.13:24,25,30,31).

Assim, ficamos sem saber se Elias morava em Gileade, tendo sido natural de Tisbe de Naftali ou se era de uma cidade chamada Tisbe que ficasse do outro lado do Jordão, na região de Gade ou da meia-tribo de Manassés. Flávio Josefo, o grande historiador judeu, parece concordar com a ideia de que se tratava de uma cidade de Gileade que se chamava Tisbe, enquanto que a Septuaginta chama a cidade de “Tisbe da Galileia”, acolhendo a outra versão.

OBS: Eis o texto de Tobias 1:2, na Edição Pastoral: “No tempo de Salmanasar, rei da Assíria, Tobit foi exilado de Tisbé, que fica ao sul de Cedes, em Neftali, na Galileia do norte, acima de Hasor, a ocidente, ao norte de Sefat.” Reproduzimos aqui, também, parte do texto de Flávio Josefo, nas Antiguidades Judaicas: “Havia agora um profeta do Deus Misericordioso, de Tisbe, uma cidade de Gileade, que veio a Acabe…” (JOSEFO, Antiguidades Judaicas 8:319. Disponível em: http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0146;query=whiston%20chapter%3D%23115;layout=;loc=8.363 Acesso em: 31 maio 2007) (tradução nossa de texto em inglês).

– Além do local de onde vem Elias, e que já dá margem a controvérsias, sobre Elias ficamos apenas a saber que se tratava de pessoa que tinha um traje característico, diferente daqueles usados pelas pessoas de seu tempo, tanto que bastava a descrição desta vestimenta para identificá-lo, a saber: “…um homem vestido de pelos e com os lombos cingidos de um cinto de couro…” (cf. II Rs.1:8). Isto nos dá a entender que Elias deveria ter uma vida mais ou menos retirada da comunidade, uma espécie de “eremita” no deserto, o que, aliás, inspirou algumas ordens religiosas cristãs, notadamente a ordem dos “carmelitas”, que se inspiraram em Elias para construir a sua vida monástica.

– No entanto, embora Elias demonstre, pelos seus trajes e pela forma repentina com que se apresenta na história sagrada, que deveria viver um tanto quanto retirado da comunidade, não é correto dizer que haja respaldo bíblico para dizer que vivia isolado dos demais homens do seu tempo. Pelo que podemos observar do texto sagrado, percebemos que Elias tinha uma relação bem próxima aos chamados “filhos dos profetas”, ou seja, aos jovens que se dedicavam ao estudo da Palavra de Deus e a uma vida de serviço ao Senhor nas “escolas de profetas”, cuja origem remonta aos tempos de Samuel (I Sm.10:5; 19:20).

Com efeito, as páginas sagradas permitem-nos vislumbrar que Elias tinha um estreito relacionamento com estes grupos (II Rs.2:2, 4), sendo até possível que Elias tenha sido uma figura proeminente de tais grupos quando se apresentou ao rei Acabe, o que, aliás, explicaria a facilidade com que tenha conseguido se apresentar ao rei.

– Apesar de tão parcos conhecimentos a respeito de Elias antes do início do embate com Acabe, Jezabel e os responsáveis pelo culto de Baal, tais informações já nos são preciosas no sentido de se mostrar que alguém, para ser usado eficazmente pelo Senhor, precisa ter dois pontos que havia na vida de Elias: um distanciamento do mundo e um comprometimento com a Palavra de Deus.

– Elias não era uma pessoa que havia se misturado com as estruturas religiosas desvirtuadas e contaminadas do reino de Israel. Nos dias de Elias, vivia Israel uma situação espiritual extremamente difícil. O rei era Acabe, filho de Onri, o fundador da terceira dinastia (família real) do reino de Israel, o reino do norte, o reino das dez tribos que haviam se separado de Roboão, neto de Davi (cf. I Rs.12:16-25).

Esta terceira família reinante não se apartou do pecado de Jeroboão, o primeiro rei de Israel (reino do norte), que havia criado um culto próprio, fazendo sacerdotes dos mais baixos entre o povo, e levando o povo a adorar dois bezerros de ouro, um situado em Dã e outro em Betel (cf. I Rs.12:26-33), tendo, além disso, Acabe se casado com Jezabel, filha do rei Etbaal, de Sidom, que, ao se mudar para Israel, trouxe com ela o culto a Baal, o deus da fertilidade dos fenícios, criando, assim, um culto rival ao culto a Deus.

– Servir a Deus nestas circunstâncias não era nada fácil, pois, ou se adotava o culto oficial do reino, criado no tempo de Jeroboão, idolátrico e totalmente desvirtuado das prescrições da lei de Moisés ou, então, se aderia ao culto a Baal, trazido por Jezabel e que alcançou grande popularidade. Isto explica o distanciamento físico não só de Elias mas também dos filhos dos profetas, que não tinham espaço para, com liberdade, servir a Deus em meio a estruturas sociais altamente desfavoráveis a quem buscasse a presença do Senhor.

– Mas, ainda que possamos contemplar este distanciamento físico de Elias e dos demais que serviam a Deus naquele tempo, devemos ter como lição para os nossos dias deste comportamento do profeta não o distanciamento físico, mas, sim, o distanciamento espiritual.

