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LIÇÃO Nº 6 – A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS

 lição 06 (2)

O salvo deve ser tão imparcial quanto seu Senhor.

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INTRODUÇÃO 

– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, estudaremos hoje a passagem de Tg.2:1-13.

– O salvo deve ser tão imparcial quanto seu Senhor.

I – RECEBEMOS A FÉ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO  

– Na sequência do estudo da epístola universal de Tiago, passaremos a estudar o início do capítulo dois, quando o irmão do Senhor volta a falar a respeito da acepção de pessoas, que deve ser evitada por todo e qualquer servo de Cristo Jesus.

– Depois de ter mostrado que a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai envolve o cumprimento do mandamento de Cristo, ou seja, que devemos nos amar uns aos outros como Jesus nos amou, o que representa, a um só tempo, amar a Deus e amar ao próximo, Tiago revela uma peculiaridade que deve nortear a expressão da fé que temos em Jesus: a não acepção de pessoas.

– Com efeito, o irmão do Senhor pede aos “irmãos” que não tivessem a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas (Tg.2:1).

– Por primeiro, é importante aqui verificar que, mais uma vez em sua epístola, Tiago chama os demais servos do Senhor de “irmãos”. É este o tratamento que Tiago dá aos destinatários da sua carta, desde o início, quando, ao se dirigir a eles, pela vez primeira, chama-os de “meus irmãos” (Tg.1:2).

– Tiago tem, assim, plena consciência de que o salvo na pessoa de Cristo é “filho de Deus” e que, portanto, tem a Deus como Pai, como o próprio Tiago deixa bem claro ao longo de sua epístola, denominando Deus de “Pai das luzes” (Tg.1:17) e dizendo que a nossa religião nos liga a “Deus, o Pai” (Tg.1:27).

– Ora, se cada salvo é “filho de Deus” (Jo.1:12) e temos todos o mesmo Pai, tem-se a lógica e inevitável conclusão de que todos somos “irmãos”, sendo, pois, esta a qualificação que se deve dar a todos quantos pertencem ao corpo de Cristo, à igreja do Senhor Jesus. – Desde o início de sua carta, portanto, Tiago se apresenta sob duplo aspecto: como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg.1:1) e como irmão dos demais salvos (Tg.1:2). É esta a verdadeira perspectiva que devemos ter em nossa vida cristã enquanto estivermos nesta peregrinação terrena: servo de Deus e irmão dos salvos.

– Tal perspectiva tem se perdido ao longo dos anos entre muitos que cristãos se dizem ser. Jamais devemos perder de vista que, diante de Deus, somos servos, ou seja, não temos vontade própria, não nos incumbe fazer outra coisa senão obedecer ao que o Senhor nos manda fazer, devemos estar prontos não só a obedecer-Lhe mas a prestar-Lhe contas.

3º Trimestre de 2014 – FÉ E OBRAS – Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica

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– Simultaneamente, temos de ter consciência de que somos irmãos dos demais que creram em Cristo Jesus como Senhor e Salvador e, deste modo, devemos nos comportar com relação aos demais salvos com amor, com espírito familiar, procurando nos unir a eles e ajudá-los, de forma que todos nós consigamos chegar ao encontro do Senhor naquele dia.

– É extremamente honroso sermos irmãos dos demais salvos, pois isto revela que temos uma condição extremamente privilegiada, uma posição que não merecíamos, já que esta filiação divina, que nos faz irmãos dos demais salvos, é uma manifestação da graça de Deus, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4).

– Como se isto fosse pouco, temos a constatação que o único que poderia se envergonhar desta condição, visto que, para Se fazer nosso irmão, passou por um processo singular de humilhação (Fp.2:5-8), não o faz, mas, antes, como afirma o escritor aos hebreus, não Se envergonha de Se chamar nosso irmão, a saber, o Senhor Jesus Cristo (Hb.2:11).

– Por isso, causa-nos muita estranheza que, nos últimos anos, tenha se perdido, entre nós, o salutar costume de nos chamarmos irmãos, independentemente da função eclesiástica que se exercia. Era muito comum, em nossa infância e adolescência, chamarmos de “irmãos” indistintamente a todos os salvos, não importando que função a pessoa exercesse na casa do Senhor. Assim, aliás, eram chamados os principais líderes de nossa denominação. Hoje em dia, entretanto, já há aqueles que, se forem chamados de “irmãos” em vez de “pastores”, “presbíteros”, “presidentes” etc. se ofendem e, pior do que isto, são tidos como tendo razão por parte de boa parte dos “irmãos”. Voltemos à Bíblia, amados irmãos!  

– É, ainda, muito elucidativo que Tiago se dirija aos salvos como “irmãos”. Ele era o meio-irmão mais velho de Jesus, pois, todas as vezes que o texto sagrado menciona os meio-irmãos de Cristo, Tiago é sempre o primeiro da lista (Mt.13:55; Mc.6:3). Assim, Tiago que tinha um parentesco biológico com o Senhor Jesus, ao chamar os demais salvos de “irmãos”, mostra, claramente, que se considerava um igual com os demais, não levando em conta a sua condição biológica.

– Ao chamar os demais salvos de “irmãos” (e lembramos que Tiago se dirige às “doze tribos dispersas”, o que, conforme vimos no início do trimestre, tratava-se de uma expressão que abarcava toda a Igreja), Tiago como que está a demonstrar, na prática, que fazia aquilo que estaria a ensinar os demais cristãos, ou seja, a que não tivesse a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo em acepção de pessoas.

– Mas, além de chamar os demais salvos de irmãos, Tiago nos revela que todos os salvos tinham a fé de nosso Senhor Jesus Cristo. Vemos aqui, uma vez mais, que não há qualquer contradição entre Tiago e Paulo. O irmão do Senhor parte do pressuposto de que, para ser filho de Deus, é preciso ter “a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo”, exatamente como o apóstolo dos gentios afirma em várias passagens, notadamente na sua carta aos romanos.

– Paulo, ao se dirigir aos crentes de Roma, inicia dizendo que dava graças a Deus porque, em todo o mundo, era anunciada a fé deles (Rm.1:8), o que, aliás, também menciona com relação aos crentes de Tessalônica, para quem escreveu a sua primeira carta (I Ts.1:8).

