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    APÊNDICE Nº 2 – O CERCO DE SAMARIA E AS UNÇÕES DE HAZAEL E JEÚ


    Nos episódios do cerco de Samaria e das unções de Hazael e de Jeú, confirma-se que Eliseu deu continuidade ao ministério de Elias
    Texto áureo: “Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte de Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro e se prostraram diante dele em terra.” (II Rs.2:15)
    INTRODUÇÃO
    – Em complemento ao estudo dos ministérios dos profetas Elias e Eliseu, estudaremos três episódios do ministério de Eliseu, a saber: o cerco de Samaria e as unções de Hazael e de Jeú.
    – Estes episódios confirmam que Eliseu deu continuidade ao ministério de Elias.
    I – O CERCO DE SAMARIA
    – No estudo dos ministérios dos profetas Elias e Eliseu, que temos tido neste trimestre, alguns episódios, ante a exiguidade de tempo e de espaço, não foram diretamente estudados nas lições, motivo por que resolvemos fazer estudos à parte, em apêndices.
    – Com relação ao profeta Eliseu, três episódios narrados nas Escrituras não foram diretamente relatados nas lições, a saber: o cerco de Samaria e as unções de Hazael e de Jeú, temas que abordaremos, ainda que de forma sucinta, neste apêndice.
    – Síria e Israel viviam, nos dias de Elias e de Eliseu, em constantes conflitos. Havia uma luta entre estes dois reinos pelo controle da região setentrional da Palestina. Ainda nos dias de Acabe, Bene-Hadade efetuou uma guerra contra Israel, guerra que foi vencida pelo rei Acabe que, todavia, contra a vontade do Senhor, perdoou o rei da Síria, deixando-o retornar para seu país (I Rs.20).
    – Pouco tempo depois, o próprio rei Acabe resolveu retomar algumas cidades israelitas que estavam sob o domínio da Síria, guerra em que acabou por morrer (I Rs.22). Com a morte de Acabe e a derrota de Israel para os siros, o reino da Síria se fortaleceu, levando Bene-Hadade a ter a ambição de dominar todo o Israel.
    – Deflagrada a guerra contra Israel, o rei da Síria foi surpreendido pelas revelações que Deus deu a Eliseu, o qual informava o rei de Israel a respeito dos movimentos militares dos siros, a ponto de Bene-Hadade achar que havia traidores no meio de seu exército. Um de seus servos, porém, informou-lhes que tudo quanto planejava era revelado ao profeta Eliseu, que o informava ao rei de Israel (II Rs.6:8-12).
    – Bene-Hadade, então, mandou que fossem até Dotã, onde Eliseu estava morando na época, para que ele fosse preso e, assim, não pudesse dar as informações ao rei de Israel, ocasião em que Eliseu, conforme vimos na lição 11, efetuou dois de seus milagres, uma vez que cegou os soldados siros, conduzindo-os até Samaria, onde lhes devolveu a visão, impedindo, porém, que o rei de Israel viesse a matá-los. Por causa do tratamento dado aos soldados da Síria e seu retorno em paz até Damasco (capital da Síria), foi restabelecida a paz entre Israel e Síria (II Rs.6:14-23).
    – No entanto, não durou muito esta paz. Bene-Hadade reuniu novo exército e subiu e cercou a Samaria (II Rs.6:24). Sem dúvida alguma, esta situação belicosa era permitida por Deus para mostrar a Jorão, então o rei de Israel, a soberania divina e a ilusão que representava Baal e seu culto.
     Devemos lembrar que, apesar de tudo o que fora feito por Elias, o culto a Baal permanecia e Jezabel, mãe de Jorão, continuava dando as ordens no reino, que se encontrava enfraquecido por causa das guerras não só contra a Síria, mas também contra Moabe, que havia se rebelado com a morte de Acabe.
    – A própria situação da Síria era resultado da desobediência de Acabe que, ajudado que fora por um profeta no conflito com Bene-Hadade, em vez de ter matado aquele rei, que se levantara contra a soberania divina, o havia poupado, “criando uma verdadeira cobra”, como popularmente se diz.
    – Bene-Hadade era, neste ponto, muito semelhante a Acabe e ao filho deste, Acazias. Tratava-se de uma pessoa soberba, que, mesmo diante das maravilhas demonstradas pelo Senhor, mantinha-se com o coração duro, inflexível, não aceitando, de forma alguma, que o Deus de Israel era o único e verdadeiro Deus.