Embora muitos tenham se inspirado em Elias para tomar uma decisão de se apartar da sociedade a fim de servir a Deus, a lição que o profeta nos deixa é bem outra: é a da separação do mundo espiritual, da separação do pecado. Na nova aliança estabelecida por Jesus Cristo, não há espaço para “eremitas”, para pessoas que saem da sociedade para servir a Deus mas, sim, pessoas que, a exemplo de Jesus, estão completamente separadas do pecado, mas vive no meio dos pecadores, para “…salvar alguns, arrebatando-os do fogo” (Jd.23 “in initio”, isto é, a parte inicial do versículo).

Jesus disse que não somos do mundo, não podemos nos comprometer com ele (Jo.17:16), mas não pediu que do mundo fôssemos tirados (Jo.17:15), porque é necessário que sejamos sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14).

– Este não comprometimento de Elias com o mundo deve ter sido a raiz de seu inconformismo com o estado de coisas que reinava em Israel e que o levou a ser escolhido pelo Senhor para denunciá-lo e combatê-lo. Tiago nos informa que Elias pediu que não chovesse sobre Israel (Tg.5:17), ou seja, antes de se apresentar para Acabe e anunciar a seca, “segundo a sua palavra” (I Rs.17:1 “in fine”), havia pedido a Deus este sinal e obtido do Senhor a aprovação, tendo, então, ido até o rei para anunciar este juízo divino.

– Este pedido de Elias revela bem que, embora distante fisicamente, o profeta não se encontrava indiferente nem alheio ao que se passava em seu país. Sua comunhão com Deus o impedia de ser uma pessoa alienada, alguém que não se importava com o destino espiritual do seu povo, com o aparente fracasso do propósito divino para com Israel. Muito pelo contrário, ao ver um estado de completa apostasia espiritual, o profeta não se conformou e começou a pedir a Deus providências a fim de que Deus mostrasse quem era o único e verdadeiro Deus.

– Vemos, portanto, que, ao lado de um distanciamento físico e espiritual em relação aos apóstatas, Elias tinha uma vida de oração, uma vida de proximidade com Deus, a ponto de ter feito um pedido ao Senhor para que não chovesse, pedido que foi atendido e que o levou a se apresentar ao rei para tornar público o juízo divino.

– Temos aqui uma linda lição do profeta para todos nós. Precisamos nos manter distantes do pecado, mas não podemos ser alheios ao sofrimento dos pecadores e devemos agir debaixo da orientação e da vontade do Senhor para que os pecadores possam se converter e isto exige de cada um de nós, em primeiro lugar, uma vida de oração, uma vida de intensa comunhão com Deus a fim de que, num permanente diálogo com Ele, possamos saber qual é a vontade do Senhor.

– Não é outra coisa que nos diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, no capítulo 12, quando nos exorta a que apresentemos os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional, não nos conformemos com este mundo, mas sejamos transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:1,2).

– Somente se formos reais e autênticos adoradores do Senhor, o que significa adorá-l’O em espírito e em verdade, é que poderemos ter o sentimento de inconformismo com o mundo e, deste modo, experimentarmos qual seja a vontade de Deus para que, então, possamos ser sal da terra e luz do mundo, efetuando a tarefa que o Senhor requer de nós enquanto peregrinamos nesta Terra.

– A outra lição que aprendemos com Elias, já neste instante em que ele surge nas Escrituras, é de que devemos estar sempre comprometidos com o estudo da Palavra de Deus, com a busca da presença de Deus. Elias tinhaum carinho especial com os “filhos dos profetas”, com aqueles que, em meio a um mundo tão distante de Deus, dedicavam suas vidas para servir ao Senhor e informar-se a respeito da Sua Palavra. Devemos ter este mesmo compromisso, devemos nos aliar àqueles que têm este mesmo propósito. Ao nos reunirmos em classe, a cada Escola Bíblica Dominical, pomos em prática este exemplo deixado por Elias e, certamente, agradamos a Deus tanto quanto o profeta Lhe agradou no seu tempo.

– Elias surge no texto sagrado já desempenhando uma tarefa toda especial da parte de Deus. As Escrituras sempre mostram Elias na execução de uma tarefa, no desempenho de um encargo que lhe fora confiado pelo Senhor. Neste ponto, há até um paralelo entre a forma como se narra a história de Elias e como Marcos, o evangelista, narrou o ministério de Jesus, que, naquele livro, é apresentado como o incansável servo do Senhor, como um homem de ações e de atitudes.

– Impulsionado pelo Espírito de Deus, Elias se apresenta diante do rei Acabe e declara que não haveria nem chuva nem orvalho enquanto o próprio profeta não o pedisse a Deus (I Rs.17:1).

Numa frase tão curta e sucinta, como é este versículo das Escrituras, encontramos um exercício imenso de fé, a conclusão de um processo que não deve ter sido simples. Elias, um profeta que vivia retirado da sociedade, é levado pelo Espírito a se apresentar nada mais nada menos que diante do próprio rei e a dizer que haveria uma grande seca até o instante em que ele pedisse a Deus que chovesse.

Que coragem da parte do profeta! Que determinação, ou seja, que disposição firme de cumprir a Palavra de Deus!

– Aliás, aqui é oportuno mostrar que, quando se diz que Elias foi determinado, que nele era grande a determinação, estamos a utilizar a palavra “determinação” no seu significado correto e prescrito nos dicionários de língua portuguesa, ou seja, “forte inclinação a ser persistente no que se quer alcançar”.