– Trata-se, portanto, de uma nota característica de todo salvo em Cristo Jesus a demonstração da sua fé, fé esta que não é propriamente nossa, mas que provém de Cristo, daí porque ser chamada de “fé de Nosso Senhor Jesus Cristo” por Tiago. Esta fé não provém de nós mesmos, mas é um dom de Deus (Ef.2:8), algo que nos advém pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17).

– Bem se vê, portanto, que está fé de que está a falar Tiago não é o “pensamento positivo”, a “determinação” que os falsos pregadores da teologia da confissão positiva vêm alardeando por aí, pois não resulta da nossa vontade, não é fruto de nossos desejos e caprichos, mas, sim, algo que provém de Deus, algo que provém da Sua Palavra que, em nós, produz vida.

– Esta fé, embora provenha de Deus, não é exercida no homem de forma automática, como se nós fôssemos meros robôs, meros receptáculos inertes. O Senhor trata o homem com dignidade, deu-lhe o livre-arbítrio e, deste modo, embora recebamos a fé, que não nasce de nós mesmos, deve ela ser exercida e desenvolvida por nós, através de nossa comunhão com o Senhor, de nossa submissão a Ele.

– Por isso, Tiago, ao se referir a ela, diz que ela é a “fé de Nosso Senhor Jesus Cristo”, enfatizando, aqui, mais uma vez, uma das facetas do cristão, a saber: a de servo de Jesus Cristo. Se o Senhor não Se envergonha de nos chamar irmãos, nós também não devemos nos envergonhar de sermos chamados Seus servos e não só sermos assim chamados, mas vivermos como tal.

– Não basta termos recebido a fé pelo ouvir pela Palavra de Deus, faz-se necessário que nos disponhamos a obedecer a Cristo, tê-lo como nosso Senhor, o que significa renunciar a nós mesmos e aceitarmos o Seu jugo, que é suave e o Seu fardo, que é leve (Mt.11:30). Não é possível seguirmos a Cristo se não o termos como Senhor, se não nos rendermos totalmente a Ele e à Sua vontade (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). Temos esta consciência?

– Este nosso Senhor não é qualquer um, mas o Senhor da glória, ou seja, Aquele que, tendo vindo da glória do Pai (Jo.3:13; Fp.2:6), para lá voltou depois de ter vencido o mundo (Jo.16:33). Por isso, a fé que vem d’Ele é capaz de também nos dar a vitória sobre o mundo (I Jo.5:4). – Somente teremos uma fé genuína e autêntica se nos fizermos servos de Cristo, se Ele for o Nosso Senhor, o Senhor da glória. Não é por outro motivo, aliás, que Paulo diz que não mais vivia, mas Cristo nele vivia e a vida que agora tinha era “a vida na fé do Filho de Deus” (Gl.2:20).

– Não há como sermos efetivamente salvos se não passarmos a viver “na fé do Filho de Deus”, ou seja, se não nos dispusermos a sermos obedientes a Cristo e a fazer-Lhe a vontade, renunciando a nós mesmos, não tendo mais qualquer vontade própria, mas, considerando que Cristo nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, também nos entregarmos a nós mesmos a Ele. Que bênção será sempre procedermos deste modo, pois, assim fazendo, sempre estaremos demonstrando nossa fé, e, por conseguinte, agradando a Deus (Hb.11:6).

– Quem tem fé em Cristo, quem recebe esta fé do próprio Senhor Jesus, vive neste mundo não só como servo d’Ele, mas também, como irmão dos demais salvos, exatamente como fazia Tiago que, por viver deste modo, podia ensinar os demais cristãos a procederem de igual maneira.

– Assim, devemos ter a consciência de que esta fé que nos vem d’Ele é uma fé que nos garante a vitória, vitória esta, entretanto, que não é algo que venha até nós sem que passemos por tribulações, lutas e tentações, já que por tudo isto passou o nosso Senhor quando aqui esteve para nos salvar. Não há vitória sem luta e esta luta diária, cotidiana é uma constante na vida do salvo.

II – A FÉ NÃO PODE SER EXERCIDA COM ACEPÇÃO DE PESSOAS 

– Por sermos, a um só tempo, irmãos dos salvos e servos de Cristo, que é o nosso Senhor, o Senhor da glória, é absolutamente indispensável que vivamos esta fé de forma imparcial, sem ter qualquer acepção de pessoas.

– Esta fé que vem de Cristo, por ser proveniente do próprio Deus, é uma fé que tem a mesma característica do Senhor, ou seja, deve ser exercida de modo imparcial, sem acepção de pessoas, pois Deus é um ser que não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; 16:19; II Cr.19:7; Jó 34:19; Is.47:3; At.10:34; Rm.2:11; Ef.6:9; Cl.3:25; I Pe.1:17).

– “Acepção de pessoas”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “escolha, predileção por alguém; inclinação, tendência em favor de pessoa(s) por sua classe social, privilégios, títulos etc.”. Trata- se de um comportamento próprio do ser humano no pecado, pois a tendência dos homens é, dentro de seu egocentrismo, procurar sempre tratar melhor aqueles que lhes podem dar mais vantagens.

– Deus, porém, a todos trata igualmente, não fazendo qualquer predileção por este ou aquele ser humano, pois o Senhor é imparcial e a todos ama igualmente, pois quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4), a ponto de ter vindo ao mundo para ser a propiciação pelo pecado de todos (Jo.3:16; I Jo.2:2).

– Deus é o Senhor, está acima do ser humano, que é Sua criação, e, por isso, não leva em conta o homem pelo que este é ou aparenta ser entre os seus semelhantes. Deus conhece a estrutura do homem, sabe que fomos feitos do pó da terra (Sl.103:14), de sorte que reconhece que o homem é menos do que nada, algo que, sem o Senhor, é algo vão, ou seja, vazio (Is.40:17). Por isso, Deus não dá valor a coisa alguma que o homem aqui construir por sua própria conta, tratando-os a todos igualmente, dentro da insignificância de cada indivíduo diante d’Ele.