    – Assim, mesmo depois da cura do comandante de seu exército Naamã, bem como das revelações dadas a Deus ao profeta Eliseu e, por fim, o episódio da cegueira e do retorno da vista de todos os seus melhores soldados, que foram poupados em Samaria, o rei ainda se mantinha irredutível e querendo tomar Israel.
    – Bene-Hadade não teve dificuldades para chegar até a capital de Israel, Samaria, e de cercá-la. O resultado deste cerco foi que passou a haver grande fome na cidade, a ponto de, pela escassez de alimentos, uma cabeça de jumento ser vendida por oitenta peças de prata (o que correspondia a 960 gramas de prata, o que, representaria, em 15 de janeiro de 2013, pela cotação da prata, em R$ 2.053,12 aproximadamente) e a quarta parte de um cabo de esterco de pombas por cinco peças de prata (o que correspondia a 60 g de prata, equivalente a R$ 128,32 em 15 de janeiro de 2013), o que representaria uma “caneca” de esterco de pomba, que era usada como alimento para os animais, mas que agora era disputado pelos seres humanos.
    OBS: A Bíblia de Jerusalém contesta a tradução de “esterco de pomba”, dizendo que, na verdade, a palavra hebraica aqui mencionada seria outra, que significa “cebola selvagem”.
    – Toda aquela situação era permitida por Deus para que o povo de Israel entendesse que não era Baal o deus da prosperidade. Samaria tinha um templo de Baal que fora mantido intocado tanto por Acazias quanto por Jorão e o Senhor estava a demonstrar que Ele era o único e verdadeiro Deus. De igual modo, com aquela situação, o Senhor mostrava que Acabe havia desobedecido ao Senhor quando poupara Bene-Hadade e que nunca a nação poderia contrariar a vontade divina.
    – Em meio àquela situação tão triste e desesperadora, uma mulher foi ao encontro de Jorão e lhe pediu que a acudisse. Jorão, então, dentro de uma de suas características que já temos estudado ao longo do trimestre, que era a de se desesperar com facilidade, disse à mulher que se o Senhor não a acudia, como poderia ele fazê-lo, em mais uma demonstração que via o Senhor como um Deus vingativo, um Deus de juízo (II Rs.6:26,27).
    – A mulher, indiferente a esta reação do monarca, expôs-lhe a sua história. Confessou que havia matado o seu filho e o comido com uma outra mulher, com a promessa de que, no dia seguinte, o filho daqueloutra mulher seria morto e igualmente comido por elas. Entretanto, no outro dia, a mulher escondeu o seu filho, “não cumprindo o trato”, motivo por que a mulher pedia que o rei interviesse naquela demanda (II Rs.6:28,29).
    – Ao ouvir aquele relato macabro, o rei Jorão, como era de se esperar, desesperou-se, rasgou os seus vestidos, tendo, então, passado pelo muro da cidade, com as pessoas vendo que, por debaixo de suas vestes, trazia ele cilício por dentro, sobre a sua carne, uma nítida atitude de autoflagelo, de humilhação para que aquela situação se revertesse.
    – Nesta atitude de Jorão, vemos que o rei procurava copiar o seu pai Acabe que, por ter se humilhado e se vestido de saco, tinha conseguido postergar para depois de sua morte a destruição de sua dinastia (cfr. I Rs.21:27-29). Jorão, assim, diante daquela situação aflitiva, entendendo que o Senhor era o responsável por aquele quadro, iniciara uma atitude de humilhação para conseguir o favor divino e o livramento de seus inimigos.
    – Jorão, no entanto, não enfrentava a razão pela qual o Senhor estava a permitir aquele cerco e o predomínio da Síria sobre Israel, que era a manutenção do culto a Baal, do culto alternativo ao Senhor por intermédio dos bezerros de ouro, ou seja, a idolatria que imperava em Israel. Jorão achava que simplesmente se humilhando diante do Senhor, como fizera seu pai, teria os benefícios do Senhor, mesmo sem abandonar a sua vida pecaminosa.
    – Muitos se comportam como Jorão em nossos dias, achando que uma piedade externa, uma vida de sacrifícios pode fazer com que o Senhor traga o favor pretendido, traga a bênção desejada, sem que, para tanto, as pessoas tenham de se render ao Senhor e passar a obedecer à Sua Palavra. Humilham-se, sacrificam-se para obter os benefícios de Deus, mas não querem se submeter a Deus, não querem tornar-se Seus servos. Quantos não agem desta maneira em nossos dias?