Assim, esta “determinação” nada tem que ver com o que têm ensinado os defensores da chamada “doutrina da confissão positiva”, entendida como uma “fé real”, uma “tomada de posse de bênção”, uma “exigência ao inimigo para nos obedecer”. Elias jamais foi alguém que tenha “determinado” neste sentido distorcido que nos é apresentado pelos arautos da “confissão positiva”, mas uma pessoa “determinada”, ou seja, disposta a persistir no cumprimento das ordens que lhe deu o Senhor.

– Elias simplesmente disse ao rei Acabe que não choveria nem haveria orvalho enquanto ele não orasse a Deus neste sentido. Nesta primeira palavra de Elias já se nota a missão que incumbiria ao profeta: mostrar que o Senhor era o verdadeiro Deus e não Baal. Baal era uma divindade que se entendia ser a controladora da natureza.

A Baal se atribuía a fertilidade, ou seja, não só a reprodução dos animais, mas também a produção agrícola. Por isso, Baal era tido como o responsável pelas chuvas que permitiam as fartas colheitas e era costume entre os povos cananeus, inclusive os fenícios, procurar agradar a Baal e ter pequenas estatuetas deste deus e de Asera, a deusa da fertilidade, como forma de obter o favor deste deus e, assim, prosperidade na colheita.

Ao dizer que não choveria até que houvesse um pedido do profeta a Deus, o Senhor está mostrando que é maior que Baal, que Ele, e não esta falsa divindade, tinha o controle sobre a natureza.

OBS: Como era e é comum nos cultos idolátricos, a divindade é sempre associada a alguma imagem ou a alguns locais. Assim, Baal e Asera eram cultuados sob vários nomes, conforme o local onde se dava o culto, com uma ou outra variação nas crendices e nas lendas a respeito da divindade. Nos dias de Elias, o culto a Baal certamente estava vinculado a Baal-Mecarte, o deus de Tiro e de Sidom (Tiro foi uma cidade fundada pelos sidônios – Is.23:12).

II – ELIAS: UM HOMEM QUE EXPERIMENTOU O PODER DE DEUS PARA PODER MANIFESTÁ-LO A ISRAEL

– Assim que proferiu esta palavra ao rei, Elias foi orientado pelo Senhor para que saísse dos termos de Israel e fosse para o ribeiro de Querite, que estava diante do Jordão (I Rs.17:3).

Como afirma R.N. Champlin, esta ordem divina tinha a ver com a proclamação dada por Elias e que “…sem dúvida alguma, isso provocou uma tremenda agitação e a vida de Elias começou a correr perigo…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Elias. In:Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.328). As circunstâncias desta seca e a vida do profeta neste período é o tema de uma lição própria, motivo pelo qual não nos deteremos agora neste ponto.

– Basta apenas, por ora, dizermos que, durante esta grande seca, não só Israel experimentou quem é o verdadeiro Deus, como também o próprio profeta que teve a sua subsistência garantida pelo Senhor tanto à beira do ribeiro de Querite, em que o Senhor mostrou todo o Seu controle sobre a natureza, a fim de que o próprio profeta fosse testemunha daquilo que estava a pregar, ou seja, que Deus era quem controlava a natureza e não Baal, quanto, posteriormente, em Sarepta de Sidom, quando o Senhor mostrou que não só controla a natureza como também quer o bem de todos os homens, a ponto de ter levado o profeta a ser sustentado por uma viúva gentia, que também recebeu a Providência Divina.

– Quando nos dispomos a fazer a vontade de Deus, também nos dispomos a experimentar em nossas próprias vidas o poder deste Deus cuja vontade estamos a cumprir. Não há como sermos testemunhas do Senhor se não vivenciarmos em nossas próprias existências o Seu poder.

– Elias seria usado por Deus com diversos sinais e maravilhas ao longo de seu ministério, seria um homem que demonstraria a Israel todo o poder de Deus. Sua denúncia da apostasia nacional e sua pregação de que somente o Senhor era Deus não poderia ser algo teórico, mas, inclusive para ampliar a convicção do profeta, tinha de ser experimentado, provado pelo próprio profeta.

– Elias era um homem de Deus, tinha comunhão com o Senhor, era-lhe próximo, tendo uma vida de oração e de meditação nas Escrituras, mas precisava ter a vivência, a experiência no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, deste poder divino, para que não tivesse qualquer dúvida ou sombra de dúvida de que o Senhor era o Todo-Poderoso, como disseram os patriarcas da nação israelita. Mais ainda: Elias tinha de ter a experiência de que Deus era o único e verdadeiro Deus, não um Deus nacional, mas o Deus de todas as nações, como havia Se revelado a Israel quando da proposta do pacto do Sinai (Ex.19:5).

– Por isso, o Senhor fez com que o profeta fosse, num primeiro instante, sustentado exclusivamente pela Providência Divina, alimentado por corvos à beira do ribeiro de Querite, de onde obtinha a água, até que o ribeiro se secasse e, posteriormente, fosse sustentado por uma viúva gentia, que estava à beira da morte, tendo, inclusive, nesta ocasião, tido a oportunidade de promover a primeira ressurreição que se tem notícia na história sagrada, a do filho daquela viúva, ocasião em que esta reconheceu que Elias era um verdadeiro homem de Deus (I Rs.17:24).

– Depois de Elias ter experimentado que Deus era Todo-Poderoso e Deus de todas as nações, estava ele em condições de, novamente, se apresentar diante de Acabe, três anos e meio depois, para, então, concluir a demonstração de que o Senhor era o único e verdadeiro Deus.