– O homem, em si mesmo, nada é, ou antes, é menos do que nada, por isso não pode se vangloriar por causa de posição social, situação econômico-financeira, erudição intelectual ou posse de alguma forma de poder na sociedade onde vive. Devemos nos lembrar que tudo isto nada representa diante de Deus e que tudo que venhamos a obter ou ter neste mundo é absolutamente passageiro e ilusório.

– Quando passamos a ter a fé do nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, temos de ter esta mesma visão que tem o Senhor a respeito do ser humano. Por isso mesmo, não podemos esboçar qualquer predileção por um em detrimento de outro por causa daquilo que alguém tenha ou deixe de ter, pois a nossa visão é a mesma do Senhor, ou seja, de que todo homem é menos do que nada se não tiver comunhão com Deus, que ele depende integralmente do seu Criador.

– Tiago já nos mostrara que as provações igualam a todos os homens e que um dos efeitos benéficos da provação é nos fazer ver que tanto pobres quanto ricos devem se submeter ao Senhor e não se prender às coisas desta vida (Tg.1:9-11).

– Ao pobre, Tiago recomendara que aguardasse a sua exaltação, que se dará, como já vimos, no dia do arrebatamento da Igreja, enquanto ao rico, o irmão do Senhor já dissera que deveria entender que a sua posição privilegiada e vantajosa de que desfruta nesta vida debaixo do sol é absolutamente passageira, secar- se-á como a flor da erva, razão pela qual deveria contemplar aquilo que lhe aguarda e que é muito mais precioso.

– Pois bem, agora, a todos os irmãos, Tiago faz questão de dizer que devemos ter também esta mesma consciência, lembrando que temos a fé de nosso Senhor Jesus Cristo e que, portanto, devemos seguir-Lhe as pisadas, não agindo com acepção de pessoas.

– Deus não age com acepção de pessoas porque, por primeiro, é um Deus grande, poderoso e terrível. Por estar infinitamente acima do homem, que sabe que é pó, o Senhor não poderia, mesmo, ter “respeito” para com a vaidade humana, não poderia Se curvar às coisas efêmeras criadas pelos homens e que produzem, entre eles, a predileção, a parcialidade. Como diz o apóstolo Paulo, Deus está no céu e, por isso, com Ele não há acepção de pessoas (Ef.6:9).

OBS: O Catecismo Romano, aliás, fazia questão de demonstrar que um dos motivos pelos quais Jesus subiu aos céus é para nos mostrar que o Seu reino não é deste mundo e que, portanto, não podemos senão concluir que o Senhor está acima de nós e que as coisas desta vida nada podem valer para nós: “Subiu, em segundo lugar, para demonstrar-nos ‘que Seu reino não é deste mundo’ (Jo.18:35,36).

Os reinos da terra são temporais e perecíveis, e só podem se suster com abundância de riquezas e com o poder das armas; o reino de Cristo, ao contrário, é espiritual e eterno, não terreno nem carnal, como esperavam os judeus. Colocando seu trono nos céus, Jesus nos ensina que Seus tesouros e Seus bens são espirituais e que, em Seu reino, os mais ricos  e possuidores de bens serão quem mais tiverem se dedicado a buscar as coisas de Deus.

Escutai, caríssimos irmãos  nos disse o apóstolo São Tiago — não escolheu Deus aos pobres segundo o mundo para enriquecê-los na fé e fazê-los herdeiros do reino que tem prometido aos que O amam: (Tg.2:5)…” (Catecismo Romano, n. 1060. Cit. Tg.2:1-5. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun, 2014) (traduçãonossa de texto em espanhol).

– As palavras utilizadas no hebraico e que são traduzidas por “acepção de pessoas” indicam precisamente um “respeito”, uma “consideração” por uma posição, por uma situação vivenciada por alguém. Deus, por ser grande, poderoso e terrível, não poderia, mesmo, ceder a coisas tão pequenas, tão banais que são criadas pelos homens, homens estes imersos no pecado, do qual são escravos (Jo.8:34).

OBS: Em Dt.10:17, a palavra traduzida por “acepção de pessoas” é “nasa’”(נשא), cujo significado é o de “aceitar” no sentido de “carregar”, “ser servo”, tanto que a palavra também tem o significado de “pajem de armas”, ou seja, aquele que está a serviço de alguém, algo que é totalmente incompatível com a grandeza e a condição de senhorio de nosso Deus.

– Deus também não faz acepção de pessoas, porque é impossível que Ele faça injustiça. A acepção de pessoas sempre promove a injustiça, porque se será parcial, se tomará partido em virtude da existência de uma posição social favorável da parte daquele que será beneficiado, se se considerar os predicados daquele que, em respeito a consideração puramente humanas e sociais, levar vantagem por conta destas qualificações.

 Por isso mesmo, o Senhor determinou que os juízes em Israel jamais procedessem com acepção de pessoas, porque, assim fazendo, haveria perversão da justiça (Dt.16:19). OBS: Em Dt.16:19, a palavra traduzida por “acepção de pessoas” é “nakar” (נכך), que significa “reconhecimento”, “fingimento em relação a outro”, “consideração”. Deus não poderia mesmo fingir, dissimular em prol de uns em detrimento de outros, pois Ele é a verdade.

– Deus não faz acepção de pessoas, porque n’Ele não há iniquidade, não há injustiça. A acepção de pessoas é fruto da iniquidade, da injustiça, ou seja, é fruto do pecado, pois todo pecado e iniquidade (I Jo.3:4). Por isso mesmo, aquele que foi santificado em Cristo Jesus, que foi separado do pecado pelo Senhor, não pode fazer acepção de pessoas.

 OBS: “…é evidente que a acepção de pessoas se opõe à justiça distributiva enquanto se faz contra a proporção devida. E como o que se opõe à virtude é pecado, concluímos que a acepção de pessoas é pecado…” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica II-II-q.63, a.1. n. 1262. Cit. Tg.2:1-5. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Deus não faz acepção de pessoas e, por isso, a Seu tempo, castiga aqueles que forem impenitentes, demonstrando toda a Sua ira para com aqueles que recusam obedecer-Lhe, executando a Sua vingança (Is.47:3).

– Se Deus, que é o nosso Pai, não faz acepção de pessoas, também não podemos fazê-la, sob pena de não estarmos dando mostra de que somos, efetivamente, Seus filhos, participante de Sua natureza (II Pe.1:4).