    – Entretanto, tal atitude não pode ser aceita pelo Senhor. Continua tão vivo hoje quanto no dia em que foi proferida a palavra de Samuel a Saul de que melhor é obedecer do que sacrificar (I Sm.15:22), algo que seria repetido, anos depois, pelo rei Davi no Salmo 51, quando, ao confessar o seu pecado, repetiu que Deus quer, como sacrifícios, o espírito quebrantado, um coração quebrantado e contrito (Sl.50:16,17).
    – O Senhor é o único Deus e, por isso, Ele não precisa de favores dos homens. Ao contrário das falsas divindades daqueles dias, que precisavam ser “agradadas” para que trouxessem benefícios aos seus adoradores, o Senhor é soberano. Ele quer ter a companhia do homem, quer abençoar o homem, mas não depende de favores humanos para dar a Sua bênção. Precisamos aprender isto, amados irmãos, em dias de apostasia em que as pessoas acham que por fazerem sacrifícios receberão bênçãos de Deus independentemente de terem um espírito e coração quebrantados e contritos.
    – Jorão trazia um cilício por dentro, sobre a sua carne, ou seja, vestia, por debaixo de suas vestes reais, uma túnica de crina, para fazer penitência, para fazer mortificação. Acabe vestiu-se de saco quando se humilhou diante de Deus, tendo sido talvez esta a inspiração de Jorão. No entanto, se estava a fazer este “sacrifício” para obter o favor divino, seu coração estava endurecido. Tanto assim é que, ao saber da história daquelas mulheres, ele lança uma sentença de morte contra Eliseu : “…Assim me faça Deus, e outro tanto, se a cabeça de Eliseu, filho de Safate, hoje ficar sobre ele” (II Rs.6:31).
    – Esta declaração de Jorão mostra como o sacrifício que estava a fazer era totalmente vão e não tinha qualquer valor, porquanto, ainda que demonstrasse uma suposta humilhação diante do Senhor, reconhecendo que Ele era o causador daquela aflição, nutria ódio contra o principal profeta de Deus naqueles dias. Tinha Eliseu como um inimigo, o que, naturalmente, mostrava que, interiormente, não servia a Deus nem tinha por Deus qualquer temor.
    – Os estudiosos divergem quanto a este motivo do ódio que o rei nutria por Eliseu. Uns entendem que fora Eliseu quem teria encorajado o rei a resistir a Bene-Hadade e, portanto, diante desta situação, o rei entendeu que Eliseu era o responsável pelo cerco. Outros entendem que, como Eliseu não havia permitido que Jorão matasse os soldados que ele havia levado até Samaria, deixando-os ir em paz, ele era o responsável pela atual situação, já que aquele gesto tinha estimulado os sírios a fazer nova guerra contra Israel.
    – De qualquer modo, o fato é que Jorão não via no seu pecado e no pecado do povo a causa de toda aquela calamidade, preferindo culpar o homem de Deus, até porque a visão que Jorão tinha de Deus era de que o Senhor era vingativo e estava a proporcionar o mal a ele e a Israel (cfr. II Rs.3:10).
    – Jorão mandou, então, que Eliseu fosse preso para ser executado. Eliseu encontrava-se com os anciãos em sua casa e o Senhor lhe avisou que vinham para aprisioná-lo, motivo por que o profeta pediu, antes que os mensageiros do rei chegassem, que a porta da casa fosse fechada e o mensageiro impedido de entrar na casa, tudo como chamariz para que o rei, em pessoa, viesse tentar prendê-lo (II Rs.6:32).
    – Eliseu, nesta oportunidade, dirigiu-se ao rei Jorão como “filho do homicida”, mostrando, assim, aos anciãos de Israel, a verdadeira índole do rei de Israel. Com esta afirmação, certamente inspirada pelo Espírito Santo, o profeta denunciava a falsidade da religiosidade do monarca, como também a própria rejeição de sua humilhação por parte do Senhor, algo diferente do que ocorrera com Acabe, que, realmente, havia se humilhado diante de Deus.