– Nós também, ao longo de nossa jornada terrena, temos de experimentar o poder de Deus para que sejam efetivos conhecedores do Senhor. Conhecer a Deus, como sabemos, não é ter apenas dados informativos a respeito do Criador, não é abastecer tão somente o nosso intelecto. Conhecer a Deus é ter intimidade com Ele e isto nos leva a termos experiências com o Senhor, experiências estas que confirmam, comprovam tudo quanto d’Ele apreendemos seja nas Escrituras, seja na prática da oração.

– A experiência com Deus é fundamental para que sejamos edificados espiritualmente, para que tenhamos condição de sermos obreiros aprovados, que não tenham do que se envergonhar (II Tm.2:15). A aprovação pressupõe submissão a uma prova, a uma experiência em que se agradou a Deus.

– A vida de Elias mostra-nos, com absoluta clareza, que não podemos, em hipótese alguma, fazer algo para Deus se, antes, não formos aprovados, ou seja, se antes não formos submetido a uma prova, a uma experiência continuada com o Senhor. Por isso, aliás, o apóstolo Paulo adverte a que não se separem para o ministério pessoas neófitas, ou seja, pessoas que ainda não tiveram esta indispensável experiência com o Senhor (I Tm.3:6).

– Na grande maioria das profissões, exige-se que a pessoa, antes de iniciar a sua vida profissional, submeta-se a um estágio, a um período em que adquira alguma mínima experiência para poder desempenhar bem o papel que pretende exercer na sociedade. Na vida espiritual, não é diferente: faz-se mister que também passemos por um “estágio”, por uma experiência com o Senhor que nos habilite, que nos capacite a desempenhar a tarefa para a qual Ele nos escolheu. Estamos dispostos a isto?

– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus afirmou aos saduceus que eles erravam muito porque não conheciam as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29). Duas são as fontes de erro espiritual para o homem: a falta de conhecimento da Bíblia Sagrada bem como a falta de conhecimento do poder de Deus. Indispensável é conhecer a Palavra de Deus, mas igualmente indispensável é passar por uma experiência de vida com Deus para que provemos do Seu poder.

– Após a ressurreição do filho da viúva de Zarefate, Elias havia concluído o período de aprendizado sobre a superioridade de Deus sobre Baal.

Devidamente experimentado na sua vida com Deus, durante três anos e seis meses (cf. Tg.5:17), estava pronto para um novo embate com o rei Acabe. A seca era terrível, cumpria-se à risca o que havia sido profetizado por Elias e, então, o Senhor mandou que o profeta, uma vez mais, se apresentasse diante de Acabe, porque chegara o momento de chover sobre a terra (I Rs.18:1).

OBS: É interessante notar que Flávio Josefo faz questão de comprovar a historicidade desta seca. Assim relata o historiador judeu: “…aquela prolongada seca, de que o historiador Menandro fala quando narra os feitos de Etbaal, rei dos tírios [pai de Jezabel, observação nossa], assim: Houve naquele tempo uma grande seca que durou desde o mês de Hiperbereteu até o mesmo mês, no ano seguinte. Esse soberano mandou fazer grandes preces e foram elas seguidas de um grande trovão.

Foi ele que mandou construir as cidades de Botris, na Fenícia e a de Auzate, na África. Estas palavras se referem, sem dúvida, a esta seca, que aconteceu no reinado do rei Acabe, pois Etbaal reinava em Tiro, nesse mesmo tempo.…” (JOSEFO, Antiguidades Judaicas 8,359. In: História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso, v.1, p.192).

– Quando ia em direção a Acabe, Elias se encontrou com o mordomo do rei, Obadias, que era uma pessoa temente a Deus, o qual, inclusive, havia escondido profetas do Senhor em cavernas e providenciado o seu sustento em meio à grande seca e à implacável perseguição desenvolvida por Acabe contra os servos de Deus.

Este relato bíblico mostra-nos que Deus não só havia cuidado de Elias, como também de todos os Seus profetas, mostrando que havia absoluto controle divino sobre toda a situação, dito fazendo saber o seu profeta antes que ele se encontrasse com Acabe.

– Deus não muda e continua a guardar os Seus servos, o Seu povo em meio aos dias trabalhosos e difíceis que estamos a viver. Basta apenas que temamos a Deus e que estejamos dispostos a servi-l’O e a fazer o que Ele nos manda, sem nos importarmos com as circunstâncias ou os possíveis riscos. Obadias, apesar do cargo que ocupava, era um homem temente a Deus e, pela obra do Senhor, não tinha por valiosa a sua posição social (I Rs.18:3,4).

– Ao se encontrar com Obadias, Elias fica a saber que o rei Acabe o havia procurado em todos os lugares, a demonstrar, mais uma vez, que o Senhor o havia escondido, o havia não só sustentado, mas também protegido (I Rs.18:10). Também foi cientificado de que não era o único a ter obtido a proteção e sustento da parte de Deus, que os profetas, aqueles com quem Elias tinha tanto cuidado, também haviam sido guardados, pela mão de Obadias.

– O encontro entre Elias e Acabe bem mostra como não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14). Elias havia profetizado e a profecia se cumpria integralmente, o que mostrava ser ele um profeta que vinha da parte de Deus (Dt.18:21,22).