– Por isso, Tiago afirma que não se pode privilegiar o rico em detrimento do pobre quando, nos ajuntamentos, entrar um homem com anel de ouro no dedo, com vestidos preciosos e, ao mesmo tempo, entrar um pobre com sórdido vestido e, em virtude da aparência do rico, for este privilegiado, dando-se-lhe assento de honra, enquanto que ao pobre se mande ficar em pé ou que se assente debaixo do estrado (Tg.2:2,3).

– Tais palavras de Tiago, por primeiro, revelam-nos que a igreja se reunia para adorar a Deus, para cultuá- l’O, sendo, portanto, uma falácia a afirmação de que não deve haver locais para que os crentes se reúnam, que isto seria uma atitude “pagã” por parte dos cristãos dos dias de hoje. A igreja se reunia para adorar a Deus, havia, sim, locais para isto, ainda que, nos tempos em que Tiago escreveu esta carta, tais locais não pudessem ser oficializados, seja pela perseguição dos judeus, seja pela própria perseguição romana, pois somente mais tarde o Império Romano permitiu a edificação de templos cristãos.

– Por segundo, Tiago também nos dá conta de que as reuniões dos cristãos eram abertas a todos quantos delas quisessem participar. Não havia “reuniões secretas”, pois tudo quanto é feito em nome de Deus deve ser claro e transparente. Além do mais, estamos a anunciar o Evangelho a toda criatura, de modo que devemos permitir que todos quantos queiram venham ouvir a Palavra de Deus em nossas reuniões.

– Por terceiro, este acesso é livre e irrestrito, tanto que Tiago diz que tanto vinham a ele o rico como o pobre. Tem sido motivo de estranheza a atitude que muitos têm tomado, ultimamente, com relação aos locais de reunião dos salvos em Cristo Jesus. Muitos têm procurado criar ambientes extremamente sofisticados, luxuosos até, e isto tem afugentado muitas pessoas simples e humildes de nossas reuniões, o que, à evidência, pelo que nos diz Tiago, não é uma conduta que se espere daqueles que servem ao Senhor Jesus.

– Não se está aqui defendendo que não se construam locais agradáveis, dotados de conforto, pois é, mesmo, necessário que a pessoa se sinta bem física e psicologicamente quando vem adorar o Senhor. O que se está a dizer é que o luxo, a sofisticação, que nada tem que ver com conforto, não pode assumir níveis e dimensões que acabem gerando um acanhamento e um natural distanciamento daqueles que são mais simples e humildes e que, conforme já vimos em lição anterior, e Tiago o repetirá nesta passagem que estamos a estudar, são mais propensos a aceitar o Evangelho.

– Por quarto, vemos que Tiago mostra que, no acolhimento das pessoas que vêm ao local de reunião, devemos agir com imparcialidade, não privilegiando o rico, entendido aqui não só o que tem posição econômico-financeira privilegiada mas todos quantos gozem de posição vantajosa na sociedade humana, em detrimento do pobre.

– Todos devem ser acolhidos com imparcialidade, de igual modo, ou seja, todos devem ser recebidos como portadores de uma alma preciosíssima, que vale mais que o mundo inteiro (Sl.49:8) e pela qual o Senhor Jesus morreu na cruz do Calvário.

– Não podemos nos deixar levar pela aparência, pelo anel de ouro no dedo, pelos vestidos preciosos, nem pelo sórdido vestido do pobre. Jesus nos proibiu terminantemente de julgar segundo a aparência (Jo.7:24).

– No entanto, tal é a realidade que se encontra na esmagadora maioria de nossas igrejas locais, onde, infelizmente, a acepção de pessoas é a regra, com a concessão de todos os privilégios aos ricos, aos que aparentam ter posição social, poder político, fama e outros predicados próprios da vaidade humana, enquanto os que nada têm são marginalizados e desconsiderados.

– A igreja é um povo diferente, com peculiaridades próprias, que a distingue tanto dos judeus, quanto dos gentios (I Co.10:32). O Senhor foi bem claro ao mostrar que, nesta nação santa, a mentalidade é outra, oposta a dos demais homens, onde a lógica não é a do poder, mas, sim, a do serviço (Mc.10:42-45).

– Em sendo assim, não podemos, no acolhimento daqueles que vêm às nossas reuniões, proceder com a mesma mentalidade mundana, privilegiando um em detrimento do outro, pois, se assim fizermos, não estaremos a mostrar que somos diferentes dos outros. Este comportamento sem distinção de classe, posição social, aliás, era um dos elementos que levou o Império Romano a admirar os cristãos nos primeiros séculos da Igreja, como nos dão conta vários escritos dos chamados “pais da Igreja”, ou seja, os cristãos dos primeiros séculos que se notabilizaram por seus ensinos e pregações.

– Se, já na recepção daqueles que vêm às nossas reuniões, comportarmo-nos como qualquer outra pessoa se comporta na sociedade, privilegiando uns em relação a outros, como poderemos testificar que Jesus transforma? Como poderemos dizer que o mundo está no maligno e que temos de nos separar dele para chegarmos aos céus? Como poderemos dizer que os pecadores precisam se arrepender, ou seja, mudar de mentalidade, se estamos a usar da mesma mentalidade deles?

– Tiago diz que um tratamento desta natureza, que julga pela aparência, que faz distinção entre seres humanos, é demonstrativo de que somos juízes de maus pensamentos, resultado de uma distinção realizada dentro de nós mesmos (Tg.2:4).

– Aqui, o irmão do Senhor revela-nos que uma atitude externa tomada por nós é resultado de uma situação interna, de algo que se encontra no interior de nossa alma, de algo que se acha no homem interior. Por isso, mais uma vez, vemos que não há qualquer desencontro entre o que diz o apóstolo Paulo e o que diz Tiago.

– O tratamento honroso ao rico com anel de dedo no ouro e vestidos preciosos e o menosprezo ou desprezo para com o pobre de sórdido vestido reflete um mau pensamento que existe no interior daquele que tomou tais atitudes, é uma distinção que se faz não em função de regras sociais, mas, sim, que faz aflorar um valor existente no interior do homem, valor este que contraria a vontade do Senhor.