    – Ao chamar Jorão de “filho do homicida”, Eliseu mostra-nos, em primeiro lugar, que Jorão mantinha a mesma linha de seu pai, sendo infiel ao Senhor. Eliseu também trazia à memória dos anciãos a profecia de Elias a respeito da destruição da dinastia de Onri, por causa do assassinato de Nabote, a “gota d´água” que trouxera a sentença divina para o fim daquela família real. Jorão mantinha a mesma índole assassina contra os justos, os servos do Senhor presente tanto em Acabe quanto em Jezabel. Não tinha havido arrependimento por parte do rei e, por isso, a sentença divina não tardaria a se cumprir.
    – Ao chamar Jorão de “filho do homicida”, Eliseu também nos indica uma realidade espiritual que seria plenamente revelada pelo Senhor Jesus, que nos ensinou que o inimigo de nossas almas é homicida desde o princípio (Jo.8:44) e que, quando nos recusamos a servir a Deus, como era o caso de Jorão, tornamo-nos seus filhos. Quem, pois, busca apenas os benefícios de Deus, através de barganhas e sacrifícios, sem quebrantar o seu coração, não passa de um “filho do diabo”, como, aliás, afirma o apóstolo João (I Jo.3:8-10). Qual é a nossa filiação?
    – Apesar de uma certa dubiedade do texto, entendemos que o próprio rei veio ao encontro do profeta, depois que o mensageiro foi impedido de entrar e, ao chegar, deu o seu veredito a respeito de toda aquela situação: “Eis que este mal vem do Senhor, que, mais, pois, esperaria do Senhor?” (II Rs.6:33). Jorão revela aqui toda a sua incredulidade e desespero, via em Deus apenas um algoz, um vingador, sem condição alguma de ajudar a Israel.
    – Contra esta incredulidade do rei, o profeta Eliseu, então, profere uma palavra profética, segundo a qual, em vinte e quatro horas, uma medida de farinha, ou seja, entre 7 e 14 quilos de farinha, bem como duas medidas de cevada, ou seja, entre 14 e 28 quilos de cevada, seriam vendidos por um siclo de prata (ou seja, 12 g de prata, valor correspondente a R$ 26,12 em valores de 15 de janeiro de 2013 pela cotação da prata) (II Rs.7:1).
    – Um capitão da guarda real, que acompanhara o rei até a casa do profeta, mostrou toda a sua incredulidade, dizendo a Eliseu que mesmo que o Senhor abrisse as janelas do céu, aquilo jamais poderia acontecer. O profeta, então, disse ao capitão que ele veria a profecia se realizar, mas não desfrutaria da bênção de Deus (II Rs.7:2).
    – E foi exatamente o que ocorreu, pois uns homens leprosos, diante daquela situação aflitiva, resolveram se entregar aos sírios. Se fossem mortos pelos inimigos, entendiam eles, estavam apenas a abreviar a morte, já que quase estavam a morrer de fome e se fossem aceitos, teriam com que se alimentar. Quando estes leprosos chegaram ao local onde estavam os sírios, viram apenas os alimentos e os bens dos soldados, pois eles haviam partido rapidamente porque o Senhor fizera os sírios ouvir um ruído de carros e de cavalos e entenderam que se tratava de exércitos contratados por Israel para fazer-lhe guerra (II Rs.7:3-8).
    – Após terem se alimentado, os quatro leprosos vieram avisar o povo em Samaria do que havia acontecido, o que foi verificado pelo exército israelita que, ao constatar que realmente os sírios haviam fugido, deram a notícia em Samaria. O povo, então, desordenadamente, no desespero próprio dos famintos, saiu da cidade para ir buscar alimento no acampamento deixado pelos sírios e aquele capitão do rei, que fora designado para guardar a porta da cidade, acabou morrendo pisoteado (II Rs.7:10-20).
    – A palavra de Eliseu, portanto, cumpriu-se fielmente, pois, em vinte e quatro horas, uma medida de farinha e duas medidas de cevada foram vendidas ao preço de um siclo e o capitão do rei, embora soube disto, não desfrutou da bênção, pois morreu pisoteado.
    – Eliseu, portanto, mostrava cabalmente a Jorão que Deus não era vingador, cruel para com o povo de Israel, mas era o verdadeiro responsável pelo sustento da nação, a quem amava. Também mostrava que era ele, Eliseu, um homem de Deus, o profeta do único e verdadeiro Deus. Também se mostrava quem era o verdadeiro responsável pelas aflições e tribulações vividas por Israel, a saber, a casa de Acabe com a sua idolatria e dureza de cerviz.