Deveria, pois, o rei Acabe respeitá-lo, considerá-lo. Mas, pelo contrário, ao se encontrar com Elias, o rei o chama de “o perturbador de Israel” (I Rs.18:17). Assim é o mundo, assim são os ímpios: eles aborrecem os servos do Senhor, consideram-nos um estorvo, um obstáculo, um empecilho. Jamais nos tratarão bem, jamais reconhecerão a nossa santidade e a nossa condição de filhos de Deus.

– Não nos iludamos, os homens sem Deus e sem salvação nunca nos darão valor, nunca falarão bem de nós. São palavras do Senhor Jesus: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo.15:18,19).

Há muitos que querem agradar aos homens, que se preocupam em ser “populares”, “simpáticos”, “enturmados”, mas não cedamos a esta tentação. O servo de Deus jamais será visto com simpatia pelo mundo pecador. Se, por um acaso, temos querido popularidade e simpatia e a tenhamos alcançado, ouçamos o que diz o Senhor:

“Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas!” (Lc.6:26).

– O profeta Elias, porém, não se abateu por causa desta ofensa, desta palavra mentirosa do rei, como também não ficou preocupado pelo fato de o rei lhe ser hostil (ninguém pense que este encontro se deu a sós. O rei, certamente, fazia-se acompanhar de sua guarda pessoal, enquanto que Elias estava só).

Antes, com autoridade, disse que quem era o perturbador de Isael era o próprio rei, uma vez que ele havia deixado os mandamentos do Senhor e seguido a Baal e, devidamente orientado por Deus, lançou o desafio da reunião de todos no monte Carmelo, a fim de que se demonstrasse quem é o verdadeiro Deus(I Rs.18:19,20). Devidamente experimentado e tendo vivido que Deus é o único Deus, Elias poderia lançar este desafio, a fim de proclamar a todo o povo o que havia aprendido.

– Esta necessária experiência pessoal com Deus e o decorrente crescimento espiritual é ainda um requisito para podermos proclamar, com efetividade, a palavra de Deus.

Não se pode pregar eficazmente o Evangelho sem que, antes, tenhamos tido um contacto intelectual com ele, bem como que tenhamos uma experiência pessoal com o Senhor.

Não foi por outro motivo que Jesus preparou, durante mais de três anos (praticamente o mesmo tempo da seca do tempo de Elias) os Seus discípulos e, depois, mandou que esperassem o revestimento de poder para iniciar a evangelização.

Um dos grandes problemas dos nossos dias é este descuido da preparação doutrinária e espiritual dos que querem anunciar a Palavra do Senhor, fazendo com que neófitos se desincumbam desta tarefa, causando prejuízo a si mesmos e à Igreja (I Tm.3:6).

– Como se deu este encontro de Elias com os profetas de Baal e as lições disto é tema de lição própria, motivo pelo qual não nos deteremos sobre este tema por ora.

– Após a vitória sobre os profetas de Baal, enquanto Acabe foi comer e beber, Elias foi orar. Aqui, mais uma vez, vemos como eram diferentes estes dois homens e como são diferentes, até os dias de hoje, aquele que serve a Deus e aquele que não O serve. Acabe, ante tamanha demonstração do poder de Deus, deveria se arrepender dos seus maus caminhos e tornar a servir ao Senhor.

Mas, antes disso, resolveu comer e beber, continuar com a sua vida regalada, indiferente a Deus e a tudo quanto lembrasse o Senhor, entre os quais, o próprio sofrimento do povo, que padecia fome e sede por causa da seca. Acabe, porém, não se importava com o povo, mas única e exclusivamente com o seu bem-estar. É este, lamentavelmente, o comportamento de muitos que estão à frente do povo de Deus, que se importam apenas em “subir, comer e beber”, enquanto o povo passa necessidade.

– Ainda bem que, enquanto os Acabes comem e bebem, ainda existem os Elias que vão buscar a Deus. Elias mostra-nos que a vida de oração não se dá apenas nos instantes de necessidade e de aflição, mas também deve se revelar nos momentos de grandes vitórias espirituais. Como disse o apóstolo Paulo, nossa oração deve ser incessante (I Ts.5:17), independentemente das circunstâncias que nos cercam. Temos seguido este exemplo de Elias?

– Elias orou uma vez mais e, conforme havia dito quando de seu surgimento, depois desta sua oração, cujas peculiaridades também serão estudadas em lição própria, a chuva voltou a cair em Israel. A oração teve de ser intensa, pois o Senhor já começava a dar outra experiência para o profeta, qual seja, a de que o homem jamais alcança a autossuficiência, precisa ser plenamente dependente de Deus.

– Nesta pedagogia divina, Elias teve de aprender a vencer a si próprio, a abandonar completamente o seu “ego”, que ficou um tanto quanto exaltado quando de sua vitória sobre os profetas de Baal, tendo, então, experimentado o drama da depressão, como analisaremos em lição própria.

– Após esta dramática experiência, a Bíblia é bem sucinta, dizendo apenas que o profeta Elias partiu do monte Horebe (I Rs.19:19). Esta partida, contudo, tem um grande significado, pois o texto sagrado nos diz que a primeira coisa que Elias fez foi ir à busca de Eliseu, que Deus havia indicado como seu sucessor. Este gesto do profeta mostra que o seu “eu” havia sido quebrantado, que estava ele na total dependência de Deus, que voltara à direção do Espírito Santo. Ao ir atrás de Eliseu, o profeta retomava o seu ministério e se punha à disposição de Deus. Não era mais o arrogante “zeloso”, mas alguém que compreendera que era apenas um vaso de barro nas mãos do oleiro, tanto que, incontinenti, já foi em busca daquele que Deus apontara como o seu sucessor.