– Quando privilegiamos o rico em detrimento do pobre, revelamos que, em nosso interior, não temos a visão de Deus a respeito do homem, que não estamos a fazer-Lhe a vontade, mas, sim, que temos a prevalência do “ego”, da carne em nossas vidas. Fazemos bem ao rico porque queremos ter vantagem com isso, porque consideramos como valiosas as coisas desta vida, porque damos prioridade às coisas deste mundo, damos valor ao homem, não como criatura amada de Deus, mas como um ser que não depende de Deus.

OBS: “… A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso humano, tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande tentação: perturbada a ordem de valores e misturado o bem com o mal, os homens e os grupos consideram apenas o que é seu, esquecendo o dos outros. Deixa assim o mundo de ser um lugar de verdadeira fraternidade, enquanto que o acrescido dos homens ameaça já destruir o próprio gênero humano.…” (Constituição pastoral Gaudium et Spes, n.37. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Cit. Tg.2:1-5, apud n. 60909).

– Eliú, aquele amigo de Jó que acompanhou os mais velhos que ele, cujo discurso não foi explicitamente condenado pelo Senhor, pediu a Deus que não acepção de pessoas, nem usasse de lisonjas com o homem (Jó 32:2), tendo, também, lembrado Jó que o Senhor não estima o rico mais do que o pobre, porque todos são obras de Suas mãos (Jó 34:19)..

– Ora, se assim é, quando privilegiamos o rico em detrimento do pobre, é porque estamos a fazer lisonjas com o homem, ou seja, reconhecendo que o homem tem valor em si, independente de Deus, o que é simplesmente acatar a mentira satânica de que o homem pode viver sem Deus, pode igualar-se a Ele (Gn.3:4,5).

– A acepção de pessoas, portanto, é a tradução em atos de um mau pensamento, de um pensamento de que se pode viver sem Deus, de que se pode construir uma existência independente do Senhor, que é exatamente o contrário do que disse o Senhor Jesus, que é discurso contrário ao da integral dependência de Deus que, conforme já visto, é uma das características da vida cristã sobre a face da Terra.

– Por isso, diz Tiago que quem assim procede, fazendo acepção de pessoas, está a proferir um mau pensamento, a ter um juízo equivocado, contrário ao que nos ensina a Palavra de Deus, ao que nos revela o Senhor em Sua Palavra.

– O homem foi dotado por Deus de razão e, por isso, pode pensar e, ao pensar, realiza, sim, julgamentos e juízos. É importante que isto se diga aqui, porque muitos dizem que o homem não pode julgar, que Deus teria proibido todo e qualquer julgamento, procurando basear tal afirmação em Mt.7:1.

– No entanto, a partir do momento que Deus deu ao homem a capacidade de pensar e raciocinar, é impossível que o homem não faça julgamentos, pois o julgar é um dos momentos do pensamento, como ensina a lógica. O que se proíbe, portanto, não é o julgar, mas, sim, o julgar conforme a aparência. Nós temos de ter a mente de Cristo (I Co.2:16) e, por isso, devemos pensar como o Senhor, ou seja, segundo a reta justiça (Jo.7:24).

– E, se pensarmos segundo a reta justiça, não faremos acepção de pessoas, porquanto, a exemplo do Senhor, veremos em cada ser humano algo que não tem valor em si, que depende do seu Criador, sem o qual nada poderá fazer (Jo.15:5). Desta maneira, se o homem depende de Deus, somente terá valor se se chegar a Ele, de modo que não poderemos senão ter uma atitude de amor incondicional a este ser humano, querendo levá-lo ao Senhor para que ele seja devidamente valorizado, não por si, pois é apenas um vaso de barro, mas pela excelência que nele habitará (II Co.4:7).

III – RICOS E POBRES AOS OLHOS DOS HOMENS E AOS OLHOS DE DEUS 

– Tiago, então, vai mostrar como é distinta a visão que os homens têm dos ricos e dos pobres com a visão que o mesmo Deus tem de cada um destes, para nos mostrar como devemos abandonar, por completo, a mentalidade mundana, abraçando a imparcialidade que provém do Senhor.

– Por primeiro, o irmão do Senhor faz questão de dizer que Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam (Tg.2:5). Mas, tal escolha não seria, precisamente, uma acepção de pessoas, exatamente o que temos dito Deus não fazer?

– Devemos, realmente, ter cuidado ao verificarmos esta afirmação de Tiago que é uma das bases da doutrina da “opção preferencial pelos pobres”, que foi adotada pela Igreja Romana.

– Segundo esta doutrina, o Senhor deu preferência aos pobres em detrimento dos ricos, apresentando-lhes a salvação mais do que àqueles. Afinal de contas, não foi o próprio Jesus, que Se fez pobre (II Co.8:9), que disse que havia vindo para evangelizar os pobres (Lc.4:18)?

OBS: “…A pobreza do Cristo é essencial uma liberação, um convite a um caminho novo e superior, no qual os bens do espírito, e não os terrestres, têm o primado; que para uns — os discípulos perfeitos (Cf. Mc.10:21) — torna-se exclusivo, para os outros, hierarquizado (cf. Mt.6:33 – buscai sobre todas as coisas); é a melhor condição para entrar no reino de Deus (cf. Mt.5:3); é a iniciação, não à miséria, não à aparência, não à incompreensão do mundo que sofre e trabalha, que constrói e progride, mas ao amor. Para amar, é preciso dar; para dar, é preciso ser livre do egoísmo, é preciso ter a coragem da pobreza.…” (PAULO VI. Audiência n. 58, 1968. Cit. De Tg. 2:1-5. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– No entanto, devemos aqui observar que, quando o texto sagrado fala dos pobres, não está se dirigindo àqueles que não tem condições econômico-financeiras, mas, sim, àqueles que descobrem que devem viver na integral dependência de Deus, que são “pobres de espírito”, que é, aliás, a primeira característica que deve ter o discípulo de Jesus Cristo, consoante observamos no sermão do monte (Mt.5:3).