    – Eliseu dava, assim, continuidade ao ministério do profeta Elias, confrontando o único e verdadeiro Deus diante da casa de Acabe e reafirmando que esta família real, por seus pecados, seria destruída.
    II – A UNÇÃO DE HAZAEL
    – Depois de ter reafirmado as palavras de Elias a respeito da casa de Acabe no episódio do cerco de Samaria, Eliseu é mandado pelo Senhor para Damasco, a capital da Síria. Assim como Elias, Eliseu ia para uma terra estrangeira a fim de cumprir a palavra do Senhor.
    – Eliseu mostra toda a sua confiança em Deus. Assim como Elias tinha ido a Sarepta de Sidom, em plena terra de Etbaal, pai de Jezabel, para ali mostrar que Deus era Deus não só de Israel mas também Deus de todas as nações, Eliseu é mandado para Damasco, a capital do principal inimigo de Israel daquele tempo, para também mostrar que Deus era Deus da Síria e não apenas de Israel.
    – Entretanto, não nos esqueçamos, o rei da Síria quisera prender e matar o profeta Eliseu, tanto que mandou soldados para prendê-lo em Dotã (II Rs.6:13). Como se não bastasse isso, Bene-Hadade tivera frustrado seu plano de tomar Samaria e, certamente, ficou a saber que o profeta Eliseu havia profetizado a vitória de Israel sobre o seu exército. Como, então, poderia Eliseu ir a Damasco sem risco de vida? No entanto, como homem plenamente dirigido pelo Espírito Santo, Eliseu não temeu e foi para Damasco como determinado por Deus. Temos também esta confiança, amados irmãos? Será que estamos dispostos a servir a Deus não tendo a nossa vida como preciosa, a exemplo do apóstolo Paulo (At.20:24)? É de gente assim que o Senhor está a chamar nestes dias de apostasia!
    – Eliseu vai a Damasco porque teria ali de cumprir mais um ponto do ministério do profeta Elias. No monte Horebe, o Senhor havia dito a Elias que ele deveria ungir a Hazael como rei da Síria (I Rs.19:15). Entretanto, o profeta, em vez de ir para o deserto de Damasco, como dissera o Senhor, foi diretamente para Abel-Meolá, a terra de Eliseu, a fim de ungi-lo como seu sucessor.
    – Havia, pois, necessidade de que o trabalho que o Senhor dera a Elias fosse realizado. Elias bem compreendera que não era ele a única pessoa que exerceria este ministério da restauração espiritual de Israel, mas que tal ministério prosseguiria através de Eliseu. E o Senhor, então, mandou que Eliseu fosse até Damasco para ali fazer aquilo que Deus tinha determinado, ou seja, a unção de Hazael como rei da Síria.
    – Quando Eliseu chega a Damasco, fica a saber que Bene-Hadade estava doente. Sua chegada foi logo notada pelos sírios, que foram avisar o rei de que Eliseu estava lá. É interessante notar que, ao chegar a Damasco, a notícia foi de que “o homem de Deus é chegado aqui” (II Ts.8:7 “in fine”).
    – Eliseu era mais respeitado na Síria do que em Israel! Enquanto Jorão, durante o cerco de Samaria, quis matar o profeta, na própria terra do inimigo, em Damasco, Eliseu foi tratado como “homem de Deus”. Os sírios estavam a reconhecer a soberania divina sobre todas as nações, lição que Israel ainda não tinha aprendido…
    – Em nossos dias, não tem sido diferente. Muitos incrédulos estão a reconhecer a soberania divina, embora não O sirvam, enquanto que pessoas que cristãs se dizem ser não apresentam o menor temor, a menor reverência pelo Senhor, continuando a endurecer seus corações, apesar das múltiplas manifestações de poder e senhorio que Deus tem realizado. Será que temos tido discernimento espiritual?
    – Eliseu foi reconhecido como “o homem de Deus”, porque tinha um testemunho e uma vida exemplar tanto diante dos israelitas quanto dos sírios. Será que podemos ter este mesmo reconhecimento daqueles que estão à nossa volta? Temos dado bom testemunho? Podemos ser chamados de “homens de Deus”, de “mulheres de Deus” nos locais que frequentamos? Pensemos nisto!