– O desprendimento de Elias foi tanto que observamos que das três tarefas determinadas por Deus a ele, Elias apenas cumpriu o referente à sua própria sucessão. Jeú foi ungido por ordem de Eliseu (II Rs.9:1-3), assim como Hazael, rei da Síria, foi ungido também por Eliseu (II Rs.8:13). Elias não quis para si esta honra, mas, sabedor de sua condição de simples servo de Deus, tomou a providência que lhe cabia: preparar o seu sucessor, a fim de que ele cumprisse tudo quanto havia de se fazer na obra de Deus.

– Elias compreendeu que, muitas vezes, nosso ministério não depende de nossas atitudes diretas, mas de nosso desprendimento para preparar outros para a continuidade do trabalho do Senhor. Era este o mesmo espírito que norteava a ação dos apóstolos na igreja, notadamente no caso de Paulo que, abrindo igrejas, tão logo havia condição, escolhia alguns para governá-las e prosseguia sua missão evangelizadora. Foi, também, o que fizeram os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren ao implantar as Assembleias de Deus no Brasil. Como seria bom se, em vez do amor ao poder e à formação de impérios eclesiásticos, as lideranças da atualidade experimentassem este mesmo quebrantamento de “eu” que o Senhor operou em Elias!

– Depois desta experiência no monte Horebe, tem início a fase final do ministério de Elias, pelo menos no que diz respeito a este período de sua vida terrena. O texto sagrado interrompe o relato da vida do profeta, no capítulo 20, para voltar a falar do rei Acabe e de sua guerra contra a Síria, quando, para confirmar a palavra que Deus havia falado a Elias, aparece um outro profeta, cujo nome não é mencionado, que faz com que o rei tenha vitória sobre os seus inimigos.

– Elias, porém, retorna ao texto sagrado, agora para trazer um duro juízo sobre Acabe, Jezabel e sua casa, por causa da morte de Nabote, uma trama engendrada por Jezabel, assunto que também será tratado em lição própria. Acabe creu na palavra do profeta e, por isso, foi poupado de ver a destruição de sua casa em seus dias, ainda que ele mesmo viesse a sofrer o juízo de ter seu corpo dilacerado e seu sangue lambido pelos cães nas terras que haviam sido tomadas de Nabote (I Rs.21:17-29), profecia, esta, que foi integralmente cumprida (II Rs.9:36; 10:10).

– Acabe morreu, tendo, aliás, se cumprido em relação a ele o que havia falado o profeta Elias (I Rs.19:38), sendo sucedido pelo seu filho Acazias, que adoeceu e foi, então, pedir a saúde a Baal-Zebube, deus de Ecrom, que era tido como o deus da saúde. Surge, então, novamente o profeta Elias, para anunciar a morte do rei.

Acazias mandou, então, por três vezes, que soldados fossem prender o profeta, tendo as duas primeiras companhias militares sido consumidas pelo fogo do céu que foi invocado pelo profeta. Elias continuava a ser o profeta zeloso, mas que dependia exclusivamente do Senhor. Fogo do céu consumiu cem homens, mas tudo Elias fez pela direção do Espírito, tanto que, mesmo após terem sido consumidos cem homens, foi até a presença do rei quando o Senhor assim o determinou (II Rs.2:15).

– Elias era, então, um homem totalmente dependente nas mãos do Senhor. Vigoroso, continuava a denunciar o pecado e não compactuar com a idolatria dos seus dias. Embora se mantivesse isolado da sociedade, numa atitude que o escritor evangélico Júlio Severo bem denomina de “isolamento profético”, não deixava de denunciar o pecado e de ser usado nas mãos do Senhor para atacar os desmandos e os desvarios daqueles que estavam a desvirtuar a fé no meio do povo de Deus.

Ao se apresentar ao rei Acazias, o profeta mostra toda a sua coragem e autoridade, dizendo que o rei morreria. Esta morte outro objetivo não tinha senão mostrar a todo o povo que Deus era o Senhor da vida, não Baal-Zebube. E o rei Acazias morreu, conforme a palavra do profeta (II Rs.1:17).

– O profeta, também, deixou uma mensagem escrita que foi anunciada somente depois de sua trasladação, mensagem destinada ao rei de Judá, Jeorão, filho de Josafá e sobrinho de Acabe, no qual lançou um juízo de dura enfermidade por causa da apostasia daquele rei, juízo este que se cumpriu integralmente (II Cr.21:12).

– Após mais esta atitude que fez prevalecer o nome do Senhor no meio de Israel, Elias é, então, poupado da morte, subindo ao céu, sem passar pela morte física, num redemoinho. Antes disso, porém, Elias faz um milagre, qual seja, a exemplo do que fizera Josué, atravessa o rio Jordão em seco, na companhia de Eliseu (II Rs.2:8). Ao assim agir, Elias mostrou claramente, a Eliseu e aos filhos dos profetas, que “Javé é Deus”, que tem o pleno controle da natureza.

– Este controle absoluto da natureza seria demonstrado no episódio da trasladação do próprio profeta. Elias havia pedido a morte, quando em seu momento de fragilidade, mas Deus não queria que Seu servo experimentasse a morte, ao menos neste instante histórico. Elias é levado aos céus em um redemoinho (II Rs.2:11), depois que um carro de fogo, com cavalos de fogo, separou Elias de Eliseu. Muitos, inadvertidamente, dizem que Elias subiu ao céu nesta “carruagem”, mas não é isto o que diz o texto bíblico.

– A subida de Elias ao céu num redemoinho é o coroamento de uma vida de contínua intensificação da intimidade do profeta com Deus. De experiência em experiência, Elias foi adquirindo um “status” que o fez atingir o mesmo nível de Enoque. Elias rendeu-se totalmente ao Senhor e passou a andar com Ele de modo profundo e ininterrupto e o resultado disto foi o de ter alcançado a mesma graça que Enoque, o sétimo depois de Adão, obtivera nos seus dias: o da intimidade tão estreita que fez com que Deus o tomasse de entre os viventes. Todos quantos experimentarem esta mesma intimidade também serão tomados pelo Senhor, para que habitem com Ele para todo o sempre, sendo o Seu povo e Ele, o seu Deus (Ap.21:3).

III – O QUE APRENDEMOS A FAZER COM ELIAS

– Vista, então, a biografia de Elias, resta-nos vermos no que podemos melhorar nossos caminhos diante de Deus após analisarmos a vida deste grande profeta.

– A primeira lição que temos com Elias é o chamado “isolamento profético” de que ele é um exemplo típico. Elias sempre é apresentado no texto sagrado como alguém que se mantinha à parte da sociedade, retirado, tendo um trajar diferente, a andar pelos desertos e afastado do dia-a-dia do mundo de seu tempo.

Esta característica levou, inclusive, Elias a ser um exemplo para os adeptos do movimento monástico, ou seja, para aqueles que resolveram servir a Deus isolando-se do mundo, abrindo conventos e monastérios através dos séculos.

OBS: “…Aos monges, o tema do aspecto profético de sua própria vida sempre inspirou o mais vivo interesse (cf. Jean Leclercq, La via parfaite. Points de vue sur l’essence de l’état religieux, Turnhout-París 1948, cap. 2, La vie prophétique, 57-81).

De fato a espiritualidade da vida de perfeição já foi preparada no AT (cf. Soeur Jeanne d’Arc, Les préparations bibliques de la vie religieuse, VS, XXIV [1956], 474-494). Os grandes profetas Elias, Eliseu e São João Batista foram considerados, junto com outros, como protótipos da vida religiosa. …” (SPADAFORA, Francesco. O profeta Elias. Trad. Wilmar Santin. Disponível em: http://www.hermanubis.com.br/Biografias/BioElias.htm Acesso em: 1 jun. 2007.)

– No entanto, o “isolamento profético” não pode ser considerado um modelo no sentido físico, mas, sim, sob o seu aspecto espiritual. Como ensina o escrito evangélico Júlio Severo, “a característica fundamental do estilo de vida profético de Elias, que entrará em ação nos últimos dias, é o isolamento profético.

Elias se isolava completamente dos pecados da sociedade.(…) Em seu isolamento, Elias sempre buscava a Deus e se preparava para atender toda vez que Deus o chamava para ir ao meio da sociedade e confrontar seus líderes políticos e valores errados.…” (A volta do profeta Elias: o que a unção de Elias representa para as famílias e o mundo político nestes últimos dias. Disponível em: http://juliosevero.blogspot.com/2007/04/volta-do-profeta-elias-o-que-uno-de.html Acesso em: 1 jun. 2007).

– O “isolamento profético” é absolutamente necessário para que cada salvo mantenha a sua vida espiritual. Jesus disse que somos sal da terra e luz do mundo e, portanto, não podemos, de forma alguma, nos misturarmos com o pecado e com o mundo.

Não podemos, também, sair do mundo e montar uma “comunidade alternativa”, como alguns costumam fazer. Nesta nossa dispensação, precisamos estar no mundo, é este o desejo do Salvador, mas temos de evitar comunhão com o pecado, pois não há comunhão entre a luz e as trevas.

Este “isolamento profético”, que nada mais é que a nossa santificação ininterrupta e contínua é a primeira lição que recebemos de Elias. “Quem é santo, santifique-se ainda”, é uma das últimas recomendações da Bíblia para os servos de Deus (Ap.22:11 “in fine”).

– Além do “isolamento profético”, com Elias aprendemos a ter uma vida de completa e integral dependência de Deus. Aqui, como em Davi, vemos que a humildade de espírito é uma qualidade fundamental para o servo do Senhor.

Elias agia sempre sob a direção divina e, quando não o fez, quase fracassou espiritualmente. A vida de dependência de Deus abrange todos os aspectos da vida e não olha as circunstâncias. Quem é filho de Deus, diz o apóstolo Paulo, é guiado pelo Espírito Santo (Rm.8:14), não toma das rédeas de sua vida, mas a entrega totalmente ao Senhor, n’Ele confiando, pois sabe que Deus tudo fará (Sl.37:5).

Infelizmente, muitos são os que, na atualidade, nem sequer se preocupam em saber qual é a orientação do Espírito Santo. Até mesmo em nossos cultos, quem menos tem sido consultado é o Espírito de Deus, que tem sido trocado, para a desgraça destas reuniões, por outros elementos, como a tradição, o formalismo e, até mesmo, o relógio.

OBS: O saudoso pastor Walter Marques de Melo (1933-2012) seguidamente alertava para esta triste realidade dos cultos nas igrejas locais da atualidade. Com toda a razão, insistentemente, mostrava à Igreja que nada pode ocupar o lugar do Espírito Santo em tais reuniões. Tudo quanto toma o lugar de Deus é um ídolo. Como afirmava este amado irmão, precisamos lembrar da última advertência do apóstolo João em sua primeira carta: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém” (I Jo.5:21).