– Como disse o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, em discurso que proferiu em sua primeira viagem ao Brasil, na favela do Vidigal, “…Os pobres em espírito são aqueles que são mais abertos a Deus e às ‘maravilhas de Deus’ (At.2,11). Pobres porque prontos a aceitar sempre aquele dom do alto, que provém do próprio Deus. Pobres em espírito – aqueles que vivem na consciência de ter recebido tudo das mãos de Deus como um dom gratuito, e que dão valor a cada bem recebido. Constantemente agradecidos, repetem sem cessar: ‘Tudo é graça!’, ‘demos graças ao Senhor nosso Deus’…(JOÃO PAULO II. Discurso aos moradores da favela do Vidigal. 2 jul. 1990. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1980/july/documents/hf_jp- ii_spe_19800702_vidigal-brasile_po.html Acesso em 10 jun. 2014). OBS: O mesmo ex-chefe da Igreja Romana disse em 2000: “…No Reino entram aqueles que optaram pelas Bem-aventuranças Evangélicas, vivendo como “pobres em espírito” no desapego dos bens materiais, a fim de elevar os últimos da terra da poeira da sua humilhação.

 “Não foi Deus que escolheu os que são pobres aos olhos do mundo, para os tornar ricos na fé e herdeiros do Reino, que Ele prometeu àqueles que O amam?” (Tg.2:5).…” (JOÃO PAULO II. Audiência de 6 dez. 2000. n. 88. Cit. Tg.2:1-5. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun. 2014).

– Portanto, aos olhos de Deus, pobre é aquele que se abre ao Senhor, que reconhece a sua total dependência d’Ele e que, por isso mesmo, jamais faz coisa alguma a não ser que tenha a aquiescência de seu Senhor e Criador. É por isso que Davi, mesmo sendo alguém que tinha todas as condições de ser chamado de “rico” aos olhos dos homens, reconhece-se como um “pobre e necessitado” (Sl.40:17).

– É verdade, como já se disse em lição anterior, que aquele que é pobre materialmente, que se encontra marginalizado e desprezado pela sociedade humana, tem maior facilidade em aceitar o Evangelho do que o rico, porque tem um obstáculo a menos a enfrentar nesta atitude de aceitação, porquanto o rico é iludido pela vanglória deste mundo e, assim sendo, tem de primeiro reconhecer que tudo quanto tem de vantagem sobre a face da Terra é ilusório e passageiro, algo que o pobre não tem de enfrentar, pois o menosprezo e desprezo que sofre nesta vida já demonstram a ele que este mundo é vão e maligno.

– De qualquer modo, Tiago diz que Deus escolheu os pobres deste mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam, ou seja, quem depende de Deus, que aceita depender de Deus, será enriquecido na fé, nesta fé que provém do próprio Deus, de modo a poder vencer o mundo e se tomar posse da herança que se lhe promete, que é a herança do reino de Deus, reino de Deus que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).

– Enquanto nós vemos o anel de ouro no dedo e os vestidos preciosos do rico, bem como o sórdido vestido do pobre, Deus tem uma visão totalmente diferente: Ele vê pessoas abertas a servi-l’O, a depender d’Ele, bem como pessoas dispostas a recusar-Lhe lugar em suas vidas. Aos que aceitam depender de Deus, negar-se a si mesmos pelo Senhor, o Senhor concederá fé e condições para que eles tomem posse de uma herança, a herança do reino de Deus, que somente se fará por quem amar o Senhor, ou seja, fizer o que Ele manda (Jo.14:21; 15:14).

Como diz Agostinho: “…Assim, então, em os escolher, Ele os fez ao mesmo tempo ricos na fé e herdeiros de Seu reino. Eles os escolheu para operar neles aquilo que faz o caráter de Seus escolhidos…” (Da predestinação dos santos, capítulo XVII, n.34.  Cit. Tg.2:1-5. n.1035. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun. 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– A “opção preferencial pelos pobres” confunde as duas visões. Vê apenas um Evangelho que se encarregará de tornar os pobres em pessoas ricas, em pessoas que angariarão posses neste mundo, mediante uma transformação social que retire a injustiça do mundo. Entretanto, o propósito de Deus não é construir um Paraíso aqui na terra, mas, sim, fazer com que este pobre, este dependente de Deus, enriqueça-se na fé, a ponto de vencer este mundo e, assim, chegar a desfrutar do reino de Deus, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

– Assim como a “opção preferencial pelos pobres” assume uma conotação materialista, uma visão completamente distinta da de Deus, de igual forma os defensores da chamada “teologia da prosperidade” cometem o mesmo equívoco.  Embora estes não defendam como os “teólogos da libertação”, que desenvolveram esta doutrina da “opção preferencial pelos pobres”, uma alteração social baseada em “revoluções” ou “transformações sociais”, de igual maneira estão presos a uma visão materialista da pobreza e da riqueza.

– Para os teólogos da prosperidade, Jesus vai enriquecer os pobres, a partir do momento em que estes pobres crerem n’Ele. Tal enriquecimento, porém, é material, eles deixarão de ter os sórdidos vestidos, para terem anel de ouro no dedo e vestidos preciosos. Entretanto, não é isto que nos ensina Tiago. Pelo contrário, o irmão do Senhor é claro ao dizer que Deus escolheu os pobres para que eles sejam “ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu as que O amam”.

– Os escolhidos de Deus não devem, assim, ter qualquer esperança nas coisas desta vida, mas, sim, saber que foram escolhidos pelo Senhor para usufruir do reino que lhes foi prometido, para viverem em justiça, paz e alegria no Espírito Santo, enriquecendo sempre na fé, confiando mais e mais no Senhor, o que é possível mediante as múltiplas experiências que nos são trazidas através das tribulações e da paciência delas decorrente, pois é a paciência que produz a experiência e tal experiência produz em nós uma esperança, que não traz confusão (Rm.5:3-5).

– Enquanto os homens veem apenas a aparência e se prendem às posições e situações criadas pela sociedade injusta onde vivem, o Senhor vê muito além, vê pessoas que, independentemente de sua posição social, resolvem depender d’Ele, ser-Lhe servos, reconhecer Seu senhorio e, deste modo, credenciarem-se para viver para sempre com o Senhor na dimensão eterna, esta que é verdadeira e que nunca passará. Qual tem sido a nossa visão, amados irmãos?

– Tiago mostra, ainda, uma circunstância facilmente observável entre os homens, para demonstrar como somos tolos ao agir consoante a mentalidade mundana e, assim, fazer acepção de pessoas.

– O irmão do Senhor manda-nos verificar que, ao mesmo tempo em que desonramos o pobre e privilegiamos o rico, é este que vai aos tribunais para levar vantagem sobre nós, é este que não tem dó nem piedade e, desta maneira, procura sempre nos oprimir, embora estejamos a adulá-lo e a lisonjeá-lo.

– Os ricos, exatamente por terem uma posição vantajosa e serem sempre privilegiados no tratamento diante da mentalidade mundana que domina a nossa sociedade, não titubeiam em conseguir cada vez mais bens, prestígio e poder.

A desigualdade tende sempre a aumentar entre os homens, exatamente porque, em sendo cercado de privilégios e lisonjas, os ricos cada vez mais procurarão oprimir os pobres e, para tanto, fazem uso de toda uma máquina judiciária que, existindo para fazer justiça, quase sempre beneficia o rico em detrimento do pobre.

– É com muita tristeza que temos visto um tal comportamento por parte das lideranças da Igreja. Insistem em adular e em lisonjear os poderosos, sendo-lhe servis muitas vezes, em troca de uma ou outra migalha, vantagem passageira e efêmera (e que, muitas vezes, é para proveito dos próprios líderes e não da Igreja…) e, enquanto isso, os poderosos, ímpios que são, vão moldando a sociedade a seus princípios anticristãos, aumentando ainda mais em poder para, ao término deste seu projeto, simplesmente impedir que a Igreja cumpra o seu papel na Terra.

– A história da Igreja está aí para provar que toda vez que os que cristãos se dizem ser se curvaram aos ricos, aos poderosos, aceitaram a mentalidade mundana da distinção, da parcialidade, não só não tiveram vantagem alguma em honrar o poderoso em detrimento daqueles que nada tinham, mas acabaram sendo perseguidos e não raras vezes eliminados por estes mesmos poderosos que foram adulados e lisonjeados.

– Aqueles que têm posições de mando e de privilégio nas sociedades humanas e que não se converteram ao Senhor são pessoas que estão iludidas com a mentira satânica da autossuficiência, que acham que não precisam de Deus, já que vivem regaladamente sobre a face da Terra e, por isso mesmo, como diz o irmão do Senhor, são os primeiros a blasfemar de Deus, numa atitude que totalmente oposta a de um servo do Senhor. Não são porventura os magnatas que estarão ao lado do Anticristo na Grande Tribulação (Ap.18:9-11)? Como, então, podemos querer aliança e comunhão com essa gente? Pensemos nisto!

– Como diz o Catecismo da Igreja Romana: “A blasfêmia opõe-se diretamente ao segundo mandamento {na verdade, o terceiro mandamento – observação nossa]. Consiste em proferir contra Deus – interior ou exteriormente – palavras de ódio, de censura, de desafio; dizer mal de Deus; faltar-Lhe ao respeito nas conversas; abusar do nome d’Ele. São Tiago reprova aqueles «que blasfemam o bom nome [de Jesus] que sobre eles foi invocado» (Tg.2:7).

A proibição da blasfêmia estende-se às palavras contra a Igreja de Cristo, contra os santos, contra as coisas sagradas. É também blasfematório recorrer ao nome de Deus para justificar práticas criminosas, reduzir povos à escravidão, torturar ou condenar à morte. O abuso do nome de Deus para cometer um crime provoca a rejeição da religião” (§ 2148 CIC). Não é isto precisamente o que fazem os poderosos segundo os homens?

– A visão da Igreja com relação a pobres e ricos deve ser a mesma visão do seu Senhor, ou seja, devemos agir com imparcialidade, sem privilegiar nem estes, nem aqueles, sabendo que todos são dotados de uma alma cujo resgate custou o mesmo preço: o preço do sangue de Cristo e, desta maneira, procurar apenas levá- los ao encontro do Senhor, independentemente de sua posição social, fazendo-os entender que Deus quer que todos se façam pobres, no sentido de serem dependentes de Deus e que assim vivam, procurando enriquecer na fé para que possam tomar posse da herança do reino de Deus, que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

IV – CUMPRINDO A LEI REAL

– Não podemos fazer acepção de pessoas, pois somos participantes da natureza divina, que não faz acepção de pessoas. Como, então, devemos nos relacionar com os demais homens? Qual será o critério pelo qual nos devemos relacionar com o próximo?

– Tiago bem responde a esta questão, informando-nos que devemos cumprir a “lei real”, lei esta que nada mais é que “amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Tg.2:8).

– Esta “lei real” é a “lei de Cristo” (I Co.9:21; Gl.6:2), uma “nova Torá”. “…A ‘lei de Cristo’ é a liberdade — este é o paradoxo da mensagem da Carta aos Gálatas. Esta liberdade tem, portanto, conteúdos, tem uma direção e é o oposto daquilo que, apenas de um modo aparente, liberta os homens, mas que na verdade os escraviza. A ‘Torá do Messias’ é totalmente nova, diferente, mas justamente assim é que ‘cumpre’ a Torá de Moisés.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré – primeira parte: do batismo no Jordão à transfiguração, p.99).

– “…Mas, como é que se apresenta agora esta Torá do Messias? Logo no princípio, aparece, por assim dizer, como epígrafe e chave de interpretação uma palavra surpreendente, que apresenta de um modo perfeitamente claro a fidelidade de Deus a Si mesmo e a fidelidade de Jesus à fé de Israel: ‘Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim revogá-la, mas completá-la. Porque na verdade vos digo: até que passem o céu e a terra não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra(…). Não se trata, portanto, de abolir, mas sim de cumprir, e este cumprimento exige mais, e não menos, justiça, como diz Jesus…” (BENTO XVI, op.cit., pp.100-101).

– Tiago chama de “lei real” aquela que foi trazida pelo Senhor Jesus, uma lei que não se limitava ao exterior, à aparência, mas que se apresentava como uma real obediência a Deus, que partisse do espírito, passasse pela alma e chegasse ao corpo, uma lei que refletia uma comunhão perfeita com Deus, mediante a retirada dos pecados pelo sangue de Cristo Jesus.

– Quando cremos verdadeira e genuinamente em Cristo Jesus, quando passamos a amá-l’O, guardamos as Suas Palavras e as Suas Palavras são a “lei real”, segundo a qual nós não só amamos a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento, mas também amamos ao próximo como a nós mesmos, pois passamos a amar uns aos outros, como Jesus nos amou.

– Esta lei real não permite que privilegiemos alguém em detrimento de outrem, porque cumprimos a lei real, vendo no outro o nosso próximo, independentemente de quem seja ele, se tem, ou não, posição; se é, ou não, vantajoso o amarmos; se tem, ou não, condição de nos recompensar.

– Quando ensinou o que era o amor ao próximo, o Senhor Jesus nos deu a parábola do bom samaritano (Lc.10:25-37), onde se mostra, com absoluta clareza, que o próximo é aquele que não vê no outro senão a imagem e semelhança de Deus. O samaritano tinha todos os motivos sociais e culturais para negar ajuda àquele homem meio-morto à beira daquela perigosa estrada que ia de Jerusalém para Jericó, mas, ao ver aquela situação, tudo fez para restaurar aquele homem, pois viu nele um próximo.

– É esta a postura que deve ter todo aquele que se fez súdito do reino de Deus e que, portanto, é guiado pela “lei real”. A lei real exige o cumprimento desde o coração, exige pensamentos que não sejam maus, exige um coração purificado da má consciência, um ser limpo pela Palavra de Deus e não apenas uma aparência exterior, com o que se contentavam os fariseus e a própria lei mosaica. Por isso, no sermão do monte, o Senhor Jesus disse que nossa justiça tem de exceder a dos escribas e dos fariseus, se quisermos entrar no reino dos céus (Mt.5:20).

– Quem faz acepção de pessoas é um pecador (Tg.2:9), porque está a transgredir a lei real, a lei de Cristo. Assim como qualquer que transgredisse a lei de Moisés em um só ponto, era considerado transgressor da lei, assim também quem fizer acepção de pessoas, estará a transgredir a lei de Cristo e será um transgressor e, como tal, se não se arrepender, estará irremediavelmente perdido.

– Vejamos a gravidade e seriedade deste assunto, amados irmãos. Quem comete acepção de pessoas torna-se um pecador, comete pecado e, como tal, tem destinado para si a morte eterna. Temos tido esta consciência? Pensemos nisto, amados irmãos! 

– Ao sabermos que estamos debaixo da lei de Cristo, uma lei que envolve todo o homem desde o seu interior, temos de ter consciência de que nosso agir deve ser de acordo com o nosso falar. Não podemos ser hipócritas, não podemos falar uma coisa e dizer outra, como era comum ocorrer entre os escribas e fariseus (Mt.23:2,3).

– A lei mosaica havia sido equivocadamente tomada pelos escribas e fariseus como uma norma de aparência, como sendo um mandamento que se resumia ao mundo exterior, à exterioridade. Não era assim que Deus a havia tratado, tanto que o próprio Moisés insistiu na necessidade da circuncisão do coração (Dt.10:16), pronunciamento que seria repetido pelo profeta Jeremias (Jr.4:4), mas era assim que o povo havia tomado tais estatutos e juízos.

– Na lei de Cristo, porém, não temos como agir desta maneira, pois o próprio fato de a termos aceitado se dá pela compreensão de que precisamos nos modificar desde o interior, visto que não recebemos a lei de Cristo de longe, como os israelitas (Ex.20:18,19), mas, sim, por meio do ingresso da Palavra de Deus em nós e, com ela, da fé que provém do Senhor, sendo, pois, indesculpáveis diante do Senhor.

– Sendo assim, não temos outro comportamento a tomar senão o de viver aquilo que pregamos, viver aquilo que ensinamos, viver aquilo que dizemos professar. Esta é a lei da liberdade, a lei que nos permite dizer não ao pecado e, assim sendo, não pecarmos e não nos constituirmos em escravos dele (Jo.8:34).

– A lei da liberdade permite-nos dizer não ao pecado e nos manter cumprindo a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17) e cujo conhecimento nos dá o livramento, a libertação (Jo.8:32). Enquanto estivermos a cumprir a Palavra do Senhor, manter-nos-emos livres, em condição de, com autoridade, pregarmos esta Palavra e levarmos vida para as pessoas.

– Nesta lei da liberdade, ficamos ao abrigo do sangue de Cristo, estamos descansando no esconderijo do Altíssimo (Sl.91:1), andamos na luz e temos comunhão uns com os outros (I Jo.1:7). Enquanto praticarmos a verdade, nossas obras são manifestas e feitas em Deus, de sorte que a ira do Senhor não nos sobrevém (Jo.3:36).

– No entanto, se nos fizermos transgressores desta lei da liberdade, cometendo pecado, teremos contra nós a ira de Deus e o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia (Tg.2:13).

– A lei de Cristo é a lei da graça e da misericórdia, porque ela somente se instala em nós porque Deus nos dá aquilo que não merecemos (graça) e não nos dá aquilo que merecemos (misericórdia). Por isso, a misericórdia triunfa do juízo, porquanto a morte vicária de Cristo impede que sejamos castigados pelo nosso pecado. Mas, se desprezarmos a obra salvífica do Senhor, a situação será de completa desgraça, porquanto estaremos irremediavelmente perdidos. OBS: “…Lá onde a misericórdia triunfa do juízo, não são os méritos que se devem procurar, mas a graça…” (AGOSTINHO. Contra Juliano II, Livro VI, n.12. Cit. Tg.2:6-9. n. 6012. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 10 jun, 2014) (tradução nossa de texto em francês).

– Como disse o escritor aos hebreus: “quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos Aquele que disse: Minha é a vingança, Eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: o Senhor julgará o Seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb.11:28- 31).

– Por isso, amados irmãos, não adotemos a mentalidade mundana, fazendo acepção de pessoas, mas consideremos o outro, independentemente de sua condição social, como um próximo, alguém a ser amado, a ser respeitado pela sua natureza de imagem e semelhança de Deus, sem lisonjas, sem considerações de ordem humana, sem levar em conta a aparência e, assim procedendo, estaremos, sem dúvida, dando um passo decisivo rumo ao céu. Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L6_caramuru.pdf

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