    – Quando Bene-Hadade soube da notícia, mandou que Hazael, seu assessor, levasse um presente ao profeta e perguntasse pela sua saúde. O rei da Síria, que tanto havia duvidado de Deus ao longo do seu reinado, queria receber de Deus uma resposta se sobreviveria à doença, ou não. Temos aqui mais um exemplo de alguém que não se rende a Deus, que não O serve mas quer desfrutar de Seus benefícios.
    – Hazael foi então ao encontro de Eliseu, com quarenta camelos carregados de tudo que de bom havia em Damasco, a fim de perguntar ao profeta se o rei sararia, ou não. O profeta, então, traz a mensagem de Deus para o rei da Síria, dizendo que ele morreria, que ele não sararia (II Rs.8:9,10).
    – Entretanto, Eliseu olhou detidamente para Hazael, até o ponto de Hazael se sentir constrangido e envergonhado, começando, então, a chorar. Hazael, então, perguntou ao profeta porque ele estava chorando e Eliseu, então, disse que chorava porque sabia o mal que ele faria a Israel, pondo fogo às fortalezas, matando os mancebos à espada, despedaçando os meninos e fendendo as grávidas.
    – Hazael, então, perguntou a Eliseu como ele haveria de fazer tudo aquilo se era apenas um cão, ou seja, uma pessoa sem qualquer expressão, tendo, então, Eliseu dito a Hazael que o Senhor lhe mostrava que ele, Hazael, seria o rei da Síria.
    – Com esta palavra, Eliseu estava a ungir Hazael como rei da Síria. Por se tratar de um rei gentio, não havia o ritual da unção com óleo, mas o fato é que, uma vez sabendo de Eliseu que ele havia sido constituído por Deus como rei da Síria, Hazael não titubeou e “tomou posse da bênção”. Voltou ao palácio, disse a Bene-Hadade que o profeta dissera que ele sararia e, no outro dia, matou Bene-Hadade, tomando o trono (II Rs.8:12-15).
    – Eliseu retornou, então, de Damasco, tendo dado continuidade ao ministério de Elias, ungindo, assim, o novo rei da Síria. Bene-Hadade era morto, sem ter tido acesso à Palavra de Deus, porque endurecera o seu coração por diversas vezes, sendo, pois, o primeiro impenitente que se opusera ao ministério de Elias que sucumbia, que perecia.
    III – A UNÇÃO DE JEÚ
    – No monte Horebe, o Senhor havia também dito a Elias que ele deveria ungir a Jeú, filho de Ninsi como o novo rei de Israel (I Rs.19:16). Deus não somente anunciava a destruição da dinastia de Onri, também conhecida como “casa de Acabe”, como também dizia quem iria reinar em lugar daquela família, voltando, assim, aos tempos primitivos do reino do norte, escolhendo o rei e mandando ungi-lo, como havia feito com Jeroboão (I Rs.11:29-39). Era, pois, a promessa de um reinício, de um recomeço da monarquia segundo a vontade do Senhor.
    – Elias também não ungiu pessoalmente a Jeú. Pelo contrário, após a morte de Acabe, Acazias, seu filho, reinou em seu lugar e, após a morte de Acazias, seu irmão Jorão assumira o trono, tudo parecendo indicar que a casa de Acabe permaneceria, tendo, inclusive, a rainha Jezabel como a “eminência parda”, a real dominadora do reino.
    – Entretanto, depois de ter ungido Hazael como rei da Síria, o profeta Eliseu dá continuidade ao ministério de Elias. Chamou um dos filhos dos profetas e o mandou ir até Ramote de Gileade e ali deveria ungir a Jeú, então um general do rei Jorão, como novo rei de Israel.
    – Eliseu não foi pessoalmente realizar a tarefa, ciente de que o ministério que estava a desenvolver não era tão somente o ministério de Elias, mas deveria ter continuidade depois do próprio Eliseu. A restauração espiritual independia da pessoa do profeta, era um ministério que teria de prosseguir mesmo após a morte do homem de Deus. Com efeito, como vimos na lição 9 deste trimestre, o ministério dado a Elias somente teria seu cabal cumprimento em Cristo Jesus, que restauraria espiritualmente não só Israel mas toda a humanidade.