– O terceiro ponto que aprendemos com Elias é o da disposição, da prontidão em fazer a vontade de Deus. Salvo o episódio de sua fragilidade, vemos sempre o profeta bem disposto e pronto a cumprir a ordem de Deus. Elias não é visto titubear nenhuma vez.

Mandado falar a Acabe de que não choveria, sem qualquer resistência atendeu ao chamado do Senhor, como também quando mandado a falar com o rei de que choveria, mesmo sabendo que seria hostilizado, como o foi. E como explicar que enfrentasse um povo totalmente idólatra, com 850 profetas, sozinho? Para Elias, o importante era saber que o que fazia era sob a direção divina.

– A disposição firme, ou seja, a determinação é tanto uma qualidade que se realça na vida de Elias que o próprio Espírito Santo, ao inspirar Zacarias no seu cântico a respeito do trabalho de João Batista, tipificado por Elias, afirma que como aquele profeta teria “o espírito e virtude de Elias”, faria com que o povo de Deus fosse preparado como um “povo bem disposto” para o Senhor (Lc.1:17).

Elias inspira-nos, portanto, a disposição firme de servir a Deus, de persistir, nunca desistindo até o fim. Como diz conhecido cântico, o que Deus espera de nós é que “sigamos os passos de Jesus, levemos conosco a nossa cruz e se espinhos ferem os nossos pés, descansemos nos braços de Jesus”.

– Ao contrário de outros profetas, que têm seu receio e titubeio registrados nas páginas sagradas, Elias é sempre determinado e bem disposto. Devemos ter este comportamento, enquanto salvos na pessoa de Jesus Cristo. Jesus era assim, determinado a cumprir a vontade do Pai (Hb.10:7,9), mesmo quando isto importava em negação dos Seus instintos naturais, como vemos no Getsêmane (Mt.26:42). A propósito, este comportamento é requerido pelo Senhor de todos os Seus servos, apesar das adversidades da vida, pois assim nos diz: “…no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (Jo.16:33b).

– Em quarto lugar, com Elias aprendemos que se faz necessário termos uma contínua experiência pessoal com o Senhor. Devemos andar de fé em fé (Rm.1:17), num crescimento espiritual contínuo e ininterrupto. Os santos têm de se aperfeiçoar (Ef.4:12), necessitam crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador (II Pe.3:18). Os justos devem brilhar mais e mais (Pv.4:18), nosso amor deve aumentar a cada dia (Fp.1:9).

– A vida de Elias, como vimos, foi uma contínua intensificação da intimidade do profeta com Deus, um contínuo revelar de Deus e de Seu caráter ao homem, que é sujeito às mesmas paixões que nós. Deus, portanto, está disposto a ter esta íntima comunhão conosco, assim como teve com Elias. Tal experiência, ademais, deve ser contínua e nunca pode ser interrompida, pois, de uma hora para outra, podemos ficar como Elias, que, de um vigor inigualável, caiu em profunda depressão espiritual, a ponto de pedir a própria morte.

– Uma quinta lição aprendida com Elias é a de que Deus tem o pleno controle de todas as circunstâncias. “Javé é Deus” é não somente o nome de Elias, mas a síntese da vida deste profeta. Não devemos temer as circunstâncias da vida, mas saber que Deus está no absoluto senhorio deste universo, tendo domínio sobre a natureza, a vida, as organizações sócio-econômico-políticas. Este controle pleno é demonstrado claramente na vida do profeta.

– Uma sexta lição que a vida de Elias nos dá diz respeito ao significado da vida do servo de Deus. A vida do servo de Deus está vinculada ao serviço, ao ministério que temos de exercer ao Senhor. Quando Elias pede a morte, o Senhor diz que não era este o Seu propósito, porque havia ainda coisas para que Elias fizesse em prol da obra de Deus. Estamos neste mundo para servir a Deus e nossa vida não tem qualquer sentido fora desta dimensão do serviço. Lembremo-nos da parábola dos talentos: o servo que nada fez, por sua inutilidade, foi lançado nas trevas exteriores. Se não desempenhamos coisa alguma na obra do Senhor, somos uma nulidade diante do Senhor. Já pensou nisto?

– A sétima e última lição que temos com Elias é a do desprendimento e da consciência do dever de ser um instrumento para o prosseguimento da obra do Senhor. Assim que conseguiu se desvencilhar do seu “eu”, Elias tratou logo de preparar o seu sucessor. A obra de Deus é de Deus, não é nossa. Deus é quem escolhe aqueles que devem prossegui-la, caso não volte antes do final da nossa existência sobre a face da Terra e, portanto, como não podemos ter domínio sobre algo que não é nosso, mas, sim, de Deus, torna-se imperioso prepararmos aqueles que Deus escolheu para nos substituir.

– Elias preparou Eliseu e foi Eliseu, e não Elias, quem cumpriu aquilo que Deus havia determinado no tocante às unções de Hazael e de Jeú. Aqueles que não preparam os escolhidos de Deus para a continuidade de seus ministérios estão a reter algo que não é seu e terão de prestar contas pelo seu egoísmo.

– Elias não era perfeito, era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, por isso, teve também defeitos, que, entretanto, analisaremos em lição própria.

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