    – Eliseu mandava um filho do profeta para fazer a unção, mas determina como o filho do profeta deveria proceder. Deveria ir ao encontro de Jeú, que estaria com seus irmãos, levá-lo-ia até uma câmara interior e derramaria azeite sobre sua cabeça, ungindo-o como rei de Israel, devendo, em seguir, sair imediatamente daquele local, sem falar com ninguém (I Rs.9:1-3). O filho do profeta, portanto, era apenas um “instrumento” do profeta Eliseu, devendo fazer tudo conforme determinado pelo profeta, para que ficasse patente que era Eliseu quem estava a ungir, ainda que pelas mãos do filho do profeta, assim como um oficial de justiça que, ao realizar um ato, está, na verdade, tão somente executando a ordem de um juiz, sendo apenas um “instrumento” do juiz naquela ação.
    – De igual modo, Eliseu estava apenas sendo um “instrumento” de Elias, cumprindo, assim, uma determinação dada pelo Senhor a Elias e que, na qualidade de seu sucessor, estava fielmente cumprindo. Vemos, portanto, que, neste passo, era efetivamente, em última instância, Elias quem estava a ungir Jeú, pois tudo se realizava “no espírito e virtude de Elias”.
    – Não há, portanto, ao contrário do que dizem alguns críticos da Bíblia Sagrada, qualquer contradição no fato de não ter sido a pessoa de Elias quem ungiu seja a Hazael, seja a Jeú, pois quando ocorre de Eliseu ter ungido a Hazael e um filho de profeta mandado por Eliseu ter ungido a Jeú, estamos tão somente vendo a veracidade da palavra divina a Elias, no monte Horebe, de que, ao contrário do que ele pensava, a obra de Deus não necessitava da pessoa única e solitária de Elias, mas seria realizada apesar da falta de Elias sobre a face da Terra.
    – O filho do profeta fez exatamente como Eliseu lhe ordenou e, no momento da unção, tomado pelo Espírito Santo, proferiu uma palavra profética, reafirmando a profecia de Elias com relação à destruição da casa de Acabe e da morte de Jezabel, como também determinando que Jeú fizesse cumprir todas aquelas palavras (II Rs.9:4-10).
    – Após a fuga do filho do profeta, que foi tido como um louco pelos que estavam com Jeú em Ramote de Gileade, Jeú, num primeiro instante, quis esconder o que ouvira do profeta aos seus companheiros, mas, ante a insistência deles, acabou por revelar-lhes a palavra profética e todos creram naquela palavra e aclamaram Jeú como rei.
    – Tais fatos ocorreram quando Hazael, já rei da Síria, estava em guerra com Israel, sendo que Jorão havia cercado Ramote de Gileade para tomá-la dos sírios. Em meio a este cerco, Jorão havia se ferido e retornado até seu palácio em Jizreel, para se tratar. Jeú, que estava no campo de batalha, após ter sido aclamado como rei, foi a Jizreel e ali matou a toda a casa de Acabe, inclusive Jezabel e o rei de Judá, Acazias, que tinha ido visitar a Jorão (II Rs.9:14-10:14).
    – Como se não bastasse, Jeú também pôs fim ao culto de Baal, destruindo o templo que havia sido construído em Samaria, como também matando a todos os sacerdotes, profetas e adoradores de Baal que havia na capital de Israel (II Rs.10:15-28). Cumpria-se, assim, fielmente a profecia de Elias a respeito da destruição da casa de Acabe e Israel se livrava do culto a Baal.
    – Jeú, porém, não se apartou dos pecados de Jeroboão. Embora tenha extirpado o culto a Baal de Israel, não removeu o culto alternativo dos bezerros de ouro que fora instituído por Jeroboão. O resultado disto foi que o Senhor permitiu que Hazael, rei da Síria, tomasse parte do território de Israel, conforme, inclusive, havia sido profetizado por Eliseu. Diante disto, também, o Senhor levantou um profeta para dizer ao rei Jeú que a sua família reinaria até a quarta geração, tendo em vista a obediência de Jeú com relação à retirada do culto de Baal de Israel (II Rs.10:16-36).
    – Eliseu contemplou, então, com seus próprios olhos o cumprimento das profecias de Elias, mas logo percebeu que o ministério de restauração espiritual de Israel teria de ter continuidade. Eliseu viveu durante todo o reinado de Jeú, que foi de 28 anos (II Rs.10:36), como também durante todo o reinado do filho de Jeú, chamado Jeoacaz, que reino 17 anos (II Rs.13:1), vindo a falecer somente no reinado de Jeoás, o terceiro rei da dinastia de Jeú (II Rs.13:9), onde ocorreram os episódios que são estudados na lição 13 deste trimestre.
    Colaboração para o portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco